Dezesseis

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Ao chegar em casa, me jogo na cama e pareço dormir por cerca de horas, mas o álcool navegava sem percurso por minhas veias. Coloco todo o líquido colorido para fora durante a madrugada, com a ajuda de Leonardo que esteve colocando os dedos em minha garganta para isto. Me sento inútil e chateado - não exatamente pelo fato da ajuda, e sim por precisar de ajuda.

Bufo.

Sento-me na beira da cama, esfrego os olhos e sinto o colchão afundar levemente ao meu lado.

"Você deveria ir descansar, cara." Dizemos em uníssono. Sorrio sem mostrar os dentes, vendo-o pender a cabeça para o lado. Ofereço o ombro, e ele encaixa o a mesma na curva em meu pescoço. Desta vez sorrio pela cócega que o seu cabelo faz.

"Eu deveria. Mas alguém mal se aguentava de pé até uns segundos atrás. Então é bom ficar de olho." Diz de forma lenta, mas com aquele velho tom sarcástico.

"Oh não, não jogue isto na minha cara!" Digo, agradecendo aos deuses sobre ele não estar vendo minha cara agora.

"Tarde de mais, baby."

Penso se deveria ou não perguntar sobre a situação toda à caminho da boate ou sobre o seu desvio de caminho após encontrarmos Helena. Decido que nenhuma das duas perguntas seria feita. Mesmo que me corroesse de curiosidade, estava com vergonha, nervoso. Fui um idiota, ele não me deve satisfações.

"Pergunte." Ele diz. Não respondo, sem entender o que ele quis dizer. "Sei que quer me perguntar alguma coisa quando mexe os dedos assim. Ou dizer algo. É uma fusão. Vá. Pergunte-me." Apenas... Uau.

"Como pode?" Ele levanta a cabeça e faz uma expressão de desaprovo. "Ok, ok. Porque você mudou de caminho antes de chegarmos na boate?" Digo, tentando me convencer de que não estava nervoso ao ponto de me esconder. Afinal, Leonardo já estava me ajudando por não olhar em meus olhos agora.

"Não poderia mudar de caminho depois que chegássemos, Gabriel." Desta vez eu faço a expressão de deboche. "Para ser sincero, não queria atrapalhar a vibe de vocês. Pareciam estar se divertindo."

"Hum... Ok." Digo, talvez desapontado com o que ouvi e sem acreditar que havia uma "vibe" entre nós, sendo que o diálogo quase não acontecia.

"O que? Faz tanta questão que eu diga pra você?" Ouço-o, balanço a cabeça, não positivamente, nem negativamente.

Leonardo não aumentou o tom de voz durante a conversa, o que me deixou um pouco ansioso. Levo a minha mão até a sua repousada sobre a coxa e encaixo nossas mãos . Ele demora para responder, penso em dizer que fui um imbecil em deixá-lo ir, quando ele finalmente entrelaça seus dedos aos meus e encontra meus olhos.

"Eu senti ciúmes. Não deveria, mas... Estava tudo ok enquanto estávamos apenas nós dois, e eu queria, bem, manter aquilo. Mas era um pouco complicado com uma garota conosco e um possível clima."

Ciúmes? Leonardo sente c i ú m e s de uma pessoa como eu. Ok. Isto é novo para mim. Não que seja algo de outro mundo, nem tão importante.

"Poderia ter me dito. E nah, sem clima." Reviro os olhos.

Minha cabeça estava mirando em qualquer lugar e parecia girar loucamente. Em algum momento daquela conversa eu iria apenas desmaiar naquela cama. Esfrego os olhos numa tentativa frustrada de enxergar com mais clareza.

"Eu não poderia simplesmente te cutucar e dizer: ei, Gabriel, estou com ciúmes da Helena, será que poderia voltar a segurar na minha cintura e andar direito?" Ele diz sarcasticamente. Decido que este é o tom favorito de Leonardo.

"Idiota. Não é assim, mas também não precisava sair andando." Respondo com o mesmo tom que usou.

"Idiota é você, bobão. Estou te falando isso agora porque sei que amanhã não vai lembrar."

In Your Eyes - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora