Quatorze

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Depois de Leonardo comer metade das minhas torradas e se satisfazer, guardo todo o meu uniforme e saímos do meu apê. Ele não estava de carro, o que também nos fez ir mais cedo. Na verdade, era bom ir caminhando, diminuiria as chances dele tentar fazer alguma coisa em público.

"Hum... Gabriel?" Ele chama, fazendo uma expressão pensativa. Rio da cena. Continuo olhando para Leonardo como resposta. "Me conte uma coisa que ninguém saiba."

"Que tipo de coisa?" Pergunto sem entender bem. A noite caia sobre os nossos ombros, assim como o vento gélido costumeiro começava a tomar espaço.

"Segredos?" Ele questiona, mais para si mesmo do que para mim. Dou de ombros.

"Não tenho segredos. Sou mecanicamente normal. Não faço nada de mais, não tenho muitas aventuras." Sinto meus batimentos agitarem. Todos nós temos segredos. Mas está cedo de mais para contá-los, não é?

"Tudo bem se não quiser contar, bae. Conto um meu." 

Oh, droga.

"Quando eu era criança, eu não gostava de dormir sozinho." Leonardo diz de cabeça baixa, como se fosse o pior segredo dele. Se não estivesse com tanta vontade de rir, acharia fofo. "E um dia, quando arrumei minha primeira namoradinha, fui dormir na casa dela e ficamos em camas separadas... Bom... Durante a noite eu acabei indo pra cama dela mas fiquei no cantinho, juro. E então ela me deu um pé na bunda no dia seguinte."

"Sério, cara? Sinto muito por você. Mas porque ela fez isto?" 

"Fiz xixi na cama dela."

Toda a vontade de rir explode em uma gargalhada. Ao mesmo tempo que sinto pena dele a cena na minha cabeça é icônica. Dobro o joelho, sentindo minha barriga doer. 

"O quê?" Leonardo balbucia. "Por que está rindo?"

"Des-desculpe. Não aguentei, seu medroso." Meu fôlego havia se normalizado, então voltamos a andar. Leonardo não me responde, mas começa a andar rapidamente na minha frente. Abaixo e colho uma flor branca e amarela num pequeno canteiro e aperto o passo, impossibilitando a passagem de Leonardo.

"Ei." Tento chamar a atenção dele. O vejo fechar os olhos e fazer um bico enorme. Pego meu celular, coloco a flor atrás da sua orelha e tiro uma foto em seguida. Selo nossos lábios por achar aquela cena desesperadamente fofa e finalmente recebo sua atenção. "Desculpa?"

"Vou poder dormir na sua casa hoje?"

"Não."

Ele dá de ombros e volta a caminhar. Mas como recusar um pedido com aquela flor no rosto? Bufo.

"Ok. Você pode, mas porque não quero que faça xixi no meu sofá." Desisto, vendo um sorrisinho malicioso surgir nos lábios de alguém. E lá se vai toda a fofura da flor.

"Hum... Então cogitava me deixar dormir no seu sofá..." Reviro os olhos, dando as costas pata ele."Estava mesmo pensando que a sua cama me parece bem mais confortavél..."

"Claro que não, Leonardo." Respondo sendo mais ríspido do que queria. Paro, viro-me para trás. "Sejamos sinceros, você gosta de estar comigo."

Leonardo caminha até parar na minha frente. Sinto um frio na minha barriga. As vezes sinto que deveria ficar mais tempo quieto para não afastar ninguém ou apenas... não falar de mais. É o que penso agora. Não quero assustar Leonardo. Mesmo eu não sendo o foco da questão, gosto da sua presença.

"Sabe, Gabriel, quando você me conheceu, dizia para os ares que eu era orgulhoso. E muito bem... Parece que o jogo virou, hum?" Ele diz, deixando o mesmo beijo que o dei minutos atrás. Deuses!

In Your Eyes - Romance GayOnde histórias criam vida. Descubra agora