Lisandro chegou a Atenas quando o dia estava findando. Logo na entrada daquela imponente cidade contemplou por um instante suas construções, olhou para suas ruas largas, a acrópole ao longe, suas árvores ornamentais. A cidade dos sábios, filósofos, músicos, poetas e outros artistas. Não admirava aquela terra porquanto achava tudo isso supérfluo. A filosofia, pra ele, não passava dum passatempo dos ociosos e preguiçosos que não queriam se dedicar a uma atividade realmente produtiva. A poesia um simulacro ínfimo e ridículo do canto dos pássaros. O artesanato até que tinha seu valor prático, já a escultura não passava duma tentativa frustrada de querer ser um criador assim como Hefestos ou Gaia.

Vagou pelas ruas já quase vazias. Os archotes se acendiam à medida que as pessoas desapareciam. Passava suas mãos sobre as paredes das residências, corria pelos pátios vazios, se curvava diante da estátua de algum deus. Sorria sem saber o motivo de sua felicidade. Se realmente estava feliz. Dobrou esquinas, viu ratos nos esgotos, trapos velhos jogados nos becos escuros. Resolveu ir até a ágora. Lá chegando só encontrou algumas bancas que usavam durante o dia para colocar os produtos a serem comercializados. Era um espaço gigantesco como não havia em Esparta. Estava admirado pela magnificência daquela cidade.

Quando enfim cansou se dirigiu a casa onde foi instruído a procurar o artesão Zoé, espião espartano disfarçado de meteco e ceramista. Bateu várias vezes na porta, ninguém atendeu. Pensou que talvez ele, Zoé, fora descoberto pelos atenienses e tornado prisioneiro. Deu uma esquadrinhada à sua volta com medo de ter sido seguido por seu comportamento distinto. Não viu absolutamente ninguém. Bateu novamente. Com mais força desta feita.

Um homem baixo, troncudo e de olhar sisudo abriu. Fitou sua face por um tempo e indagou:

- O que quer?

- Sou filho de Esparta – respondeu Lisandro num sussurro.

O homem o arrastou para dentro de casa e fechou a porta. Andou para a cozinha trazendo o recém-chegado consigo. Havia vasos espalhados por todo canto, ânforas, taças e vasilhas. Lisandro logo soube que entrou na casa de um ceramista. Nunca poderia ter imaginado que um esparciata se dedicaria àquele ofício, mesmo sendo para manter um disfarce.

- Vamos, sente-se aí – disse indicando uma cadeira.

- Estou atrás de Zoé – disse Lisandro permanecendo de pé.

- Sim, sou eu. E você deve ser um hoplita enviado pelo rei para recolher alguma informação, não?

Lisandro sentou.

- Exato.

- Imagino que esteja com fome depois da longa viagem até aqui. Vou arranjar algo para você comer – levantou e foi ao forno. De lá retirou peixe assado e colocou em um recipiente de cerâmica. Encheu uma taça com vinho e serviu a Lisandro.

- Qual seu nome, meu jovem? – quis saber Zoé.

- Lisandro.

- Hum, Lisandro. Filho de Praxedes. Tem sua fisionomia. Lembro-me dele. Era um excelente rei e soldado. Lutei com ele algumas vezes.

- Esperava que me contasse algo novo de meu pai.

- O quê? – falou Zoé rindo.

- Não sei. Não me lembro dele. Eu era muito pequeno quando morreu.

- Não se preocupe com o passado, mas sim com o presente. Está aqui para realizar um trabalho. Pense o quanto deve se dedicar para cumpri-lo com êxito – ficou calado fitando o rosto de Lisandro. – Tem a cara dele. Sem dúvida alguma. Só não seu espírito. Praxedes era feroz. Indomável no campo de batalha. Rude e selvagem. Por isso era um hoplita tão bom para sua pátria. Você me parece mais... Esquece.

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