Lá estava Lisandro naquela sala novamente, diante de éforos e dos reis. Só que agora lhes passava um relatório pormenorizado de tudo que o espião espartano em Atenas lhe passara, inclusive a decisão da pólis inimiga intervir no embate entre Córcira e Corinto a favor da primeira. Foi uma notícia recebida com fúria. Imediatamente foi marcada uma reunião com os membros da Liga do Peloponeso. Era hora de dar um basta à prepotência ateniense. Estava nítido agora que a Confederação queria estender seus domínios por toda a Hélade, na verdade Atenas queria fazer isso. Já havia submetido às cidades que participavam da Confederação e estava partindo para as outras.
Lisandro foi enviado de volta ao acampamento militar. Lá seriam reunidas várias falanges que rumariam para Atenas em cinco dias. Ele seria o comandante de duas delas. Ao receber essa notícia de seu irens quase saltou de alegria feito uma criança ao receber uma dádiva. Ficou estarrecido. Não esperava uma indicação daquelas tão cedo. Não naquele momento. Trasíbulo ficou revoltado com a indicação. Mais uma vez seu primo saíra na sua frente. Agora era o seu comandante, seu superior. Como iria suportar receber ordens de seu maior obstáculo rumo à glória? Maldito seja aquele órfão estúpido e imbecil. Fraco e pedante, bradava dentro de si Trasíbulo. No acampamento todos receberam suas armas para a batalha iminente. Suas couraças, o elmo, a lança e o escudo. Agora eram hoplitas e serviriam a sua pátria.
O treinamento dos novos hoplitas com os veteranos foi rápido, dois dias para se conhecerem e se adaptarem uns aos outros. Naquele ciclo de companheirismo o nome de Lisandro era mencionado a todo instante. O descendente de Héracles, neto de Leônidas e filho de Praxedes estava no comando de duas falanges do bravo e poderoso exercito lacedemônio. A indicação viera dos éforos e Dídimo não estava satisfeito com isso. Queria ver seu filho ocupando aquele cargo a qualquer custo. Não demonstrava, no entanto, estar decepcionado com a decisão daquele sábio conselho, já estava ficando farto da opinião mal concebida daqueles velhos dementes.
Todo o exercito estava reunido na saída de Esparta em um acampamento de treinamento. Lá, os comandantes e os reis arquitetavam como seria o ataque. Soldados de Corinto e Tebas estariam esperando por eles próximo a Atenas como ficou acertado entre eles.
A noite havia inundado o campo e a maioria dos hoplitas estava dentro de suas tendas. Alguns se punham ali fora a treinar golpes com espada ou à mão livre. Trasíbulo estava debaixo duma árvore observando os companheiros, em silêncio. Seu coração ardia na ira contra o primo. Sua imagem de comemoração ao ser indicado não parava de reprisar em sua memória. Que os deuses o castigue por sua petulância desenfreada, acha que não precisa das divindades? Só por ser descendente de Héracles? Mas até esse morreu. Ele também morrerá e sua glória se dissipará como a névoa, caso alcance alguma outra glória digna de aplausos e admiração por seus concidadãos.
Seu pai, Dídimo, se aproximou. Estava vestido para a guerra e segurava sua espada desferindo golpes no ar. Fitou a face descontente do filho e disse:
- Vamos dar um jeito de você ficar com aquele cargo, ou um melhor. Não se preocupe.
- Como sabe que penso nisso?
- Ora, sou seu pai, lembra? Sempre soube que não gostava de Lisandro, ele sempre foi aclamado e ovacionado em lugar de qualquer um. Só por pertencer a uma linhagem heróica. Não precisa fazer nada e alcança os louros. Estou farto disso. Tento dissimular a todo o instante o desprezo que sinto por ele, mas já não consigo mais olhar para aquele rosto de palerma sem sentir náuseas – disse Dídimo.
- Como permitiu então que ele fosse enviado a Atenas em missão e depois indicado a comandante das novas falanges?
- Não podia fazer uma manifestação contrária a essas ideias sempre sugeridas pelos éforos, eles não engoliram ainda a minha sucessão ao trono em lugar daquele pederasta duma figa! – volveu Dídimo esbravejando.
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Hoplita
Historical FictionUm espartano apaixona-se perdidamente por uma ateniense. A rígida sociedade ateniense, em que as mulheres sequer podem sair às rus sozinhas, impediria qualquer possibilidade desse amor prosperar. O que vai dificultar ainda mais essa história de amor...