Élide, época da lua nova.

A cidade de Olímpia estava repleta de pessoas naquele dia ensolarado. Havia atletas de todos os cantos da Hélade. Homens destemidos e intrépidos com o objetivo de vencerem em suas modalidades esportivas e angariar fama e prestígio em suas pátrias. Era a véspera dos jogos. Não havia um canto sequer onde se colocar a descansar. A multidão era titânica. Nos alojamentos destinados aos atletas das várias pólis que participariam dos jogos se ajeitavam os competidores. Outros procuravam a pousada da cidade, onde geralmente aconteciam banquetes tremendos. Cada pólis tinha um alojamento onde o comandante da equipe reunia seus atletas. Todos tinham o mesmo tamanho, no entanto, alguns não acomodavam confortavelmente a todos devido à quantidade de competidores que a pólis enviava. No de Esparta estavam alojados vinte homens para apenas doze catres e um divã luxuoso, para o comandante da equipe. Para eles não havia problema algum com as acomodações. Estavam habituados a redutos pouco confortáveis. Eram guerreiros, hoplitas e não artistas ou pensadores sensíveis, como costumavam se colocar em suas brincadeiras jocosas ao se equiparar aos atenienses. Estes reclamaram fervorosamente de seu alojamento. O espaço era muito curto. Não havia como se acomodar ali. Precisavam de mais espaço, de conforto, de condições adequadas para se concentrarem para a competição, reclamavam.

Os tebanos estavam no alojamento contíguo ao dos inimigos. Já que estavam em guerra apoiando Esparta contra Atenas. Ao perceberem o rebuliço dos efeminados ateniense começaram a caçoar do bando. Sempre existia esse preconceito em relação aos atenienses. Não que eles fossem os únicos efeminados da Hélade e isso representasse uma vergonha ou desonra propriamente. Mas, sua visão de mundo e sua política social eram bastante revestidas de sutilezas consideradas inúteis e tolas. Por isso, os chamavam de mulheres com colhões. Repletos de delicadezas femininas. Era somente devido a isso o termo efeminado.

Heládio estava na frente do alojamento com seu amigo. Um homem alto de corpo esbelto e marcadamente feminizado. Seus olhares vasculhavam toda a cidade, sua floresta, seus prados, suas construções imponentes e delicadas, seu ar jovial e sagrado. Podia sentir a força que aquela região evocava. A magia presente naquelas terras. O símbolo de dedicação e temor religioso ao deus supremo: Zeus.

- Está distante. Não vai reclamar por melhores acomodações, não? – quis saber o escultor.

- Isso pra mim não importa. A única coisa que quero é encontrar... – interrompeu-se por um segundo, e continuou. – Você sabe exatamente quem.

- É. Sei. E acredito que ele tenha calculado que você poderia tentar vim até aqui.

Heládio era seu amigo. Um amigo tão dedicado e amoroso que pensava pelo bem-estar dos dois. Era racional e ouvia atentamente as palavras de sue mentor, o velho e sábio Sócrates. Ródia havia jogado tudo quanto aprendera com o amigo da sabedoria na sarça ardente. O sentimento que alimentava seu espírito agora não precisava de tais saberes. Não. Ele é autossuficiente. Uma energia sem igual. Infinita e extrema.

- Não preciso que ele me espere. Estou aqui e isso me basta. Vou encontrá-lo, abraçá-lo e amá-lo mais uma vez, por sua culpa, só mais uma vez. Isso é a única coisa que importa pra mim, Heládio – respondeu imparcial e sisuda.

Heládio apenas deu um olhar de soslaio para a face da amiga.

Ródia levantou-se e rumou em direção à multidão que caminhava de um lado para outro. Heládio acompanhou-a com o olhar até desaparecer no meio dos transeuntes. O que esperar daquela Ródia? As cosias estavam completamente fora de controle. Para ele, fora do controle dos mortais.

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