Chegou o quarto e último dia de competições. Nele somente aconteceriam as cinco provas do pentthatlon, a modalidade mais aclamada e reverenciada por todos que assistiam e participavam dos Jogos Olímpicos. Pela manhã seriam realizadas as provas de lançamento de disco e dardo, e durante a tarde os três tipos de lutas. A movimentação pelas ruas, no Templo de Zeus, no Ginásio de Élis, no Templo de Hera, na Academia, no Templo do Eco e na pousada era enorme. Tratava-se de um turbilhão onde os atletas e seus acompanhantes se reuniam para festejar as vitórias de sua comitiva e aguardar o início dessa última competição. Só restava aquela última prova para a coroação no dia seguinte pelos helanódices, juízes-presidentes, com ramos de oliveiras e os portentosos festejos e celebrações. A agitação era ainda maior no fim do dia quando começavam os preparativos para o quinto dia, o dia da grande festa dos vencedores.
Assim que acordaram, Lisandro e Pânfilo procuraram se preparar fisicamente para a maratona do dia. Os dois partiram imediatamente para a Academia onde fizeram uma série de exercícios comuns no campo de batalha, funcionava como uma preliminar. Lá mesmo tomaram um pouco de cerveja com pão vindo diretamente de Mênfis. Deliciosa iguaria eles acharam. Ficaram algum tempo sentados numa mesa a observar o fluxo de pessoas nos corredores e no salão central da Academia. Lá fora, no pátio de treinamento havia competidores de diversos cantos.
- Você ficou sabendo quem são os favoritos a ganhar? – quis saber Lisandro com ar de desinteresse pela resposta.
- Andam discutindo o seu nome, é claro, um tal de Calino, de Córcira, Platão, de Atenas e um homem de Ítaca, o qual esqueci o nome. Está preocupado com o poderio de seus rivais, é? – respondeu Pânfilo zombeteiro.
- De forma alguma. Tenho consciência de meus talentos bélicos e atléticos. A vitória será minha sim. Não tenho dúvida alguma. Ora, sou um espartano. Vivo de treinar desde os sete anos de idade. Como poderia sucumbir diante de adversários tão fracos, de terras onde os homens são artesãos, agricultores, comerciantes. Eu sou um hoplita, um soldado somente. Eles não são sequer dignos de disputarem comigo.
- É. Sua forma de falar sobre isso demonstra o quanto está seguro de si mesmo – atalhou sarcástico.
- Acha que estou inseguro? Está enganado. Os louros do pentthatlon serão meus. Pode acreditar no que digo. Eu mesmo creio plenamente nisso. É uma certeza inquestionável pra mim.
- Que é isso? Sei muito bem. Vamos lá fora treinar mais um pouco, só para passar o tempo. Você não precisa de treino, não é mesmo? – falou Pânfilo levantando-se da mesa, o tom jocoso estava impregnado em sua fala.
- Não estou gostando desse seu jeito de falar – respondeu Lisandro seguindo rumo ao pátio da Academia.
Pânfilo se recostou em uma coluna da construção e deu uma rápida esquadrinhada no local. Todos que estavam ali não pareciam páreos para Lisandro. Decerto nenhum dos atletas citados na conversa que tivera com o amigo instantes antes estava lá.
Lisandro pegou um dardo e segurou em posição de lançamento.
- Essa parte da prova é muito idiota. Consigo lançar isso aqui a uma distância que nem mesmo os juízes admitirão possível.
- Ah, é? Nossa, estou perplexo Perseu! – falou Pânfilo rindo.
- Acho que acabarei te espancando até o início da competição – disse Lisandro lançando o dardo.
Pânfilo acompanhou sua trajetória até atingir o chão.
- E aí?
- Foi um fracasso. Confesso que esperava mais de você – respondeu Pânfilo partindo rumo à avenida que dava no Templo de Hera.
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Hoplita
Historical FictionUm espartano apaixona-se perdidamente por uma ateniense. A rígida sociedade ateniense, em que as mulheres sequer podem sair às rus sozinhas, impediria qualquer possibilidade desse amor prosperar. O que vai dificultar ainda mais essa história de amor...