Duas vozes sussurravam de forma intensa no quarto. Pareciam querer gritar, mas por suspiros para não acordar o paciente.
— Vamos sair daqui antes que a gente acorde ela.— Disse uma das vozes de forma ríspida. Ouviram-se passos e o som da porta abrindo e fechando.
O momento de lucidez limitada de Amara se esvaiu em poucos segundos, antes mesmo de conseguir raciocinar quem eram as duas pessoas no recinto. Voltou para o inconsciente, dopada.
O homem saiu irritadiço do quarto, não conseguia acreditar no que ouvia. Seu companheiro de time estava tão estressado quanto ele, mas ainda assim não conseguia acreditar nas asneiras que saiam de sua boca.
— Felipe, é a última vez que eu te digo. Você não está autorizado a ficar perto de Amara enquanto não estiver acordada. Não quero saber se o peso na sua consciência te incomoda, se a culpa te consome ou se você quer mesmo ajudar, eu não vou te deixar ficar perto dela enquanto ela não me disser que está tudo bem ter você por perto. — Kike disse duramente.
— Não tem nada a ver com consciência ou culpa. Você sabe muito bem que eu ainda me importo e quero ver Amara bem. Além do mais, você não é dono dela para dizer quem fica perto ou não. Eu tenho tanto direito de querer cuidar dela quanto você. — Felipe respira fundo. — Me diz uma coisa, por que a trouxe aqui? Será que não passou pela sua cabeça que isso poderia acontecer? Você a deixou sozinha na quadra, se Igor não tivesse visto ela poderia estar recebendo mais do que soro na veia.
— Ela escolheu vir, mesmo ao meu convite. Ela queria estar aqui mesmo sabendo que poderia acontecer o que aconteceu. — Kike responde. — Você não vai entrar aqui até ela estar consciente, entendeu? Cansei de discutir, ande logo e avise ao treinador que vou ficar aqui com ela até a Mari chegar. Comecem o treino sem mim.
A contragosto, Felipe saiu andando. Iria acabar gritando ou partindo para cima de Kike se ficasse ali por mais alguns minutos. Chegou na quadra, ainda irritado, e avisou para o treinador que Kike chegaria depois. O apito soou e Felipe começou a fazer os movimentos pré-combinados no vestiário, antes de todo o tumulto. Após lentos 10 minutos, Kike se junta ao resto do time e começa o treino do dia.
Amara abre os olhos lentamente. Encara o teto, respira fundo e começa a passar os olhos pelo quarto. Uma pessoa está sentada na cadeira de visitante do quarto, mexendo no telefone. Ao perceber o movimento, a pessoa levanta os olhos do aparelho.
— Oi Amy, dormiu bem? — Pergunta com um sorriso no rosto.
— Oi Mari. — Um silêncio de alguns segundos que pareceram durar uma eternidade se formou e logo depois foi quebrado — Dormi sim. — Amara responde com um sorriso pequeno. Não estava em seus planos, mas vê-la ali trouxe uma paz para os seus sentidos. — Quanto tempo, né?
— Faz muito tempo desde a última vez que a gente se viu, realmente. Você continua linda mesmo estando com o braço furado e pálida.
Amara sorri com o comentário. Parecia que não haviam passado todo esse tempo separadas. Mas, já que o reencontro aconteceu, ela não quis perder tempo, nem se deixar levar pelo medo. Poderia pensar mais tarde sobre como agir perto dos seus antigos amigos, mas agora deixaria o humor de Marina contagiá-la.
— Obrigada. E você continua uma deusa grega também. — Elogiou de volta.
— Deveríamos juntar os poderes então e marcar de dar sair. — Mari responde e ri. — Sinceramente, não sei porque nunca nos pegamos antes.
— Olha nem eu. Tanta possibilidade e a gente perdendo tempo. — Amara diz com tom exasperado, rolando os olhos. Ri logo após, sendo acompanhada de Marina.
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entre(nós)
RomanceAmara nunca pedira pelas coisas ruins da sua vida. Crescida nas favelas cariocas, seu caráter fora moldado da forma mais simples possível. Humildade e respeito sempre foram-lhe cobrados desde pequena. Ao ganhar a chance de estudar em uma escola part...