Spinning like a gravitron
When I was just a kid, I
Always thought that things would change
But they never did.(Lonely Town - Brandon Flowers)
Sylvia Plath, uma das maiores poetas do mundo, escreveu um dos livros mais fantásticos da história, chamado A redoma de vidro. Basicamente, trata-se de uma jovem brilhante, a qual, sofria intensamente de um problema psiquiátrico e, de alguma maneira, não conseguia escapar da agonia causada pela patologia.
Ela literalmente vivia em uma redoma, a qual é um objeto circular. O ar, caso pudesse ser visto a olho nu (com exceção dos monstruosos tornados e furacões), dançaria dentro do local. Faria um looping eterno lá dentro. Rodaria, rodaria, rodaria e nunca conseguiria sair dali. Levo essa analogia pra minha vida. É que todos nós já fomos pegos em situações circulares. E isso nos suga de uma maneira absurda. O ar parece desaparecer de nossos pulmões nesse momento. Pouca coisa consegue cativar nossa atenção. É como viver em uma bolha. Permanentemente em um dia quente e abafado de verão.
É como caminhar na floresta. Se você se perder no meio de um bosque, segundo especialistas, provavelmente andará somente em círculos. Essa sensação nos atinge em muitos momentos de nossa jornada. Apesar de acharmos que estamos andando em linha reta e que essa ação nos levará para algum lugar, num piscar de olhos percebemos que estamos no mesmo endereço, na mesma porta, na mesma situação. É como se estivéssemos em um corredor, cheio de quartos, tipo aquele hotel do filme O Iluminado. São centenas de opções. Mas os anos passam e você, ao invés de escolher um novo número, um novo destino, insiste em focar na mesma porta. Você já sabe o que tem dentro daquele cômodo. Já conhece cada detalhe da habitação. Que o encanamento do banheiro faz barulho e a água que cai do chuveiro oscila entre quente e frio, antes de escolher a temperatura gelo antártico, que o pó do carpete lhe causa alergia e que você não vai encontrar novidade alguma na mobília. Talvez as coisas até fiquem piores. Por exemplo, pode acontecer um curto-circuito no abajur velho do lado esquerdo da cama. Aquele lugar não vai lhe oferecer nada de construtivo, não vai mudar sua vida, mas é tão confortável estar ali. É um abrigo contra a chuva que cai lá fora, contra a montanha-russa que é viver. Você liga a tevê e vê o mesmo filme. (...)
Sair de situações repetitivas é difícil. É complicado não encontrar as arestas libertadoras. Eu diria que a solução pra isso é muito simples: às vezes você precisa somente que alguém te traga de volta. Estoure a bolha. Te ajude a ver. Daí, ao recobrar a razão, é perceptivo que aquilo onde você estava era apenas uma bolha de sabão gigante. Mas quando você está dentro dela, bem, é impossível ver com clareza o que está em sua volta, principalmente pelos tons multicoloridos que se formam no seu exterior. É uma prisão.
Quando você está no círculo, existem dias realmente ruins, os quais pioram sensivelmente com as mudanças climáticas. No inverno, por exemplo, você se torna mais depressivo e miserável. No verão, com as ondas de calor que transformam as cidades em um vulcão invisível, misturado ao bafo que sobe do asfalto que te dá uma terrível sensação de sufocamento. Você vive a asfixia psicológica e o calor amplia esse sentimento. Em um dia assim, era impossível respirar na minha pequena cidade, onde o nome não é importante, localizada em um condado qualquer de Lancaster, um país tão pequeno quanto Luxemburgo, perdido no meio do oceano, com coordenadas geográficas imprecisas. Colonizado pela Inglaterra e, por muitos anos apenas um território ultramar inglês, Lancaster parece ser um lugar esquecido por Deus. Apesar das cidades parecerem filiais de Londres por causa da arquitetura similar, da língua nativa,do chá das cinco e ddos pubs que vendem peixe e batatas embrulhados em jornal sujo, é um lugar totalmente diferente. A sensação constante é a de que não podemos ficar mais ali, mas fugir pra algum lugar parece impossível. Nossos sonhos só chegam até a costa e morrem no Oceano Índico ou no aeroporto. E o maldito clima tropical é invencível. Tudo é decadente. Desde as pedras das ruas até as portas das casas. A maresia venceu e consumiu tudo que existe de metal pelo caminho.
Minha cabeça parece estar sempre presa em uma bola de neve. Apesar de nunca ter visto nenhum floco cair na minha frente, já vi o efeito das avalanches pela televisão. Certa vez, quando era criança, cheguei a cogitar convidar o Edward, Mãos de Tesoura, do homônimo filme do Tim Burton, para passar por aqui. Sabe-se que ele é tão mágico que fez nevar empleno verão na Flórida.Talvez ele fizesse esse milagre em Lancaster.
Andar pelas ruas no começo do verão dava a sensação de que eu tinha engolido uma mistura de bola de calor e frustração. Por isso gosto de me "esconder" na lanchonete local. As pessoas tomam chá quente despreocupadas, ignorando o fato de estarem no "inferno" e não no frio da Sibéria. Eu realmente admiro essa capacidade das pessoas de se sentirem confortáveis em seus corpos e indiferentes as tempestades da vida. Um furacão poderia estar passando pela rua, mas elas nem ligariam.
Sentia uma vontade de perguntar sobre esse roteiro comodista. Se eles tinham algum lugar pra mim. Mas preferia tomar minha Pepsi, enquanto amassava minhas anotações ridículas. Às vezes tomava café. Naquele dia, enquanto via as propagandas da televisão, cheguei a pensar que não seria uma má ideia ir morar dentro de um comercial de margarina. Lá o calor é agradável, o rímel não escorre dentro do olho e as pessoas têm sorrisos sinceros que brilham mais do que o branco da lua. Eu não teria que entender o que passa pela minha cabeça, nem me preocuparia com emprego, salário, próximo passo na vida. Provavelmente namoraria o modelo lindo, sem camisa, surfista do anúncio "Visite a Grécia", o qual está no balcão da lanchonete há tanto tempo que o mar azul do cartaz já tornou-se verde musgo . Ponderando sobre o que passava ao meu redor, anotei em um papel: Por que não consigo ser feliz como as outras pessoas? Será que as outras pessoas realmente são FELIZES?
Amassei minhas anotações por achá-las estúpidas demais, paguei pela Pepsi e ganhei a rua, lotada de casas coloridas, tão amontoadas que você não sabe onde uma começa e a outra termina, as quais parecem ter sido pintadas pela última vez na Primeira Guerra Mundial. Cercas vivas estão por toda a parte. A cidade está viva e eu pareço morta por dentro. Eu estava decidida a esquecer, melhorar, etc. O aviso de mensagens do meu celular começa a tocar. Baixo meus olhos para ver do que se trata. É mais uma mensagem promocional qualquer. Ao guardar o aparelho, escuto uma voz ao fundo, insistentemente, aumentando a cada segundo:
- Hey, você esqueceu esses papéis na mesa do café. Seus pais não te deram educação? Você deve colocá-los no lixo. Ainda mais quando são tão comprometedores- , disse a voz familiar.
Virei- me em direção do café e meus olhos pareciam não acreditar. Era Danny Edwards. Sei que você nunca ouviu falar sobre ele, mas acho que deveria.
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A Felicidade Segundo Danny Edwards
Mystery / ThrillerUm jovem parte em busca de uma explicação sobre a felicidade. A jornada parece ser recheada de positividade, mas ele nunca imaginaria essa virada do destino.