Looking out some country window
And although we had our problems, we where fine
The sky was blue and the night was all I wanted
Let me be your comet, I will fly
(Jacksonville - Brandon Flowers)
Danny é meu amigo de infância. E uma das pessoas mais práticas que conheço na vida. Se você tem uma questão muito pontual na sua cabeça, pergunte pra ele, pois provavelmente ele te guiará até a luz no fim do túnel. Ele é uma espécie de enciclopédia, certeiro em suas opiniões e não tem medo de ser ofensivo pela objetividade. Suas palavras funcionam como uma espécie de sniper. Ele é capaz de explodir sua mente. Quem vê esse garoto de 22 anos, com o cabelo levemente despenteado e uma corajosa atitude de usar uma jaqueta de couro no verão, não imagina o que existe por trás desse aparente rebelde sem causa.
Nascido em Londres, mais exatamente nas proximidades de Notting Hill, filho de um militar e de uma artista plástica, Daniel tem o rosto de um garoto que poderia habitar seus sonhos. Ele é tão bonito, que, ao observá-lo bebendo chá e fumando cigarros mentolados, quase consigo me convencer que há esperança na humanidade e beleza no mundo.
Danny costuma ficar em Lancaster durante algumas estações, mas já viajou o mundo todo, trabalhando em qualquer coisa. Já foi um peão em fazendas na Ásia, vendeu legumes na Oceania, limpou banheiros na América do Nortee limpou calçadas na Patagônia.
Danny gosta de meninos, prédios antigos, do mar e de plantas parasitas que sobem pelas cercas. Gosta de fazer listas e ir sozinho ao cinema. Ele usa camisetas de bandas desconhecidas. Odeia gente mainstream. Certa vez, simplesmente cansou de tudo e passou um ano e meio viajando pelo mundo.
Só volta para a nossa cidade para juntar dinheiro pra ganhar o mundo quando o verão chega no hemisfério norte. Nunca entrou em uma faculdade e nem tem tal ambição. É um devorador compulsivo de livros, músicas e filmes. Sempre está fazendo algo diferente. Enquanto fala, bate de forma ansiosa com o pé na perna da cadeira.
Contei o novo capítulo da minha história circular e Danny apenas revirava os olhos.
—Eu vou parar de te falar, Danny — dizia envergonhada.
—É que eu já ouvi tantas vezes essa história— falava ele pela milésima vez.
—O que você acha que eu posso fazer com a minha vida?
— É uma questão simples, dizia ele... Vocês mulheres são muito complicadas. Não consigo entender o que deixa vocês tão distantes das decisões práticas. Um dia vamos morrer. Acho que você precisa aproveitar a vida. Nesse momento tens que respirar. Desconectar totalmente pra poder se reconectar. Você não deixa a sua mente refletir sobre nada. Você só age. Esse é um problema mundial. A ansiedade está agindo no corpo das pessoas. Olhando agora pra você, não sei, parece que consigo tocar no teu estresse. A vida é uma farsa. As pessoas infelizmente levam muito a sério.
Danny não acredita em religião e acha que elas só foram criadas para controlar as mulheres.
— Se vocês soubessem o poder que tem... já teriam dominado o planeta. Vocês dão poder para qualquer um decidir a vida de vocês. Como nas religiões, aqueles lugares sombrios que obrigam as mulheres apenas a ter filhos. Vocês têm o comando e nem sabem. Acho que eu deveria dirigir a droga do organismo das Nações Unidas que cuidam das mulheres. Ou chamar a Madonna. Não seria uma má ideia, certo?
Enquanto fala, Danny escorrega os dedos pelo açúcar espalhado na mesa e olha pela janela como se fosse a hora de partir.
— Você fala tanto sobre a felicidade, tédio, essas coisas. E eu quero muito te ajudar a compreender as coisas. Mas enquanto você manter sua mente tão fechada nesse buraco, nessa mesmice, você não vai conseguir— afirmava ele sem paciência.
Era o começo do verão e ele iria partir pra uma de suas viagens loucas. Começaria com alguma rave em Malta, depois passaria alguns dias andando pela Grécia. Sei lá, seus roteiros eram diversificados.
— Dessa vez vai ser diferente. Eu estou cansado de ouvir falar sobre felicidade.
—Como assim, Danny? Felicidade é algo legal, que todo mundo busca...
—Esse é o problema—disse ele, sem dar maiores explicações. E continuou: —Cada religião diz ter o roteiro, a publicidade parece ser um ticket premiado pra encontrar essa porcaria. As pessoas estão morrendo por não serem felizes. É isso que eu acho. Você está perseguindo o que não pode ter. Por isso está tão amargurada e confusa.
Levantou rapidamente do banco, colocando a carteira de cigarros no bolso da jaqueta.
—Aguarde meus e-mails com instruções. Até breve! Você vai se surpreender! — E saiu do café com o sorriso mais largo do mundo.
Nem deu tempo de me despedir. Eu não sabia pra onde Danny iria, mas sentia que dessa vez a jornada seria diferente. E minha cabeça substituiu aquela avalanche de pensamentos bizarros por uma curiosidade inexplicável.
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A Felicidade Segundo Danny Edwards
Mystère / ThrillerUm jovem parte em busca de uma explicação sobre a felicidade. A jornada parece ser recheada de positividade, mas ele nunca imaginaria essa virada do destino.