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Fiquei mais tempo do que devia no Japão. Duas semanas. Precisava esperar um barco que me levaria até a Indonésia. E aqui estou, no meio de Bali, andando em meio a praias paradisíacas. Estive em Tabanan por alguns dias, na casa de um trabalhador de um terraço de arroz.

Ramadés trabalhou como estivador por anos, viajou por toda a Ásia em navios de carga e agora espera se dedicar ao ramo alimentício até o resto dos seus dias.

Do topo dos terraços, a vista é uma das coisas mais incríveis que vi na vida. O verde do Vale de Udan impressiona.

—Sei que é um trabalho braçal, mas não deve ser ruim ter esse escritório, né? — perguntei a Radamés, enquanto ele observava o nível da água.

Sim, Danny. Tenho sorte, não? Alguns turistas vem aqui e me perguntam: Radamés, você viajou a Ásia, podia morar em qualquer lugar. Crescer, estudar, sair daqui. Eles falam isso como se não fosse importante a minha profissão. Todo mundo precisa comer, certo? E alguém tem que fazer o trabalho. É algo que me orgulho. Cuidar da terra, alimentar meu povo, entende? Mas as pessoas querem que eu me envergonhe disso. Pelo menos parece. — respondeu com uma expressão apreensiva.

— Mas você é importante, né? Você é feliz fazendo isso?, perguntei.

Sim, sou feliz. As pessoas menosprezam algumas funções. O trabalho braçal. Se sentem maiores do que alguém que cata o lixo de suas casas, do que um agricultor que planta a comida. Parece que, pois tiveram a oportunidade de ir pra escola faz com que sejam melhores. Mas as funções mais simplórias, caso deixem de ser realizadas, acabam criando um colapso. Um grande terremoto, né?

Concordei com a cabeça e Radamés continuou.

As pessoas querem que eu menospreze a minha grande contribuição que dou todos os dias para o mundo por ser algo pequeno e por eu ser uma pessoa humilde. Mas eu sei Daniel que eu sou importante. Não importa onde eu viva. Quem eu seja. Meu trabalho é essencial, assim como de um economista da bolsa de Jacarta, do que de um professor.  Se algum de nós não existir, a engrenagem que faz o mundo girar paraliza. Não me sinto diminuido. Você não precisa ir pra capital da ilha ou para Jacarta ou governar Tókio para mostrar que você é relevante. Eu faço a diferença aqui. Mesmo que as pessoas achem que eu estou me conformando. Eu olho pra essa vista e vejo que esse é o meu lugar. Não importa que eu seja um mero agricultor. Eu faço a diferença. Muitas pessoas olham com desdém para a minha casa humilde. Para os chinelos que uso. Para a simplicidade das roupas dos meus filhos. Mas se eles têm arroz em suas mesas é porque sou o responsável. Ao invés de me julgar, deveriam mostrar alguma gratidão. Você não acha, Danny?

—É, Radamés. Para algumas pessoas é uma vergonha fazer um trabalho simples em seu próprio país. Mas quando vão para o exterior e começam a lavar pratos, é algo que as famílias contam animadas. Se fosse em meu país, Lancaster, bem, acho que me olhariam da mesma forma que você. Mas sem sombra de dúvidas você tem toda razão. Eu já fiz todo o tipo de serviço em minha cidade e quando viajei ao redor do mundo. Sempre me olharam como se estivesse desperdiçando tempo, mas eu sempre achei que estivesse dando uma contribuição maior do que um político.

Enquanto eu falava, Radamés dividiu sua marmita de arroz e legumes em duas folhas de bananeira e me deu uma porção.

—As pessoas esquecem da importância das outras pessoas. São egoístas. Agem como se só elas fossem importantes. Mas todo mundo é. Não acha?

Concordei mais uma vez,enquanto perdia os meus olhos naquela imensidão verde.

Radamés, você acha que você seria feliz se fosse rico?

Danny, talvez. Mas vejo muitos ricos tristes. As pessoas pensam que o status, que os bens, vão fazer com que elas encontrem felicidade. Mas acho que essas coisas são irrelevantes. Sou rico de paz de espírito. Tenho a consciência tranquila. Minha família é minha riqueza. Ter um trabalho me dá alegria. Têm coisas que o dinheiro não compra.

Ficamos em silêncio por alguns segundos e Radamés questionou-me:

Por que sua amiga não está aqui com você? Se você está viajando por causa dela, ela deveria estar aqui para ver.

—Eu sei, mas ela é o tipo de pessoa que acredita em fórmulas mágicas para encontrar a felicidade, listas estúpidas e em todas essas mentiras que as propagandas contam. Então, achei melhor vir sozinho. Você sabe, a mídia roteirizou a felicidade. É como se as pessoas só encontrassem alegria caso seguisse alguns passos.

Ah, sim. Por isso que te digo que as pessoas menosprezam meu trabalho. Pois ele não está no roteiro de profissões de sucesso,—disse Radamés em tom sarcástico.

—Deixe eles morrerem de fome e então eles valorizaram por segundos seu trabalho, caro Radamés. As pessoas só reconhecem certas coisas quando sentem o fio na navalha em seus dedos. E dúvido que eles tenham essa vista na janela de seus trabalhos.

A Felicidade Segundo Danny EdwardsOnde histórias criam vida. Descubra agora