Crônicas de Enid
Cada novo texto do diário de Danny me deixava mais desesperada. A última frase do diário era apenas de que eu deveria procurar Samira Shiraz Ashabad em um hotel de Port Moresby. Lá estava eu, em uma cidade completamente desconhecida, no meio do nada. O pensamento constante de que eu não chegaria a tempo me deixava atordoada. E se eu não conseguisse?
Chegando em Port Moresby, peguei um táxi para o lugar descrito. Não sabia exatamente como Samira poderia me ajudar, pois pelos relatos de Danny ela conseguira escapar da comunidade Perks, algo que é quase impossível. Ao entrar no lobby do hotel para fazer minhas reservas, logo questionei se eles conheciam algum hóspede com o nome de Samira. Não havia nenhum registro.
Alguns minutos já dentro do quarto, ouço batidas na porta. Sim, era Samira que estava batendo. Até aí nossa história se encontra em um terreno bastante previsível.
— Enid, nós não temos tempo a perder. Nós precisamos de armas para resgatar as pessoas da comunidade
—Como assim armas? Eu nunca peguei em uma arma na vida. O que você está falando?
—Só me siga e eu vou te explicar no caminho.
Fui praticamente arrastada para fora do meu quarto e caminhamos por horas na cidade até chegar em uma pequena feira. Samira procurava por seu contato na cidade. Não foi difícil encontrá-lo embaixo daquelas tendas.
— Enid, eu nasci em Bandar, um país de origem árabe na Ásia. Não muito conhecido como Lancaster. E minha família teve que se refugiar aqui em Papua, pois éramos minoria cristã. Como estávamos passando por dificuldades, assistimos a palestra da Comunidade Perks. Eles prometiam ajudar as pessoas a serem felizes. Quem fizesse parte da seita dele teria felicidade. Foi muito difícil pra mim, pois eu tinha sido educada em uma escola militar em Bandar. Entrei no Exército, mas o novo líder religioso e político que assumiu o poder não permitia mais mulheres nas Forças Armadas. E uma perseguição intensa contra os cristãos foi instaurada. Então, para que eu e minhas 3 irmãs fôssemos criadas com liberdade minha mãe veio pra cá. Mas com a falta de esperança, se juntaram a comunidade desse homem macabro. Agora elas estão presas lá. Só consegui fugir, pois Daniel me ajudou. Ele estava comigo na mata, estávamos quase alcançando o barco. Então ele pediu que eu mandasse o caderno pra você caso eu conseguisse escapar. Eles alcançaram ele, pois ele pisou em espinhos, pois estava descalço.
—Samira, como vamos resgatar o Daniel e sua família? O que duas mulheres vão poder fazer contra todos aqueles homens? Precisamos ir para a polícia, para a ONU, sei lá...
— Enid, esse homem tem poder. E ele está num território ultramar. Até conseguirem se mobilizar seu amigo vai estar morto. Então você vai ter que se contentar comigo. O plano é o seguinte: você vai encontrar as mulheres que andam pela cidade atrás de membros e irá dizer que largou tudo para juntar a igreja do Perks. Elas vão te levar até lá e você vai ficar de olho no Danny. Eu vou ir pela mata e vou ir eliminando a guarda daquele mentecapto. Acredite, eu já estive lá dentro. Eu sei onde eles ficam. Não são tantos. As pessoas é que tem medo de fugir, pois sabem que eles vão torturá-las quando retornarem. Mas são apenas 30 homens no entorno do estádio.
Respirei fundo...
—E se você não conseguir se livrar deles?
—Bem, aí nós temos um problema. Mas a maior questão é como vamos nos livrar de Perks. Ele nunca chega perto dos fiéis. Só quando vai fazer o ritual de purificação, o qual no caso é a parte onde ele coloca fogo nas pessoas. Nesse momento, você precisa estar perto dele e vai ter que derrubá-lo com essa seringa com calmantes. As pessoas não vão te impedir. Elas estão cansadas. Elas só querem escapar. Além do mais, todos os membros que encostam nele são condenados à morte.
Antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa ou concluir que o plano era impossível ou estúpido, Samira me puxou pelo braço e me empurrou para cima de duas mulheres que usavam vestidos longos e muitas pulseiras. Na bolsa de uma delas eu podia ler: Comunidade Perks.
— Olá! Me chamo Claire. Vocês são missionárias da Comunidade Perks, certo? — questionei rapidamente, falando o primeiro nome que apareceu em minha mente.
— Sim, somos. — respondera a uma delas, com um forte sotaque alemão.
— Eu vim para a ilha, pois larguei tudo em busca da felicidade e o único lugar da terra que podemos encontrá-la é na comunidade Perks. Vocês podem me ensinar sobre o assunto? Queria muito conhecer o líder de vocês, aquele ser iluminado.
As duas abriram um sorriso largo. Nunca fora tão fácil encontrar alguém disposto a se juntar à uma seita religiosa.
— Meu nome é Heide, eu sou da Áustria. Essa é a irmã Silvia, do Brasil. Nós vamos te levar para a ilha conosco. Vamos ter uma linda celebração, onde nosso profeta vai falar suas novas revelações sobre felicidade. Você aceita?
— Sim, eu estou aqui para isso.
Tentava manter uma expressão serena no olhar, mas por dentro eu estava gritando. Isso poderia dar muito errado.
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A Felicidade Segundo Danny Edwards
Mystery / ThrillerUm jovem parte em busca de uma explicação sobre a felicidade. A jornada parece ser recheada de positividade, mas ele nunca imaginaria essa virada do destino.