"The morning light brought her in from the East,
Her hair was long and hanging in curls,
Drinking wine in the park,
Holding hands in the dark.
We know everybody loves the girl".
(Everybody loves the girl - Mark Stoermer)
"Cheguei a Pequim. Nunca vi tantas pessoas nas ruas como aqui. Bateram todos os recordes da Índia. Bem, estou na China, não é mesmo? É o país mais populoso do mundo. Eu deveria esperar o quê?
Estou na casa de Mya, uma chinesa de 24 anos. Ela viveu alguns anos em Frankfurt, na Alemanha. Aqui na China, como você sabe, as pessoas não tem muita liberdade religiosa. Mas para esta garota não é motivo de reclamação, pois ela não segue nenhuma crença. Como ficaria pouco tempo por aqui, durante o percurso do aeroporto até a sua casa, já joguei algumas perguntas no ar sobre fé. Paramos em um parque e começamos a conversar.
— Eu gosto do Confúcio. Ele foi um grande pensador. E só. Acho que religião atrapalha nossas vidas. Parece que as pessoas são colocadas em um labirinto. Como aquelas experiências com ratos. Eles fazem que você ande em uma direção, aparentemente segura. É algo condicionado. Quando você vê... seu espírito está preso em uma rede de mentiras, em fraude. Já vi tantos casos... — dizia Mya, enquanto bebia uma taça de vinho e olhava de forma minuciosa para as velhinhas que praticavam Tai Chi Chuan.
—Eu gostei desse negócio. Eles imitam animais, certo?, — questionei.
Mya parecia perdida em meio de vários pensamentos. Suspirou profundamente antes de responder:
—Sim. Elas parecem ter tanta paz, né?
—Você acha que isso é algum tipo de busca pela felicidade?, — perguntei.
Ela largou o seu copo por um momento e olhou diretamente nos meus olhos.
—Confúcio disse certa vez que a felicidade é como uma borboleta. Se você correr atrás dela, ela vai fugir, Danny. Mas se você esperar, ela pousa na sua mão. As pessoas correm o dia todo atrás disso. Nunca estão satisfeitas. Minhas amigas dizem: — Vou ser feliz quando tiver um carro. Daí compram o automóvel e nada mudou em suas vidas. Elas acham estranho e traçam novos interesses, impulsionadas pela mídia. E elas vão alcançando, mas mesmo assim, não surge um sorriso permanente em seus rostos. Apenas os problemas mudam.Tudo continua da mesma maneira. Sempre vão existir dias bons e dias ruins, Danny. Ninguém vai conseguir nem identificar a felicidade quando ela chegar em suas vidas, pois elas não conseguem mais apreciar a sua própria miséria. Se você nunca ficar triste, nunca saberá o que é alegria. A vida precisa de um balanço. Por que você acha Daniel que a indústria farmacêutica lucra tanto com as pílulas da felicidade? As pessoas, caso não estejam sorrindo o dia todo já acham que tem algum problema, que algo está errado. São educados a perseguir uma imagem de perfeição. E as coisas não são assim. Um dia vai ser incrível. Outro dia não vai ser tão bom. Você não controla isso. Até as celebridades. Vejo tantas pessoas que perseguiam o sucesso, achando que isso as faria feliz. E o que aconteceu com elas? Mesmo querendo transparecer uma imagem de evidente felicidade, você sabe pela mídia sensacionalista que, apesar dos vestidos glamourosos no tapete vermelho, eles são pessoas normais que também passam por dificuldades. Todo mundo tem que enfrentar algo. Todos nós. E numa sociedade que cobra que as pessoas sejam perfeitas como nas fotos editadas no Photoshop, eu não acho que as pessoas devam buscar por felicidade, mas sim, sanidade. Para perceber que a vida é um jogo entre sol e chuva. Alegria e tristeza. Freud disse uma vez que a felicidade é uma utopia. Você pode tentar alcançar, é sua escolha. Mas isso só pode ser alcançado de modo parcial. Eu acho que ele disse isso, pois sabia que. em um mesmo dia, você pode experimentar várias emoções. Você pode tentar bloquear o que sente com alguma pílula e só sentir prazer no seu dia. Mas você se tornará um refém. Você sempre vai precisar aumentar sua dose, à medida que os seus desafios aumentem. Não digo que as pessoas não precisem de antidepressivos de forma real. Sim, algumas precisam. Mas algumas só estão insatisfeitas, pois criaram expectativas irreais sobre a vida.
Ficamos em silêncio por alguns minutos e um casal apareceu em nossa frente, tirando várias fotografias.
—Mya, e o que você pensa sobre as pessoas que dizem só ser felizes quando tem um namorado/a?
—Danny, com exceção dos gêmeos, nascemos sozinhos. Isso não aconteceu por acaso. Se você não aprende que você é a sua melhor companhia, não ama aquilo que és, poderá estar com o ator mais bonito de Hollywood ao lado e estará na fossa.
— O que eu tenho observado é que os namoros terminam em tempo recorde, né?
— É que as pessoas têm procurado por pessoas perfeitas. Se você tiver algum defeito, desviar um centímetro do roteiro mental estabelecido na cabeça da outra pessoa, você não serve mais. São poucas as pessoas que conseguem ser old school e ver que em relacionamentos é preciso ceder. Só que nós vivemos um momento em que todo mundo tem razão. As pessoas se sentem tão perdidas em suas incertezas que acabam agindo só pelo impulso, como se não houvesse amanhã, nessa busca infinita por alegria. Ah, ele fez algo errado, acabou. Ah, ela fez alguma coisa, nossa, ela não era perfeita como eu pensava. As pessoas esqueceram que até na terra existem imperfeições. Às vezes, do espaço, parece um grande globo perfeito, mas bem de perto, existem falhas que causam um grande terremoto. Assim são as pessoas. De longe, cria-se essa ilusão de perfeição, ainda mais em uma época de extremo voyeurismo virtual. Mas quando chegam perto e vem que aquela pessoa não era tão parecida com a que idealizava em seus sonhos, bem, eles se sentem como crianças mimadas quando contrariadas. Hoje em dia as pessoas precisam crescer e parar de desejar apenas o instantâneo e tentar ver as coisas a longo prazo. Os relacionamentos são mortos pela ansiedade. Conheço pessoas que hoje se conhecem, constroem uma história na cabeça e estão super envolvidas em questão de dias. Não acho isso muito normal. Não tem nada demais em ver as coisas numa perspectiva mais lenta. Mas esperar o que de uma geração que adora pular etapas? Eles foram educados pelo Ronald McDonald. Não é à toa que ansiolíticos são tomados que nem água. O futuro vai ser sinistro. Parece que até o tempo passa tão rápido. Sabe qual a razão? A aflição pelo amanhã. Eles nem conseguem viver o hoje.
Continuamos bebendo o vinho e resolvemos trocar o parque por uma casa típica de chá das redondezas, o que é algo bastante típico por aqui. Mya me explicou sobre alguns tipos, mas fiquei admirado mesmo com as fotografias que ornavam as paredes. Plantações de arroz, a Grande Muralha e ilustrações de Kung Fu Tsé. Perguntei intrigado:
— Mya, quem é esse homem? Foi o criador do Kung Fu?
Mya colocou a mão na boca e riu.
— Não, Danny, esse é o Confúcio. Aqui na China esse é o seu nome. No exterior ele é chamado da outra maneira.
— O povo ama Confúcio aqui, certo?
—É, algumas pessoas gostam muito dele. Como te disse, o que mais amo sobre ele é seu discurso sobre honestidade e de que devemos fazer as coisas aqui mesmo. Ele pregava como deveríamos seguir nossa vida. De que precisamos tratar os outros da maneira que gostaríamos de ser tratados. Ele nunca iludiu ninguém falando que devemos esperar nossa morte para experimentarmos uma posteridade feliz. Nós devemos ser bons hoje! Eu não preciso morrer para me redimir. Eu sou responsável pela minha caminhada aqui mesmo, Danny. Ser apenas bom e não precisar de recompensa para isso.
Concordei com a cabeça e continuamos nossa peregrinação pela casa de chá. Como não havia nada de interessante, ganhamos a rua, cheia de casas e estabelecimentos, pintados com cores fortes.
Caminhamos por ruelas, onde o cheiro de óleo frito e de outras comidas se misturavam. Parecia que meu nariz nunca se libertaria daquela mescla de odores. O dia passou rápido e já era hora de seguir viagem para Tókio. Mya me indicou um amigo que mora lá. Seu apelido é Akira e ele é um ex- praticante do Budismo.
Quando estava no portão de embarque me despedindo de Mya, ainda tive tempo de perguntar:
—Você acha que felicidade existe?
Mya parou, suspirou e disse:
— Não. Existem momentos felizes. E acho que quando morremos, termina aqui. Então, Danny, cuide bem do seu hoje. Pode não existir um amanhã. Confúcio sempre dizia: Como podemos compreender a morte se não compreendemos a vida?
Mya me disse adeus e virou-se. Fiquei alguns minutos vendo-a ganhar espaço entre a multidão do saguão do aeroporto.
Até o próximo e-mail.
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A Felicidade Segundo Danny Edwards
Bí ẩn / Giật gânUm jovem parte em busca de uma explicação sobre a felicidade. A jornada parece ser recheada de positividade, mas ele nunca imaginaria essa virada do destino.