Otabek sempre preferiu a simplicidade da rotina. Depois de sofrer perdas dolorosas, estava conformado em passar algum tempo em Hasetsu, trancar seus sentimentos e colocar seus pensamentos no lugar.
Mas não esperava encontrar Yuri Plisetsky. O tigre...
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Yurio costumava aproveitar os domingos e as noites de segunda e terça no Ice Castle para ensaiar. Podia considerar sorte que os outros competidores tenham organizado seus horários de forma pacífica, mas, ainda que não fosse assim, ele faria um belo escândalo para estar ali naqueles horários.
Em meio a mais um dos seus saltos, segurou a respiração e a soltou longamente enquanto deslizava pelo gelo. A música que havia escolhido sozinho ressoava por todos os cantos do lugar vazio, retumbando em sua cabeça, deixando-o pensativo.
Desde que havia tido a ideia estúpida de pedir ajuda a Beka, ficava cada vez mais ansioso e curioso sobre que tipo de música ele iria escolher pra si. De alguma forma, sabia que, quando ele finalmente lhe mostrasse, estaria também lhe dizendo como o enxergava. Isso o deixava nervoso, bem mais do que estava disposto a admitir.
Céus, jamais tinha se preocupado com o que iriam pensar dele. Na verdade, fazia questão de mostrar sua pior parte para cada pessoa que conhecia para ver até onde iria a falsidade e interesse de quem lhe rodeava. Estava tão acostumado a ter esse comportamento enquanto vivia na Rússia, onde boa parte das pessoas sabiam quem ele era e o que ele tinha, que continuou a agir do mesmo jeito quando se mudou para Hasetsu.
Não conseguia confiar nas pessoas. Não conseguia acreditar em sentimentos de verdade.
Por que, então, a imagem de Otabek aproximando-se de seu rosto ficava voltando a sua mente de maneira tão repetitiva? Minha nossa, talvez tivesse algo no seu rosto, ou mesmo sua franja sobre o olho o estivesse incomodando – coisa que sua amiga, Mila, vivia dizendo a ele. Eram muitas opções e em várias delas, a resposta era diferente da que ele queria. Diferente do que ele pensou que estava realmente acontecendo.
Beka não ia beijá-lo... Ia?
Naquele momento, sobre o banco do motorista, com o moreno quase entre as pernas, ele realmente acreditou que sim. Não fosse o casaco grosso que usava, tinha certeza de que o outro teria percebido o arrepio que lhe correu quando ele tocou seu rosto. Os olhos escuros o miraram de forma hipnotizante, segurando-o naquela atmosfera pelo que pareceu uma vida...
Mas a realidade voltou de forma brusca. E um dos responsáveis por isso estava na beira do rinque, assobiando e batendo palmas como um verdadeiro idiota.
— Está lindo, Yurio – Victor gritou, como se fosse necessário.
— Isso aqui 'tá vazio, você sabe – o loiro patinou até a saída – Não precisa berrar, seu imbecil.
— Yuuri vai fazer Katsudon hoje – o platinado ignorou o xingamento, observando o outro tirar os patins – Está frio, pensamos em te chamar. Já faz um tempo que você não passa um tempo com a gente.
Yurio rolou os olhos verdes, tentando disfarçar a satisfação. Verdade seja dita, estava morrendo de saudades daquele ensopado de porco, precisava mesmo de algo assim para esquecer todo esse drama interno que não o levaria a lugar nenhum.
