A estação dentro de nós

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Era início da noite quando Otabek chegou ao Ice Castle

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Era início da noite quando Otabek chegou ao Ice Castle. Dessa vez, estava com sua moto, cobrindo parte do rosto com um cachecol grosso para se proteger do frio. Esfregou as mãos uma na outra e entrou no lugar, aparentemente, vazio.

Buscou com o olhar pelo loiro e assustou-se quando um canhão de luz se acendeu no meio do rinque. Um som de estática alto se fez ouvir e Beka franziu o rosto pelo incômodo, mas então a voz de alguém soou pelo clube.

— 'Tá atrasado – Yura sentenciou no andar de cima, mexendo no aparelho de som.

Beka sorriu. Abriu os braços, fingindo indignação.

— Então vai tomar meu lugar? - perguntou, já subindo até onde o outro estava.

Yura não respondeu. Apenas plantou um sorriso no rosto e esperou até que Otabek surgisse perto dele.

— Não sei como consegue mexer nisso – o loiro disse, olhando a mesa de som – É muito botão.

— Depois que aprende, a gente se acostuma. Não é tão difícil – o corpo de Beka se colocou um pouco atrás de Yura, esticando o braço para alcançar a mesa – Aqui é regulagem do volume...

A voz de Beka, sempre sutil e grave, soava bem nos ouvidos de Yura. Os cabelos loiros exalavam um cheiro gostoso de baunilha e Otabek teve que se segurar para não roçar o nariz ali. As palavras que dizia começaram a diminuir de tom até que Yura se virasse segurando o sorriso.

— Eu não vou aprender agora – o loiro virou um pouco a cabeça – Mas você me ensina outra hora. Eu quero ouvir a música.

— Certo – Beka respondeu, tirando do bolso o pendrive.

Ajustou tudo e deixou que a música tocasse e o som ricocheteasse pelo lugar. Começava forte, de cara. Uma introdução pesada e contagiante que, algum tempo depois, tomou uma forma mais ritmada e suave. Os momentos intercalavam-se, numa mistura agradável entre essa suavidade e agressividade naquele rock alternativo. O tempo passou rápido e os acordes finais deixaram o aparelho de som e, finalmente, Yura acordou do transe em que encontrava.

Aquilo dizia muita coisa sobre ele. Na verdade, sobre ele e Beka. Um primeiro momento grosseiro seguido por outros mais amigáveis. Ainda assim, aquele arranjo não deixou de perder a densidade e isso fez Yura sorrir.

— Ponha no replay automático e vamos descer – o loiro esperou que o moreno o fizesse e depois puxou-o pela mão até o andar de baixo.

Buscou um par dos patins nos armários, mas os seus estavam em sua bolsa. Deixou o par sobressalente ao lado da entrada do rinque e alongou-se um pouco mais – pois já havia feito isso antes de Beka chegar – sendo atentamente observado por Altin.

E, minha nossa, ele era mesmo muito flexível. Quer dizer, até onde iria aquela perna que ele jogava para lá e para cá? Não conseguiu esconder a surpresa e isso fez Yura sorrir de canto e entrar no rinque de uma vez. A música ainda tocava, repetidamente e ele começou a se mover em passos instintivos, criando uma coreografia ao som da nova melodia. Os saltos vieram em seguida e ali, sozinhos, Otabek permitiu-se escorar na proteção e admirar aquela criatura quase etérea que era Yuri Plisetsky sobre o gelo.

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