Cidade de Gelo

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O quarto de Otabek estava uma bagunça

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O quarto de Otabek estava uma bagunça.

Depois de sua reconciliação com Yura, as coisas pareciam ter voltado a se alinhar. No entanto, o loiro passou a semana inteira dizendo-lhe que seu quarto era muito sem graça. "Não tem nenhuma cor nas paredes", ele dizia. E para piorar, dona Hiroki não só concordou com Yura como passou a perturbar Beka sobre isso também.

Por isso, no domingo a tarde, depois de terem passado toda a tarde de sábado pintando as paredes – de uma cor não muito chamativa, para o alívio do cazaque -, os dois arrumavam os móveis e objetos em seus devidos lugares. Yura tinha arrumado alguns itens meio vintage, relacionados a motociclismo e fez questão de arrumar um mural sobre a mesinha de Beka. Eles ainda não tinham muitas fotos, pelo menos não reveladas, mas a ideia lhe pareceu muito boa e o moreno teve que concordar.

Estavam quase terminando quando Yura decidiu perguntar.

— Não tem nada que trouxe do Cazaquistão? - Olhou para o namorado enquanto prendia os cabelos.

E a pergunta fez Otabek suspirar. Sim, haviam diversas coisas que trouxera consigo de sua terra natal e que não tinha coragem de desembrulhar, de mexer e nem de olhar. Mas talvez fosse aquele o momento. Yura estava bem ao seu lado, dando novas cores as suas paredes e a sua vida e, como dizia sua avó, ele precisava passar por isso de verdade em vez de se esconder.

Por isso, puxou do fundo do armário uma mala média, onde ele guardava as coisas que tinha quando ainda morava em sua antiga casa. Sentou-se no chão, encarando a mala fechada, brincando com o zíper. Uma parte sua desejava ver o que tinha guardado lá, porque sentia saudades. Outra parte sentia medo desses sentimentos. Sentia medo de se quebrar outra vez ao notar que tudo relacionado àquela época não voltaria mais.

Os pensamentos duvidosos pareceram se aquietar quando o loiro sentou-se ao seu lado. Olhou-o de soslaio, notando o brilho nas íris esverdeadas e a mão pálida e magra de Yura apertou seu joelho. Ele sabia. Tinha consciência de que era difícil, mas estava ali do lado, certo? Não podia ser tão difícil.

Puxou o zíper e abriu a mala lentamente. O porta-retratos foi a primeira coisa que viu. Só aquilo fez seu coração se apertar. Era uma foto sua com os pais e a namorada. Seu pai mantinha no rosto uma expressão um pouco mais contida, mas, ainda assim, feliz. Sua mãe tinha um sorriso grande no rosto fino. A garota ao seu lado fazia um "V" com os dedos. Aquela foto foi tirada no dia em que a pediu em casamento.

Otabek notou que, mesmo sabendo que estava feliz naquele dia, seu sorriso era pequeno e contido. Sabia também que a namorada o conhecia muito bem, porque eram amigos desde muito novos e, por isso, nunca viu muita necessidade de se fazer entender. Os dois não brigavam e estavam há muito tempo vivendo num relacionamento estável, onde nada mudava.

Era diferente com Yura.

Os dois se conheciam um pouco mais a cada dia e sentia a necessidade de dizer e exprimir cada um de seus sentimentos até que o loiro estivesse ciente deles. Ao mesmo tempo, amava a forma como o russo também gritava aos quatro ventos tudo que lhe desagradava e o que gostava e como sabia respeitar o próprio ritmo ou se adaptar ao seu. Era diferente da rotina com a qual estava acostumado, mas igualmente aconchegante e caloroso.

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