Otabek sempre preferiu a simplicidade da rotina. Depois de sofrer perdas dolorosas, estava conformado em passar algum tempo em Hasetsu, trancar seus sentimentos e colocar seus pensamentos no lugar.
Mas não esperava encontrar Yuri Plisetsky. O tigre...
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Otabek brincava com a comida na tarde de sábado.
Por mais que tivesse intenção de resolver a situação com Yura naquela mesma noite, não conseguia deixar de ficar nervoso, com aquele gosto amargo na boca por não saber como as coisas ficariam depois dali.
Hiroki comia em silêncio, observando o neto por cima dos óculos. Soltou o garfo no fim da refeição e cruzou os dedos sob o queixo e os cotovelos sobre a mesa.
— Precisamos conversar – a senhora falou.
Otabek ergueu os olhos, curioso.
— Diga.
— Eu encontrei se namorado ontem – disse de uma vez – Nós conversamos um pouco.
A feição de Otabek tornou-se mais pesada. O cenho franzido, os dentes trincados.
— Conversaram sobre o que?
— Sobre você – suspirou – Me desculpe. Eu não queria me intrometer, mas eu sabia que não diria nada a ele sobre o que aconteceu.
— Por que? - Otabek apertou o punho. Segurava-se pra não gritar – Eu não queria... Ele não precisava.
— Ele precisava, sim – Hiroki alcançou o punho fechado de Otabek sobre a mesa, abrindo sua mão enquanto a massageava – Você descobriu sobre o passado dele de uma forma horrível e queria ajudá-lo a enfrentar isso. E você ainda pode. Mas não precisa fingir que ele é o único que deve deixar o passado pra trás. Eu sei que já começou a fazer isso. Esse relacionamento de vocês é uma prova disso, mas se quiserem que isso dê certo, de verdade, precisam abrir seus corações. Precisam se permitir essa cura.
Beka ainda não sabia o que dizer. Yura sabia sobre seu passado? Sabia tudo que havia acontecido com ele? A ideia era um pouco assustadora mas também sentia certo... Alívio. Não havia mais nada no caminho entre eles. Precisava apenas tirar os destroços dos muros caídos com as próprias mãos.
E faria isso naquela noite.
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Yura passou toda a madrugada de sexta pra sábado treinando.
Precisava terminar aquela coreografia e apresentá-la. Segurou-se muitas vezes durante o dia para não ir atrás de Beka, porque a saudade se mostrava mais insuportável a cada minuto, mas tinha dito a si mesmo que ia se segurar. Só mais algumas horas.
