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Me estirei no sofá enquanto zapeava pela TV procurando alguma coisa realmente interessante para assistir, mas nada chamou muito a minha atenção.

- Gustavo! – Dei um pulo tão alto que quase caí do sofá.

- Samara! Quer me matar do coração? –Respondi me arrumando no sofá. – Deus me livre!

- Estou chamando você há mais de dez minutos e você não me responde! – Ela disse. – Ultimamente é só você se encostar em alguma coisa e já dorme. Meu Deus, o Rafael é seu filho também. Você acha que eu também não gostaria de descansar um pouco, heim?

Eu nem tinha percebido que estava dormindo. De fato eu estava bastante cansado, mas jamais deixei de ajudar com o Rafael quando era solicitado.

- O que foi, amor? – Perguntei cortando o assunto que certamente não nos levaria a lugar nenhum além de outra briga.

- As fraldas do Rafael acabaram. Você pode ir comprar?

Olhei para o relógio. 8h25min. Hmm, farmácias já estavam fechando, o que significava que eu teria que pegar um ônibus e ir para o centro. Oh, Deus, eu preciso de um carro!

Enquanto me trocava, refleti sobre isso. Poxa, eu ganhava quase mil reais por mês e como ainda não tinha conseguido comprar um carro? Todo dinheiro do meu salário e da Samara era usado na nossa casa e agora com o Rafael. A única grana que sobrava era depositada na conta que eu tinha aberto para o Rafael e depois do nascimento dele não tinha conseguido depositar mais nada realmente significativo lá. Sem contar o que eu tinha tirado em função daquele episódio lamentável. Eu ganhava o suficiente, e isso era bom, mas ao mesmo tempo não me permitia adquirir nada mais.

Cheguei a parar de andar quando essa conclusão se fez clara na minha mente. Para um homem de 25 anos, com casa, mulher e filho, isso era muito grave. Estagnação total e absoluta. Uma armadilha que eu precisava sair o mais rápido possível. Eu estava totalmente dependente do que a Águas do Brasil me pagava e se porventura ela me faltasse eu estava acabado.

Embarquei no ônibus que me levaria até o terminal Fortaleza e me concentrei em voltar logo pra casa. Outra hora eu pensaria a respeito dessa situação e encontraria uma solução, quando eu estivesse em um lugar mais quente.

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- Bom, eu tenho um trabalho de finais de semana e sempre ajuda a equilibrar a minha vida financeira, Gustavo. – O Diogo falou, revelando que eu não havia sido o único a perceber que nosso salário era apenas suficiente.

- E o que você faz?

- Sou garçom. – Ele disse. - Assim como o Eduardo e o Gabriel trabalham como segurança.

Fiquei chocado com o fato de tanta gente ter trabalhos secundários aos finais de semana para complementar a renda. Era engraçado, porque quando alguém nos perguntava o nosso salário, eles se espantavam como valor. E nós mal conseguiamos comprar algo mais com aquilo. Era como se fosse uma espécie de coleira que a Águas havia nos colocado. Uma espécie de "vocês vão ganhar mais do que ganhariam em outro lugar (e isso os fará não nos abandonar), mas apenas o suficiente para os seus gastos (e isso os fará trabalhar mais)" não verbalizados.

- Eu acho que vou precisar arrumar alguma coisa pra mim. – Falei. – Preciso adquirir mais, cara, estou estagnado.

- Mas você vai sacrificar seus finais de semana? Você tem um bebê de dois meses pra curtir, Gustavo.

- Eu sei, cara, e eu adoraria ficar paparicando meu filho, mas eu preciso pensar no futuro dele.

Diogo não respondeu de imediato. Provavelmente estava pesando a situação. Ele sabia que não haveria nada no Mundo que me deixaria mais feliz do que ficar perto do Rafael, mas infelizmente eu tinha que garantir que ele teria uma vida mais bacana que a minha. Eu queria que ele pudesse entrar numa boa faculdade quando terminasse o segundo grau, queria que ele comprasse o seu carro aos 18 anos, queria que ele tivesse o que eu não tive e precisava trabalhar pra isso agora.

O diabo não quer (só) a sua almaOnde histórias criam vida. Descubra agora