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Segunda-feira, 3 de janeiro de 2011. O primeiro dia útil da primeira semana do ano novo começou e eu era o primeiro funcionário a chegar para o trabalho. Ainda estava escuro, acho que eram 4h40min da manhã quando eu digitei a senha de acesso e o zunido liberou a porta para me dar passagem. Acendi a luz e entrei no aquário, colocando a minha bolsa dentro do meu armário e, enquanto esperava o computador iniciar, preparei uma xícara de Nescafé bem quente.

Assim que o SAN finalmente começou a executar, dei início ao ritual de conectar pocket, aguardar o reconhecimento, selecionar a competência (período de consumo), selecionar o trecho de leitura, informar o leiturista que irá fazê-lo, salvar as alterações, aguardar a transferência do arquivo para o pocket, desconectá-lo e dar início ao processo todo com outro pocket todas as 20 vezes até que todos os leituristas tivessem o que fazer.

Naquele dia foram só dezenove, já que o Diogo estava afastado por pelo menos 6 meses e o trabalho dele estava sendo dividido entre os outros leituristas.

O dia começou a clarear e eu só percebi quando a dona Bianca chegou às 5h15min para dar início à limpeza.

- Bom dia, Gu. – Ela sorriu.

- Dona Bianca. – Levantei e dei um abraço nela. – Feliz ano novo.

- Feliz ano novo, meu lindo. – Ela retribuiu. – E o filhote, como tá?

- Bem. – Eu disse. – Estive com ele nesse final de semana.

- E a Samara?

- Está bem também. Acho que a gente vai acabar se acertando. – Acrescentei o que ela certamente iria perguntar em seguida.

- Vocês precisam é criar juízo os dois. Ora, um neném em casa e resolvem se separar logo agora. Onde já se viu.

Eu ri enquanto ela ia pra cozinha colocar um café para passar. Me perguntei se havia alguém nesse mundo que não gostasse daquela mulher.

Voltei ao meu ritual até que o Régis chegar.

- Bom dia, Gustavo. – Ele cumprimentou com um sorriso. – Frohes neues Jahr.

Olhei pra ele.

- Hã?

- Eu falei "feliz ano novo" em alemão.

- Ah. – Me segurei para não revirar os olhos. – Isso aí pra você também, Régis.

- Curtiu o feriadão?

- Um pouco. Relaxei como não fazia há muito tempo. – Disse me concentrado no computador.

- Isso é bom. – Ele disse puxando uma cadeira. – E o Diogo, alguma notícia?

- Liguei pra ele ontem. Ele estava bem, só a perna engessada e na cama direto, né? Disse que já não aguenta mais.

- Ninguém merece mesmo. – O Régis se levantou, caminhou até a porta e voltou. – Gustavo, eu queria dizer uma coisa.

- Diga. – Eu continuei digitando sem olhar para ele.

- Eu estou me mudando no mês que vem.

- Bacana. Vai trocar de casa?

- De Estado.

Girei a cadeira para ficar de frente pra ele. Heim?

- Eu vou morar no Rio de Janeiro.

Teria caído sentado se já não estivesse. Aquilo tinha que ser uma pegadinha.

- Vou pedir o meu aviso prévio hoje.

O diabo não quer (só) a sua almaOnde histórias criam vida. Descubra agora