Capítulo 3: Bad Liar

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   Ele sentiu o peso da exaustão se acumulando, rendendo-se à necessidade de descanso que se manifestava em sua expressão cansada. Ao apoiar o rosto na mão estendida de Yuuri, um breve momento de alívio se instalou.

O sorriso de Yuuri, uma resposta acolhedora à sua presença, motivou-o a erguer-se para abraçá-lo, depositando um beijo terno em sua testa.

— Seria prudente tirar um tempo para descansar durante a tarde, Yuuri.

Com uma formação em omegalogia e obstetrícia, tornara-se o cuidador mais indicado para acompanhar Yuuri durante esse período delicado, marcado pelo risco de um aborto espontâneo iminente.

— Farei isso após o almoço; seu irmão, quando retorna do escritório, não me concede momentos de paz.

Ele assentiu com a cabeça e dirigiu-se para a porta, lançando um último olhar na direção de Yuuri. Aquela imagem de fragilidade não se alinhava em nada com a reputação internacional de Yuuri como símbolo da luta do omeganismo. Admirado por muitos ômegas por superar seus próprios desafios, ele jamais se submetera novamente a qualquer forma de humilhação.

A aparência pálida e debilitada era perturbadora; suspirando frustrado, deixou a sala. Era desconcertante vê-lo nesse estado, mas a esperança residia em sua convicção de que, com sua presença, Yuuri encontraria gradualmente a recuperação. Ao sair da biblioteca, observou o largo corredor, elegantemente decorado de forma simples.

Seus passos o conduziram a uma sala com portas duplas entreabertas. No centro, um piano de cauda majestoso ocupava o espaço, cercado por outros instrumentos musicais, como uma grande harpa dourada e uma estante repleta de partituras empoeiradas. Violões, violinos e violoncelos, todos revestidos de poeira, contribuíam para a atmosfera de abandono. As partituras, rabiscadas à mão, encontravam-se espalhadas de forma descuidada sobre uma mesinha próxima ao violoncelo. A sala, pintada em azul claro com detalhes em gesso branco, revelava-se um testemunho do tempo que havia passado, uma viagem nostálgica através da música e da história.

Yuri observou a sala de música com uma mistura de sentimentos. Nem seu cunhado e nem Victor tinham habilidades musicais, e a presença da sala era uma lembrança marcante de Nikolai, o verdadeiro músico da família. A lembrança fez sua garganta apertar. Em uma parede mais distante, avistou uma porta de vidro que conduzia a uma varanda externa, adornada com sofás brancos e uma mesa de centro. Incapaz de ver mais detalhes da distância, decidiu entrar na sala de música.

Caminhando em direção ao centro, seus olhos se fixaram no piano. Ao tocar nas teclas empoeiradas, recordou-se de sua infância e das tardes passadas com seu avô, que o ensinava pacientemente a tocar. Sentou-se ao piano, passando lentamente os dedos sobre as teclas frias e empoeiradas, um sorriso nostálgico em seus lábios. Começou a tocar suavemente a "Moonlight Sonata", fechando os olhos para se entregar completamente à melodia. O piano, desafinado pelo abandono, era uma recordação viva de seu avô e das lições de amor que sempre recebeu.

Yuri continuou a tocar, perdido nas notas da "Moonlight Sonata", deixando-se envolver completamente pela melodia. Os sons suaves do piano preenchiam a sala, criando uma atmosfera etérea. Foi somente quando terminou a última nota que seus sentidos se abriram novamente para o ambiente ao seu redor.

Ao abrir os olhos, Yuri captou um aroma amadeirado no ar, despertando seus instintos mais primitivos. Seus olhos encontraram um homem encostado no piano, observando-o com intensidade. O desconforto cresceu dentro dele quando percebeu que o homem não apenas emanava a presença de um alpha, mas também compartilhava uma semelhança surpreendente com a figura misteriosa que frequentava seus sonhos. Embora nunca tivesse visto claramente essa pessoa em seus devaneios noturnos, algo profundo dentro de Yuri sussurrava que era "ele".

Last Chance - RepostandoOnde histórias criam vida. Descubra agora