A BATALHA DA SUBIDA ( Os Condenados Resvalam e Os Amaldiçoados escorregam.

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A travessia do labirinto enfeitiçado para ir de encontro á batalha derradeira, já demonstra a perversidade e selvageria descabida que estão prestes a defrontarem, a superfície inclinada que vem após o labirinto deixa a disputa custosamente acirrada, inclusive muitos dos covardes que fogem da luta retornando para o labirinto são usados como escudos, e é isto o que o exército de Martin faz sem piedade, porem não é só lutar e matar todos que estão pela frente.
Finalmente ficar há menos de 500 metros da subida daquele abismo dá uma sensação de alivio e êxtase, na há um ser que chegara por ali e não ficasse boquiaberto, Martin Ühler olhando o semblante de cada um de seus leais guerreiros nem ousa em ordenar que alguns daqueles queixos caídos fechem a boca, ele mesmo já é o primeiro extasiado a embasbacar-se. É inevitável a batalha da subida, ser desprezada e deixada para trás, pois seguir correndo direto para a muralha da subida não é um simples caminho, para finalmente chegar e subir ali, é preciso sangrar.
A muralha é colossal quase interminável, a batalha sangrenta é um pandemônio brutalmente generalizado, Martin e seus guerreiros, ainda estão a observarem atônitos aqueles exércitos inacabáveis se destruírem e se decapitarem, não há como espreitar nem planejar o que fazer, a única coisa que Martin pode fazer é manter seus guerreiros juntos.
- Não vamos nos separar, vamos manter nossos escudos juntos - bradou Martin com Dory sempre ao seu lado, ela acende as chamas nas espadas e o único bando que tem espadas com as pontas a chamuscarem é o bando de Martin e Dory, que se torna alvo de ataques ferozes. "Quem é aquela garota ? " É o que todos perguntam espantados ao verem aquela figura delicada, tão feminina e frágil emanar fogo das própias mãos. Tem carroças carregando homens sendo puxadas por cavalos e jericos, carruagens improvisadas feitas de troncos com espetos pontudos, empurradas por dezenas de homens e mulheres. Martin está sedento de ódio querendo descobrir se há alguém, se é que há, a reger e comandar aquela barbárie ? por que impedir e aniquilar os que tentam e escalar o abismo ?
Já não bastando todos os males e a fúria tirânica dos bárbaros sórdidos, surgem lá do céu, pássaros gigantes quase do tamanho de um monomotor aterrissando e participando da disputa, na verdade aqueles pássaros atrozes agigantados tentam resgatar com fracasso seus semelhantes e sobrevoam sobre a multidão. Martin e seu exército achavam que já tinham visto de tudo, mas constataram que não, definitivamente não tinham, abrem-se os caminhos e em meio ao empurra - empurra, algo faz todos se afastarem, é uma carruagem de grandeza considerável, pelo menos dez homens estão em cima dela, um homem gordo de barbas fartas escuras que cobrem até sua boca e dentes está a tanger com correntes, o animal que os puxam e surpreendentemente, a franzirem as testas, Martin Ühler e seus leais guerreiros testemunham e contemplam o que parece surreal, um daqueles pássaros gigantes de cor escura vai movendo a carruagem, o imenso animal teve as asas decapitadas cruelmente, foi dominado e escravizado e com suas patas, que foi o que lhe sobraram, conduz a carruagem do exército de Goroth.
É Goroth que rege e comanda quase metade daqueles abismados bárbaros impedidores, o gordo e imenso homem de quase três metros de altura é o ser mais revoltado e insubmisso por não conseguir escalar tal muralha do abismo, ele foi um dos primeiros seres abismados a chegar no ponto certo onde é possível subir a muralha, por ser o maior ogro que há ali, ele usa seu poder maquiavélico de liderança facinorosa para convencer e trazer consigo os seres mais escabrosos dispostos a lhe servirem. Goroth não é o maior ogro que existira ali, ainda haviam mais dois ogros estes sim gigantescos, dois ciclopes de aproximadamente quatro metros de altura, as espadas em suas mãos pareciam mais canivetes, porém, eram guiados por correntes e grilhões acorrentados aos pés e mãos, foram dominados por Goroth e sua tropa para servi-los .
E o gigante pássaro vem arrastando a carruagem com Goroth e dez de seus homens a atropelar tudo que veem pela frente, se por um lado, a ascensão e redenção de toda uma glória está tão próxima e alcançável quando se olha para a muralha, por outro lado, a certeza de que o inferno nada mais é do que a própia maldade e atrocidade humana condiz com a realidade, quando se deparam com aquela batalha sanguinolenta.
A perversidade e desumanidade do ser humano... É o que ocasiona a sentença sem volta da morte eterna e a penitência perpétua. O certo é que a batalha derradeira da subida dos condenados está acontecendo com toda a proporção caótica e mortífera, Martin e seus fiéis guerreiros precisam estabelecer um plano, toda a barbárie da disputa e da matança dessa guerra, não translada pelos arredores do abismo, nem do labirinto e sim, em direção a muralha .
- ora, por que é que esses miseráveis estão a impedir que todos escalem essa muralha? - vociferou Martin a perguntar indignado.
- Eles são o quê ? donos do abismo ?- Exclamou ofegante Dory, cravando sua espada no peito de mais um bárbaro .
- Ei ! são os rejeitados da muralha. - murmurou um ser raquítico a responder intrometidamente, com um lenço imundo na cabeça, dentes enormes apodrecidos - Desde que cheguei aqui, eu nem sei se consigo subir essa muralha dos infernos! - continuou a dizer a criatura, assim que reparou toda a revolta e questionamentos dos abismados recém chegados.
- Quem conseguiu subir esse abismo? - Pergunta Haderi querendo entrosar-se com aquele serviçal nauseabundo, uma espécie de capacho insignificante de Goroth .
- Subir, hah! Não chegaram nem naquela pedra de ponta erguida afora. -Respondeu a criatura asquerosa que retira com os dedos a podre inhaca do nariz.
Martin e Dory já sabem como agir estrategicamente para destruir os impedidores e seguir de vez rumo á muralha, dá para ver agora que estão mais de perto, que nem todos conseguem subir e os que conseguem ir mais adiante acima, escorregam sem motivo aparente ou são jogados cima abaixo por outros . A surtida está dando certo, o exército de vinte homens de Martin Ühler, avança sentido a muralha com os escudos levantados fazendo inteligentemente uma barreira protetora, obstruindo todo tipo de ataque a eles, outros meros abismados dali, já pensaram e fizera isto antes para enfrentar Goroth e seus homens. Mas nenhuma investida similar, havia uma guerreira extraordinária como Dorothy, que com seu poder excepcional disfere golpes de espadas a jorrarem chamas pra todo lado, quando a barreira de escudos se abre, o ataque fulminante é mordaz, abrindo a barreira para o ataque de fogo e fechando-a para defesa e marcha rumo a muralha, faz com que o exército de Martin finalmente esteja frente a frente com a muralha.
- Como ousaram matar tantos dos meus homens! - Bravejou Goroth.
- Quem veio comigo, veio pra subir ! - Esbraveja Martin com mais ímpeto e raiva.
Saindo do meio daquela barreira de escudos e saltando vorazmente sobre o gigante pássaro da carruagem que transporta Goroth, o garoto teve sorte, pois ao pular sobre o pássaro exausto impulsionando-se pra atacar o gordo grandalhão, recebe um único ataque que o faz ser jogado a metros da carruagem, foi uma arremessada disferida em seu escudo de bronze, o que lhe salvou a vida, em seguida , Bernard Khamel golpeia, gira, levanta o escudo, mas não tem a mesma sorte, é atingido em cheio assim que Goroth pula da carruagem para a terra firme, a espada do ogro barbudo lhe traspassa o peito, dá para sentir até seu coração jorrando a sangrar .
- Nããoo! - Grita Haderi , não acreditando que perdera seu companheiro de boas conversas e desentendimentos, de abraços e insultos. Khamel foi o primeiro a quase trair o exército, quando foi enfrentar a serpente Habyss sozinho, viu-se abandonado e julgado por tamanha idiotice, e quase foi atrás de Moghloore , afim de acumular e se esbanjar com o ouro das pedras após o grande portal .
O cenário enfim não era nada animador, mesmo diante da muralha e tão perto de subir e livrar-se das trevas, Khamel está desfalecido, estirado ao chão ainda com uma das espadas de Goroth cravadas no peito, Martin ferido, sendo atacado e mesmo ainda deitado tem que se defender com bravura. Dorothy está apreensiva e acuada vendo tudo aquilo, os soldados bárbaros de Goroth estão bem armados e resistem aos ataques de Haderi, Alika e companhia, sem falar que Goroth sobe outra vez na carruagem tentando forçar a todo custo, que o imenso pássaro retorne a puxa-lo mas agora fatalmente, o pássaro está prestes a também morrer, antes de Dorothy se unir aos demais para contra atacar Goroth, ela sabe que tem de ousar e fazer algo surpreendente e arrematador, o derradeiro combate está desesperador, o exército de Martin Ühler agora sim parece que vai ser dissipado. Dory, sempre ela, enfim vê uma alternativa, uma saída absurdamente maluca que só sua mente insana poderia pressupor para mudar o destino cruel que estava se cumprindo, que era, a morte do bem, algo impensável e de risco desmedido teria de ser feito, ela o faz . Dois pássaros gigantes estão bradando alto, parecem gritar com os bárbaros e com Goroth, afinal são eles que estão matando mais uma de sua espécie e ninhada,ali embaixo, elas vêm aterrisando lentamente com sede de vingança, Dorothy Lynn, que sabe domar e montar cavalos com asas, montar cavalos terrestres e até dragões, com seu jeito nada dócil e venturoso vai tentando capturar uma das aves, enquanto ela tenta e não consegue, Martin e seus soldados penam com a batalha descomunal, os golpes e a espada pesada de Goroth castigam cada vez mais, o escudo de Goroth é do tamanho de um homem, Dory, além de tudo, tem que lutar bravamente contra vários homens que obviamente, querem molesta-la e usufrui-la de todas as formas, é assim que os bárbaros agem com as frágeis criaturas do sexo feminino, até elas se deteriorarem como ser humano e passarem a servir apenas como escravas zumbis, a mercê dos infelizes rejeitados da muralha.
Dory aguarda o momento certo em que as gigantescas aves aterrissam sedentas de vingança até que finalmente consegue montar na criatura de asas imensas, com pelugem escura, garras negras e bicos curvados alaranjados, contudo, as aves agigantadas sempre tiveram poucas chances quando tentavam se aproximar das profundezas do abismo, eram caçadas, derrubadas e dominadas sem misericórdia. Mas para a sorte de Martin, de seu exercito e de Dory, elas não desistiam nunca de retornarem para encarar as flechas, lanças e ataques ferozes afim de salvar sua espécie dos miseráveis rejeitados, Dory corajosa e ágil, montou finalmente na bela ave gigantesca e foi guiando-a com toda destreza, Martin segundos antes pensara " Ela está tentando mesmo dominar e montar naquilo! " que cena encantadora, no inicio o pássaro teimava em obedece-la, tentou se contrapor e até joga-la abaixo, então Dory fez ruídos e sons esquisitos com a boca como se pudesse se comunicar com a fera voadora, a batalha fica de igual para igual, pois os ataques vindo das alturas começaram.
- Mas o que é... - Exclamava Alika sendo interrompida.
- O que é que ela tá fazendo ? -
-Como ela conseguiu fazer isto? - Espantam-se vários abismados e rejeitados a indagarem.
Olhando para cima todos veem o que não conseguem acreditar, a garota de cabelos longos esvoaçantes, parecia uma espécie de deusa do olimpo, com rosto, pernas e braços esfumaçados e arranhados, ainda tem força para arrancar pedaços de pedras da muralha, preenche-las de labaredas exaladas de suas mãos e as jogarem de cima abaixo, elas caem como se fossem meteoros, e apesar do corpo quase franzino de adolescente de 14 anos, cada sobejo dela e do pássaro na muralha, é a certeza de que uma pedra cada vez maior, decairia sob as cabeças dos guerreiros, começara o início da destruição do exército bárbaro, agora, impotentes.
Estava mais do que na hora de Dorothy se tornar uma justiceira assassina, aguerrida e destemida. Não! Ela não é tão impiedosa e cruel quanto Alika, mas sobrevoando magnificamente para onde bem entender, mirando em cima de Goroth e seus bárbaros, jogando as pedras em chamas sobre eles, ela tornara-se odiada e tirânica, é hora de conhecer quem é de verdade, a criatura maligna e cruel daquele lugar desgraçado.
Dorothy bem que poderia subir e subir, saindo de vez das profundezas da treva do abismo já que se encontra montada em cima daquela criatura, aliás, é isto que Martin Ühler deseja, que ela alcance o topo daquela muralha e se salve, adentrando naquele misterioso reino. Esta é a diferença do amor verdadeiro, maior ainda é o amor de Dorothy, que não se vê fora do abismo sem o seu guerreiro amado, Dory nem cogita a possibilidade de sair dali sem ele, sem falar na fé que ela tem em seu salvador, e não é Humius, é o própio Deus. Martin, vendo que Goroth e seu bárbaro exército estão a fugir das rajadas de fogo que Dory disfere das alturas, sente que a hora de atacar furiosamente é aquela, antes, ele vai em direção ao seu escudeiro Bernard Khamel e arranca a espada de Goroth de seu peito, claro, fechando as pálpebras para não ter que ver seu servo ser estendido ao chão, morto, ainda de olhos abertos, a ponta da espada cravada no solo quente, deixou-o dependurado. Sobre ela. Mas a vingança cruel aconteceu, Goroth, foi morto com sua própia espada, Martin não iria deixar de mata-lo se não assim o fosse, o ogro grandalhão custou a cair desfalecido, antes de ser golpeado por Martin já sofrera atingido com uma pedra chamuscada lançada das alturas em sua cabeça, o comandante dos rejeitados caiu pela ultima vez com a espada fincada em seu crânio, Martin arquitetou e finalizou com êxito tudo que sua mente imaginou fazer. Assim que viu Khamel sendo assassinado com a dita espada, o seu subconsciente insano de imediato planejou : " matarei esse gorducho com sua própia espada enfiada nos seus remelentos olhos ". Foi o que se sucedeu.
Foi só finalmente matar Goroth, que o exército bárbaro desmoronou e os 19 homens de Martin Ühler se engrandeceram a matar um por um dos impedidores da subida. Ainda restam muitos dos abismados, inclusive Moghloore, o ex soldado traidor de Martin, aquele que trocou o exército do bem de Ühler, pelo tesouro das pedras. Pois bem, tornou-se um assumido adversário de Goroth, bem verdade que ele chegou á muralha antes do exército leal de Ühler, mas seu exército também foi destruído e ele além de estar sem uma das pernas, decapitada pela batalha sem causa, também se deparou com a rejeição da subida, não pôde subir a muralha, suas mãos ainda estavam úmidas e escurecidas pela maldição da rocha da muralha íngreme e escorregadia, Moghloore contrito, susurrou :
- Martin, você chegou ! -
- Cadê o seu tesouro Moghloore ? - Respondeu irônico Martin, fazendo o ambicioso e infeliz homem calar-se arrependido.
Martin sobe em cima do agigantado pássaro morto que carregava a carruagem, levanta suas espadas apontando pra cima e em cima do animal chama seu exército:
- Vamos subir a muralha!!! -
Todos dão um grito de euforia e seguem rumo a tão almejada muralha da subida.
Martin á frente e em seguida seu exército escalam aquela muralha de altura quase interminável, a cada metro que está sendo escalado, uma vitória, Martin vê o desespero de perto dos que não conseguem subir, lado a lado agora com Alika e Haderi.
- Agora entendo por que são chamados de rejeitados - Diz Martin a olhar para baixo.
- Meu Deus ! - Murmurou Alika ao ver como os rejeitados caem abaixo numa queda livre.
Martin e seu exército finalme chegam a grande ponta de uma pedra, é o primeiro penhasco da muralha que acolhe várias pessoas e as deixam bem asseguradas logo a 20 metros de altura do chão das trevas. Martin enraivecido por ver aquela cena, matança sobre matança sendo primazia entre tais fracassados, a escolha dos rejeitados agora é se deteriorarem no solo firme, já que não podem subir , que matemos uns aos outros, Martin fecha as mãos com força chegando a estralar os dedos, aperta sua espada a repelo e raiva cravando-a no chão da pedra, ela finca verticalmente imóvel . Dessa vez é Martin que grita com euforia e regozijo, em seguida brada:
- Que subam todos que me seguiram, e os que não derramaram sangue inocente. -
Uma multidão a gritar e empurrarem-se com esperneio , se agarra a muralha e mais da metade desliza caindo ao chão após subirem menos de cinco metros.
- Não adianta se enxugar nem derrubar quem está do lado não é ? -
Grita a provocar Martin que conclui - Então é isso ! O abismo se encarrega de puxar os seus amaldiçoados para o chão da treva -
Martin está se referindo aos abismados que quando estão a subir, escorregam inexplicavelmente, pior é que parece uma maldição, são incapazes de escalar a muralha, pois derramam repentinamente das suas mãos um líquido enegrecido. Martin Ühler já sabe do que se trata, é a ultima maldição de Humius, o que escorre das mãos daqueles incontáveis infelizes é, sangue negro dos rejeitados do abismo, a condenação eterna dos malfeitores e perversos, á medida que Martin Ühler e seus guerreiros sobem, eles olham para as própias mãos temerosos, mas nada há de acontecer, eles sabem que são os escolhidos do reino para escalarem o abismo, nem que o inocente e seguidor do exército de Ühler tenha uma idade de cem anos, esse sentirá cansaço e resvalará da muralha perpendicular verticalmente declivosa, para muitos, a muralha amaldiçoada, a derradeira sentença dos abismados .
Ninguém mais consegue tal façanha e com tamanha inveja e revolta, a multidão de abismados rejeitados lá embaixo, que são maioria, começam a jogar sobre eles pedras, lanças, espadas, facas e tudo mais que encontrassem pela frente, Martin, Dory e o exército leal defendem-se com a barreira de escudos formada. Moghloore tenta subir meticulosamente ás espreitas e para o espanto de tantos, desta vez ele vai conseguindo, um homem cai de cima abaixo tentando a escalada, ele sem esperança e cegamente desesperado, já desequilibrado do aspecto mental, decapita as duas mãos com a própia espada, com intuito de não fazê-las escorrerem pela muralha a derramarem sangue negro amaldiçoado, mas não é uma boa idéia para quem precisa subir uma muralha quilométrica .
- Como é que vai subir agora seu aleijado? Hahahahaha! - Gritou Moghloore tirando sarro, é contraditório por que ele também não tem uma das pernas e provocou a afrontar o auto mutilador, por não ter uma das pernas isso até o ajudou na escalada, aos trancos e barrancos Moghloore vai escalando mais alguns metros, só que sua mão esquerda está ficando úmida e ensopada do sangue enegrecido, ele parece ser mais um amaldiçoado rejeitado da muralha, vai se atrapalhando e antes que a mão direita também assim ficasse, ele num último impulso e sussurro, alcança a tão almejada primeira ponta de pedra, o primeiro penhasco da muralha, de língua para fora, esbaforido e exaustivamente arrasado, após Martin e o exército leal passarem por ali, é a vez dele que ainda ofegante, levanta-se, olha para baixo sem acreditar que chegara aonde pouquíssimos chegaram.
- Que vai fazer moghloore, vai morar aí ? - Indaga um abismado,
-Hahahahhaha!- sorriu parte da multidão olhando para aquele solitário abismado a alcançar o primeiro penhasco.
Moghloore mostra-lhes um dedo num gesto obsceno e prossegue a escalada. Moghloore vai subindo e escalando ainda mais alto com toda propriedade e habilidade, dessa vez, toda multidão observa com silêncio e com olhares minuciosos para saberem onde e como, ele traça seu caminho bem sucedido. Nunca se viu tanta gente a olhar para cima e desejar uma só coisa; que um abismado desabe para a morte. Continuando Moghloore a subir mais alguns metros, o barbudo homem manco de uma perna, deixa a ponta da pedra e vai subindo e galgando caminhos ainda mais altos da muralha, já passou metros e metros do primeiro penhasco, e os primeiros murmúrios e cochichos dos inconformados começam a ser proferidos.
- Mas é óbvio, ele era do exército desse garoto maldito, por isso consegue subir. -
- É verdade, ele estava junto desse garoto e de seus homens. -
Se precipitam aqueles que também creem e se acham capazes de alcançar o primeiro penhasco tão perto porém tão inatingível.
- São todos uns bastardos! E meros abismados como nós, vamos tentar também, até sair dessa merda de abismo. - vociferou mais um dos inúmeros comandantes que surgem a cada momento pondo as mãos condenadas na muralha e iniciando a escalada.
E passou-se o mini penhasco, mais dez, quinze, vinte metros e Moghloore não descansa nem para respirar, parece querer mostrar que vai alcançar Martin e seu exército, vai subindo sem pestanejar mesmo com as mãos começando a escorregarem e a derramar sangue negro, ele fica pequenino do tamanho de uma formiga pra quem o vê debaixo. O ambicioso Moghloore não tinha jeito, ele olha para os seus bolsos arriados, pesados, pois ainda haviam barras de ouro neles, o avarento prefere prosseguir a escalada mesmo carregando o tesouro na algibeira, tesouro que já lhe punira uma vez, e é a ultima lembrança que tem, de ver o metal amarelado reluzir na sua fuça até que :
- Olha só! Ele esta caind... - Gritou debaixo um abismado.
- Cabruumm !!! -
Moghloore escorrega de vez e cai gritando até tombar no primeiro pequeno penhasco, o peso do seu corpo fez a pontuda pedra desmoronar e afundir sobre a cabeça de vários abismados, ao menos dez são esmagados e atingidos pelas pedras. Continua o dilema, " subir ou não subir ? eis a queda."
Pois Martin Ühler, sua amada Dorothy e o exercito leal, estão quase na metade da muralha e nada de suas mãos escorregarem, nem derramarem ou expelir qualquer espécie de maldição relativa a sangue, sangue inocente, também pudera, já basta os braços que surgem da muralha de repente, querendo derruba-los, é preciso subir e ao mesmo tempo se equilibrar tendo que golpear aqueles braços que os empurram para baixo, é ali onde a muralha mantem encarcerado os decapitados sem corpo. É a última tentativa de impedir que Martin Ühler, introduza adultos naquele reino tão especial e reservado por Humius, o reino dos puros e singelos, qualidades encontradas apenas nas crianças, os adultos que ali chegarão, se é que chegarão, não permanecerão convivendo com crianças e estarão em outra morada, vão reencontrar seus parentes em outra dimensão e reino.
E os abismados do exército de Martin Ühler que têm seus filhos ?
Bem, os pais ficarão com seus filhos e os filhos ficarão com seus respectivos pais em outra morada interestelar e celestial. O reino de Martin Ühler será para toda eternidade, habitada pelas crianças de todo o planeta terra que não tiveram seus pais, isto é, não conheceram ou foram abandonadas pelos seus pais na terrena passagem, está aí mais um castigo para a humanidade, os filhos esquecidos, que são as crianças do reino de Ühler, podem conhecer ou reverem seus pais sempre que desejarem, uma vez por dia. Quem faz essa intermediação e foi destinado para reger um reino de crianças e um dos lares edênicos de Deus, só poderia ser alguém de inocência pura, um iluminado.
Mas pera aí! Esse Messias, esse ser ungido que ira intermediar isto, o enviado pelo divino criador é Martin Ühler ? O garoto de treze anos que atacou sem pudor e assassinou é verdade, centenas de seres humanos e criaturas?
É o que todos se perguntam lá embaixo. Mas eles, na sua insignificância condição de infelizes abismados, condenados pela muralha, tiveram a honra de conhecer Humius e sua estrepita voz a bradar lá de cima:
- Abismados! - Todos olham para cima estupefatos, tantos os rejeitados da subida quanto o exército do garoto a escalar, o semideus tomando conta do céu, continua a explicar lentamente: - O garoto Martin Ühler destruiu e exterminou numa proporção desmedida a vida de muitos, muitos filhos do meu senhor eu sei , mas ele estava lhe dando com vocês humanos, com humanos adultos o que é pior, só por este motivo foi lhe dado á autonomia de agir como tal espécie se interage a milênios e milênios, a base da destruição, do desamor e do ódio, então vocês e os abismados que foram mortos, não são filhos do senhor, são criaturas do mundo." - Continuou o semideus Humius a impressionar com sua aparição e por dizer: - Então foi dada a ele, a espada da morte e sua missão íngreme, bem-vindos a Zenkoulous. - Terminando Humius a proferir sua verdade em manifesto, os abismados condenados perguntam aos céus, o que podem fazer para escalar com êxito essa subida.
- O que podemos fazer para subir meu senhor! -
-Por que não nos deixa subir -
- Deus, me salve! -
Começam as crenças efêmeras e os remorsos, os lamentos e as perguntas, todas sem respostas, Humius já desaparecera.
Nem Martin, nem seu exército digno de subir para o reino, passam por apuros ou escorregam da muralha como aqueles infelizes lá em baixo, a única provação é lutar contra os braços que surgem para agarra-los ou empurra-los para baixo, as espadas tratam de esfacelarem-na, parecem os braços dos desenterrados do deserto infernal de Draskhon, aliás, tem muitos desenterrados cadavéricos também a escalar á muralha e próximo de tomarem sua forma humana saudável e espiritual

O Abismo De Martin ÜhlerOnde histórias criam vida. Descubra agora