Finalmente saímos da beira do muro e começamos a caminhar para a entrada.
- Esta é a parte em que tu abres com um chuto ou com um travessão?
- Eu prefiro abrir com as chaves é mais rápido.
- Pois também funciona.
Ele deve pensar que eu sou muito burra, isso irrita-me e parece que esta noite não vai correr assim tão bem. Depois de abrir a porta estávamos a andar pelo corredor calado e então decidi quebrar o silêncio.
- Como é que conseguiste as chaves? Roubaste-as?
- Não o meu tio trabalha na escola eu simplesmente trouxe emprestado.
Não me parece que esse tio tenha emprestado as chaves assim sem mais nem menos.
Depois chegamos a uma sala que eu penso que deve ser onde estão as folhas todas. Ele abre a porta e começa a procurar nas folhas as vagas para o curso de desenho. De repente ouvem-se passos e o balançar de chaves. Ele puxa-me por um braço e deita-me em cima dele no chão para que o guarda não nos visse. Ele estava tão próximo que eu conseguia sentir o seu coração a bater depressa. Eu nunca tinha estado tão próxima assim de um rapaz. Ele olha para mim e leva o dedo a boca num gesto de me dizer "shiu", eu abano a cabeça num gesto de afirmação.
Mal o guarda saiu comecei a preencher uma folha com os meus dados para ficarem lá guardados e para a minha garantia de uma vaga para desenho. YES!!
Depois saímos da sala deixamos as coisas como estavam e trancamos a porta de entrada. Quando chegamos ao muro mais uma vez ele atirou-me para cima do muro mas desta vez com mais gentileza e atravessamos o muro para o lado de fora.
- Obrigada por tudo.
- Vá eu levo-te a paragem do autocarro. Ah! Quase que me esquecia.
Ele foi ao lixo buscar as minhas botas.
- Só as pus no lixo para ninguém levar.
- Obrigada e desculpa por me ter precipitado. Como deves calcular eu nunca tinha feito isto na minha vida.
Enquanto falávamos ele ajudou-me a calçar as botas.
- É bom que tu habitues, porque se vais passar 3 anos nesta cidade, vai haver muitas mais coisas deste género.
- Contigo?
- Não precisa de ser comigo, quem sabe não arranjas aí uma amiga toda rebelde - disse num ar irónico.
- Ahahahahahahahahah.
Ele fez-me rir com a sua expressão. Rapidamente chegamos à paragem do autocarro, ainda faltava 10 minutos para ele chegar e por isso tentei por conversa para passar o tempo. Mas o que perguntar? Antes de dizer alguma coisa ele começa a falar.
- Deve ser fácil viver com 50 mocas no bolso todos os dias.
- Como assim?
- Vocês, os ricos, devem aproveitar bem a vida. Viajar para outro pais todos os fins de semana. Comprar Iphones e usar roupa da Gucci... Vocês calcão e recalcão-nos só para chegar onde quererem. Só para ter dinheiro. Ninguém percebe o esforço que nós temos que fazer para ter pelo o menos pão na mesa... Só estou a dizer...
- Eu não fazia ideia de que era assim tão complicado.
- Ninguém faz é por isso que já ninguém se importa. Nós não temos tempo para sonhos, fartamo-nos de trabalhar só para ter uma refeição na mesa enquanto o resto do mundo continua feliz.
- Se precisares eu posso ajudar em alguma coisa.
- Eu não preciso da tua ajuda.
O autocarro já vinha ao fundo e então ele levantou-se e foi-se embora, desaparecendo na escuridão.
Durante a viagem toda fiquei a pensar no que o Rodrigo me havia dito. É verdade de que nós deixamos tão de lado as pessoas pobres? Agora com certeza vou ter melhor atenção com o que faço ou com o que digo.
Depois de chegar a casa fui tomar banho ainda a pensar no ele me tinha dito... Queria que ele fosse feliz, quero ajudá-lo. Só com esta coisa da vaga ele já me ajudou imenso, queria retribuir o favor. Ele não me conhecia de lado nenhum e ajudou-me sem pensar duas vezes, bom eu paguei-lhe o almoço mas isso não é bem uma forma de pagamento. Vou ter que pensar numa coisa sorrateira, mas que o ajude imenso. Preciso de lhe retribuir o favor, ele merece.---------------------------
*Rodrigo*
Grande aventura, já não fazia isto a algum tempo. Aquela Patrícia é que... não sei. Ela parece boa pessoa, mas também parece ser igual a todos da sua laia. Amanhã começo a trabalhar, sem a minha mãe a ajudar só resta eu para sustentar a minha irmã. Coitada, não tem culpa nenhuma disto tudo. Só queria puder dar-lhe uma vida melhor... Tenho que ir dormir, já é tarde. Ah! Antes que me esqueça, tenho que por as chaves no sitio antes que o meu tio dê por falta delas.
De volta à cama.
Boa noite pai, gostava que tivesses ficado aqui por mais tempo, tenho saudades tuas e mesmo que a Bruna não o diga ela sente o mesmo. Espero que estejas melhor do que eu onde quer que estejas. As pessoas dizem que é o céu, mas eu acho que estás num sitio melhor... (Sorri para a foto do pai)
Boa noite.
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Um Amor Impossível
RomanceUma rapariga muda de cidade sozinha com os seus pais que nunca estão em casa. Na cidade nova ela conhece um rapaz com poucas possibilidades financeiras. Eles acabam por se apaixonar, mas ainda irá haver muitas pessoas a colocarem-se no caminho deles...