Quem me dera poder Ajudar-lo

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Eu realmente não me devia ter metido na vida do Rodrigo, ele quase que era esfaqueado por minha causa! Não consigo imaginar se isso tivesse acontecido... Entre os meus pensamentos ele começa a contar a sua história de vida.
- Bem tudo começou quando o meu pai teve uma proposta de emprego incrível, ele era polícia. Estava tudo a correr bem o meu pai estava a ganhar um ótimo salário, pois era muito bom naquilo que fazia. O chefe dele quis investir mais no meu pai e disse-lhe que tinha uma proposta irrecusável e que o faria ganhar muito dinheiro. Ele contou-nos isso, a mim, à minha irmã e à minha mãe. Todos nós ficamos empolgados pois finalmente íamos sair da miséria e a minha mãe já andava até a gastar dinheiro que ainda nem tínhamos, como por exemplo, inscrever-me em aulas de karaté que é uma coisa que eu sempre gostei.
- Foi por isso que te defendeste tão bem contra tanta gente?
- Sim, mas avançando. Tudo tinha motivos para dar certo, até sabermos de um pequeno pormenor. O que o chefe do meu pai não nos tinha dito, era que ele tinha que ir trabalhar para fora e como ainda não tínhamos dinheiro, não poderíamos ir com ele, pelo menos cerca de 3 meses que estaríamos afastados dele. O meu pai achou a ideia incrível e uma excelente oportunidade, mas ele amava-nos e era impossível para ele viver sem nós. E por isso recusou a proposta.
A minha mãe quando soube ficou maluca e uma noite...

De repente vejo uma lágrima a escorrer do seu rosto e rapidamente ele limpa-a.
- A minha mãe estava tão cega pelo dinheiro que pegou na arma do meu pai e...
Ele estava cada vez a chorar mais...
- E estava a apontar ao meu pai ameaçando-o a dizer que o matava se ele não dissesse ao chefe dele que afinal queria ir.
Coitado... A vida dele tem corrido tão mal... e eu ainda ajudei a ficar pior com a porcaria que fiz.
- O meu pai disse mais do que uma vez que não conseguiria nos deixar...
Ele chora imenso...
- Eu e a minha irmã estávamos a assistir a tudo isto e como eu sabia que a minha mãe não tinha intenções de parar até o meu pai mudar de ideias... Eu tentei tirar-lhe a arma, mas... Mas... Acabei disparando no meu pai.
Ele começa a chorar sem parar. Eu fico perplexa e tento apoiá-lo pondo a minha mão na dele.
Depois de se acalmar um bocado continua a falar.
- Este assunto obviamente foi levado a tribunal, e óbvio que não queríamos que a nossa mãe fosse presa e então omitimos a parte em que ela estava a ameaçá-lo. Dissemos ao juiz que estamos na brincadeira com a arma e que sem querer disparamos. O crime foi considerado um acidente, mas ainda tivemos que pagar uma multa, por andar a "brincar" com a arma.
Depois de tudo isso a minha irmã ficou revoltada com a vida, a minha mãe virou alcoólica porque pensa que a culpa é dela e eu tentei manter-me forte para sustentar esta família. A minha mãe não tem trabalho e de vez em quando não sei como trás dinheiro para casa, outras vezes ela tira-nos... Passa os dias fora de casa sabe-se lá a fazer o quê. Agora tento viver cada dia com trabalho aqui e acolá e... Essa coisa com as drogas era também para me ajudar a ganhar dinheiro. Eu nunca irei tomar isso na minha vida, ia apenas comprar para depois vender mais caro... Isso até tu apareceres e acabares com tudo.
- Eu peço imensa desculpa, eu não sabia de nada disso...
- Está tudo bem... Tinha sido pior se algum de nós tivesse-se magoado.
- Eu não sei o que dizer... Tu já me ajudaste imenso só com aquilo da vaga, eu... eu não sei, eu senti necessidade de retribuir o favor.
- Eu percebo e agradeço a tua preocupação comigo, mas não precisas eu tenho conseguido desenrascar-me sozinho.
- Mas eu quero muito.
- Por enquanto tenta manter-te viva, sabe-se lá o que poderia ter acontecido se aqueles rufias te pusessem as mãos em cima.
Eu rio um pouco, e ficamos a olhar um para o outro durante um tempo.
De repente só vejo um guarda chuva a vir na direção da minha cara, quando o Rodrigo o para com a mão.
- Então, Bruna? Estás tola?

- Rodrigo?
Era a irmã do Rodrigo que me tentou atacar, mas espera. É a mesma rapariga que me gozou no primeiro dia que vim para a cidade! Ai, não! Só espero que ela não se lembre.
- Olha... Esta é a gajinha que queria uma piscina. Experimentaste o conselho do alcatrão? Ah?
- Do quê que estás a falar? (perguntou o Rodrigo)
Eu apenas tentava olhar para o lado com a vergonha. De todas as raparigas do mundo tinha que ser esta.
- O quê que esta senhora faz aqui?
- Calma, Bruna. Ela é uma convidada. (explicou Rodrigo)
- Ah sim? E quando é que ela vai embora?
- Ela vai passar aqui a noite, pois já não há autocarros a esta hora para ela voltar.
O quê? Eu não sabia dessa parte. Vou ter que ligar aos meus pais.
- Passar aqui a noite? Como é que uma gaja como ela vai passar aqui a noite? (perguntou a Bruna irritada)
- Não a trates assim, ela não é como os outros.
- Ah sim? E como podes ter tanta certeza?
- Ouve ela vai passar aqui a noite e depois vai-se embora.
- Espero bem que sim não quero ninguém da raça dela aqui em casa.
- Tudo bem agora vai-te embora.
- Calma, eu vim buscar um copo de água.
Enquanto ela foi buscar um copo de água ela encara-me nos olhos com desprezo e depois vai embora.
- Eu peço desculpa pela minha irmã, como pudeste ver ela está revoltada com a vida.
- Está tudo bem! Eu posso ir à casa de banho?
- Claro, claro que sim. Já sabes onde é.
Fui à casa de banho e aproveitei para mandar uma mensagem aos meus pais a explicar que não havia autocarros aquela hora e que ia ficar a dormir em casa da suposta amiga. Quando voltei para a sala ele tinha cobertores no sofá óbvio para eu dormir.
- Estou aqui a arranjar um sitio para eu dormir.
- Então? Então e eu?
- Tu vais para minha cama quero que te sintas confortável.
- Oh, mas não era preciso tanto.
- Não faz mal. Eu levo-te lá.
Ele levou-me até ao seu quarto que por acaso não tem nada de especial, é um quarto simples. Ele abre os cobertores da cama e diz:
- Está aqui a tua cama.
- Obrigada!
Ele sorri. Enquanto me deito ele tenta cobrir-me e aconchegar-me como se me tivesse a proteger. Depois de eu estar confortável ele olha-me profundo nos olhos e deseja-me uma boa noite. Eu respondo-lhe com um sorriso na cara e quando ele vai para sair do quarto, já com a mão no interruptor, ele faz um sorriso sincero para mim. Eu sorrio também. Por fim ele apaga a luz e fecha a porta, eu acho que nunca tive um dia tão agitado e tão longo. Espero que tudo corra bem e que ele consiga superar esta vida horrorosa que ele tem. O Rodrigo é tão querido comigo e tão cuidadoso, quem me dera mesmo poder ajudá-lo. Bom tenho que dormir e os meus pais quase de certeza que me vão matar quando chegar a casa amanhã, mas bem vá-se lá fazer o quê.

Um Amor ImpossívelOnde histórias criam vida. Descubra agora