O que é esse sentimento?

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Observa-lo de longe tornou-se o meu hobby favorito, mas tudo parecia perdido quando ele me olhava de volta. Podia sentir o chão desaparecer debaixo dos meus pés. Mas não era um olhar qualquer, era um olhar de raiva e desaprovação.

Confesso que seu jeito intimidador me causava um certo arrepio. Sinceramente? Era assustador! Mas eu não me importava, desde que aquele olhar não se desviasse de mim em nenhum momento.

E foi assim durante um ano. Somente o observando de longe, interpretando cadal passo seu. O jeito de sorrir e como ficava atraente quando se perdia nos próprios pensamentos.

E mesmo que nunca nos dirigimos uma palavra, sentia que o conhecia a muito tempo. No máximo uma troca de olhares. Não que ele olhasse para mim, era apenas um eu bobo que tentava desesperadamente manter contato visual com o rapaz do outro lado. Ele podia sentir o peso dos meus olhos sobre ele. Seria uma atitude assustadora se o maluco não fosse eu.

Talvez você esteja curioso pra saber como tudo isso começou. Então permita-me contar como nos conhecemos. Tudo começou durante o torneio anual do jogos escolares de César Breyner. Estávamos no ginásio da escola e minha turma jogava ferozmente contra uma equipe qualquer. Como sempre, eu estava no banco reserva esperando uma oportunidade em campo. Algo que nunca me ocorreu durante o torneio.

O fim da partida chegou dando início a próxima equipe. Era a vez do primeiro ano jogar. Eu permanecia no banco apenas observando o alunos do ensino médio chegarem. Depois de alguns minutos, me levanto e me junto a minha turma na arquibancada. Eles pareciam empolgados, talvez com a recente vitória. Estávamos em primeiro lugar em todos jogos dos alunos do fundamental. Também conhecidos como iniciantes.

As equipes do primeiro ano chegam e se posicionam na quadra. A galera gritava em favor da sala D que garantiu um placar inacreditável de 22 à 5 contra a sala E. As partidas foram chegando ao fim e sem nenhuma derrota. A sala D tinha os melhores jogadores e os alunos mais inteligentes da escola. Qaue os garantiam as vitórias mais marcantes e inexplicáveis. Pareciam até profissionais em campo.

O tempo foi passando. O primeiro ano foi eliminando time por time. Restando apenas a última sala do terceiro ano e também a única que fazia a sala D ficar de joelhos. O clima na quadra estava pesado. A arquibancada em total silêncio. Assistíamos o últimoq jogo ansiosos para ver quem iria levar a taça.

O juiz deu partida e o jogo se desenrolou na quadra de vôlei. Pouco a pouco os alunos do primeiro ano eram massacrados a cada tacada, arrancando vaias indignadas do público. Os tão respeitados primeiranista se mostravam completamente desmotivados. A diferença de pontos que marcava no placar era absurda. O jogo estava entregue com uma vitória certeira para o terceiro ano.

Faltava poucos minutos para o fim da segunda partida que consequentemente terminaria com a derrota da sala D. As vaias aumentaram e logo foram interrompidas por uma voz na arquibancada que gritava fervorosamente.

- E. R. I. C. K. - Olhei confuso e o grito do rapaz ganhou força com a voz da plateia. Todos chamavam por esse suposto jogador. O juiz soou o apito após o pedido do técnico, que logo satisfeito, se direcionou até o banco reserva.

Um garoto alto se levantou e acompanhou o homem ao seu lado. Seus passos eram firmes e confiantes. Ele sorria como um predador para sua presa. A sua frente estavam o seus adversários que pareciam nenhum pouco feliz com a inesperada troca. O apito soou novamente. O rapaz se posicionou e lançou seu primeiro ataque. A bola atingiu em cheio o campo adversário e a plateia foi a loucura. Segundos passaram e o placar foi marcando uma diferença brutal de pontos. O jogo chegou ao fim com uma vitória impressionante. Depois de um breve discurso que ninguém fez questão de ouvir, a taça dourada é entregue aos campeões daquele torneio.

Um sequência de palmas se estendeu por todo ginásio. Os primeiranistas comemoravam sua vitória com o às do time com um clichê ipi ipi urra. O técnico abraçou o rapaz emocionado que apenas retribui com um sorriso forçado.

Me levantei junto com a multidão que corria em disparada em direção a saída. Após descer a arquibancada, deitei meus pés sobre o chão frio e permitir que os meus olhos pousasse sobre o rapaz do outro lado. Ele estava cansado e ofegante. O suor em seu rosto escorria por toda camisa molhada. Um vento forte adentrou as janelas e o atingiu em cheio, balançando levemente os seus cabelos ruivos. Ele piscou pesadamente e eu pude ver suas grandes íris douradas como o sol da manhã. Meu coração falhou uma batida e uma pontada estranha preencheu o meu peito.

Meus olhos não se desviavam dele. Eu não conseguia. O garoto parecia uma escultura renascentista. Era de tirar o fôlego.

Sorrir ao ver um grupo de garotas o encarando ao meu lado. Suspirei alto e caminhei em passos curtos até o portão de ferro. Eu estava exausto e de alguma forma me sentia esquisito. Meu coração palpitava cada vez mais forte como se a qualquer momento fosse sair pela minha boca.

Parei em frente a saída um tanto relutante, aponhei minha mão sobre o batente e congelei meus dedos ali. E sem nenhum controle meu rosto se desviou para Erick novamente. Fiquei o encarando por longos minutos até que nossos olhos se encontraram. Corei mediatamente e abaixei a cabeça envergonhado. E com o canto dos olhos pude ver o sorriso de lado com que ele me fitava. Inspirei devagar tentando controlar as batidas em meu peito.

Mas foi em vão, meu coração batia descontroladamente.

Simplesmente Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora