O Retorno

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Chovia intensamente lá fora. Pelo vidro da janela observei os alunos do segundo ano jogarem na quadra de vôlei. Restava apenas alguns minutos até o fim da aula. Era uma sexta-feira. E como todo início de fim de semana eu me sentia esgotado. Alguns dias havia se passado depois que Erick "visitou" minha casa. E mesmo me dizendo naquela noite que nos veríamos na escola, na manhã seguinte o garoto me ignorou completamente.

As vezes, distraído, acabava o observando sem perceber. Observando a maneira como ele andava, como brincava com a colher antes de comer e até mesmo quando mordia os lábios quando se sentia sobre pressão. Quando nossos olhos se cruzavam em algum dado momento, Erick rapidamente virava o rosto e o corpo bloqueando minha visão dele. Meu coração doía, mas sinceramente, que homem iria querer um cara olhando para ele. Ainda mais Erick o popular e respeitado aluno de César Brayner.

Continuei ali no canto da sala. Com minhas mãos no pequeno bolso do meu casaco. Assistindo os jogadores treinar suas tacadas. Cansados, suados e cheios de dedicação. No meio deles um rapaz alto e de porte atlético treinava intensamente. Cada movimento que ele fazia era bem calculado. Sempre se esforçando ao máximo. Me peguei sorrindo, enquanto admirava seu corpo. Ele estava incrivelmente lindo naquelas roupas esportiva. Rir quando um dos seus amigos pegou a bola da mão dele, o deixando irritado. Ele levava tão a sério o vôlei.

- Jogo idiota. - Sussurrei baixinho enquanto observava Erick beijar e abraçar a bola.

Sentindo ciúmes de um jogo? É sério?

Esfreguei meu rosto com força. Eu estava ficando louco.

Recostei minha cabeça na janela e dali o admirei outra vez. Sem pudor, observei Erick tirar a camisa e limpar o pouco de suor que havia se formado em seu rosto. Ele jogou a camisa no chão e caminhou devagar até o fim da quadra. Se afastando de todos os outros jogadores. Arquiei a sombrancelha confuso do porque dele se isolar naquele canto vazio. Quando inesperadamente o ruivo olhou em minha direção. Seu rosto estava sério. Mordi os lábios nervoso. Ele parecia bravo.

Vi Erick retirar um celular do bolso do short. Continuei o encarando sem entender vendo ele apontar para o aparelho na mão, chamando minha atenção para o pequeno objeto. Iria abrir a janela para perguntar o que significava aquilo, quando meu telefone tocou anunciando uma nova mensagem.

O peguei de cima da mesa e desbloquiei o mesmo, clicando na caixa de texto.
O aplicativo abriu revelando uma mensagem curta de um número desconhecido. Na pequena frase continha a seguinte mensagem;

*

Não consigo me concentrar com você me secando desse jeito.*

Senti Tanta vergonha que desejei morrer naquele momento...

(***)

Caminhei devagar no corredor do colégio, enquanto aguardava a aula de física começar. Sabia o quanto a aula seria exaustiva. Então sai e fui até o bebedouro buscar um pouco de água. Após encher minha garrafa, sentei em um banco lá fora. Eu precisava de ar fresco.

Deitei minha cabeça no concreto mal feito e contemplei as pequenas nuvens que se formavam no céu ameaçando chover. O clima estava bom. O céu azul me trazia calma e tranquilidade. Coisas que eu precisei para lidar com os últimos meses da minha vida. Olhei a tela do celular. Semanas haviam se passado. A data no celular informava uma quarta-feira de julho.

Suspirei alto, enquanto um sorriso fraco se formava em meu rosto.

Erick Baker. - Pensei levando meus dedos acima de minha cabeça e escondendo as nuvens entre os mesmos. Pareciam pequenas e deforme como algodão doce. Suspirei outra vez.

Simplesmente Um AnjoOnde histórias criam vida. Descubra agora