Confissões Internas - John

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John não entendia o que sentia por Sherlock. Ou, se entendia, fazia o que fosse possível para se convencer do contrário. 

Desde que se conheceram, John se surpreendeu com sentimentos fortes pelo amigo, mas acabava por tentar encaixá-los no rótulo de "admiração" todas as vezes. 

Nas primeiras semanas em que conviveram, ele absorveu que havia se deslumbrado com a inteligência de Sherlock, sua capacidade de ler as pessoas e também com a vida que ele levava; e estava tudo bem – apenas tinha criado dentro de si uma grande admiração pelo novo amigo.

 Tentou se convencer que era só isso por um bom tempo.

A união profissional dos dois foi tão natural que criara uma grande interrogação no interior de John. Estavam juntos, a adrenalina e a animação apareciam nos seus corpos com a notícia de um novo assassinato a ser desvendado e os dois amigos eram levados às ruas de Londres com sorrisos nos rostos... 

John passou os primeiros dias encantado com como tinha dado certo a união dos dois - tanto, que se tornara totalmente impassível ao aviso dos outros de que Sherlock "era uma aberração". 

Ele sentia uma certeza nova e estranha dentro do peito quando olhava para Sherlock e sabia que ele correspondia e valorizava cada vez mais a relação dos dois.

Com a rotina, John sinceramente achou que esse sentimento eufórico dentro de si se acalmaria. Seria normal que isso acontecesse.

 De fato, passou a conhecer os defeitos do amigo e exercitou sua paciência com afinco em muitas ocasiões. Conheceu suas manias, suas ideias mirabolantes, seu mau-humor e conheceu seu caráter. 

A surpresa foi maior do que a inicial – por incrível que seja; os dois conseguiram de forma legítima estabelecer uma amizade forte a ponto de ser eternizada, algo que John não sabia ser capaz de fazer.

 Zelo e afeto muito intensos invadiam o peito de John ao constatar que ele daria a vida pelo amigo e tinha certeza que esse também faria o mesmo; não pelo ato de coragem, mas pela confiança de que os dois sentiam suas vidas unidas a esse ponto agora, exatamente como uma família.

Assim,a história dos dois já seria sublime. 

Contudo, ainda havia algo dentro dos dois que intrigava a ambos... 

John demorou anos para admitir o que sentia por Sherlock. Resguardado pelo apreço que tinha pelo amigo, conseguia se convencer que era apenas bem-querer... 

Até que seu corpo por vezes não suportava mais a repressão do desejo e denunciava as segundas intenções de John pelo amigo. Eram momentos que surgiam em situações cotidianas e acabavam com o psicológico dele.

Como quando os dois estavam conversando sobre qualquer assunto e John começava a reparar na boca de Sherlock e quando percebia já estava olhando por tempo demais para seus lábios – então lhe invadia a vergonha do outro poder ter percebido e uma culpa inquietante.

 Ou quando ele chegava em casa e encontrava o outro dormindo jogado na poltrona e aquela cena simples mexia tanto com John que este ficava imóvel, quieto por minutos apenas olhando para ele, tentando absorver uma vontade imensa de abraçá-lo, se envolver nos seus braços e deitar no seu peito. 

A culpa o invadia denovo, pois conhecia o sono leve de Sherlock e imaginava que o barulho da chave certamente o havia acordado. 

Sherlock sabia que John o observava em situações assim e não se movia, muito menos comentava algo.

A pior circunstância acontecia quando John se masturbava e começavam a passar imagens do corpo nu de Sherlock na sua cabeça. Imagens detalhadas do seu corpo, de cada movimento que esse faria na cama, de como seria ele se masturbando também, o som de seu gemido, sua face de prazer – invadiam sua mente. 

John sentia uma angústia imensa depois de se aliviar, mas aquilo o estimulava tanto que em pouco tempo ele gozava, e por isso era inevitável que acabasse imaginando novamente em outra ocasião...

Quando John permitia a si mesmo refletir que realmente desejava Sherlock tudo era muito confuso e dolorido dentro de si. 

Era penoso não entender como poderia sentir aquilo pelo amigo. Sentia como se estivesse o traindo, porque não é correto ficar desejando a pessoa que convive com você e fingir que nada acontece – pensava. 

Além disso, John sempre foi muito simples em relação aos seus desejos – se ele gostasse de uma mulher, demonstrava que a achava atraente e a convidava para sair. 

Agora, estava desejando um homem, o seu melhor amigo, que mora com ele e que se diz casado com o trabalho, além de exibir uma postura sempre nada aberta a relações e quaisquer sentimentos amorosos.

Na maioria do tempo John se convencia de que esse desejo passaria, que ele não precisava ser correspondido, e que não era necessário abdicar de todo um companheirismo muito bem estabelecido por vontades idiotas, que isso seria até mesmo infantil. Era apenas um desejo... 

Mas sua inquietude atingia o ápice nos momentos em que John percebia que Sherlock correspondia a ele e isso o atordoava profundamente. 

Mesmo nesses casos John tentava se convencer que era um idiota imaginando coisas – "qual é o problema de duas pessoas se amarem como amigos???"

 Era muito clara a superproteção de Sherlock, seu zelo em relação ao outro; ele já tinha declarado várias vezes a importância dos dois terem um ao outro, era visível sua admiração por John – mas eram condutas que toda boa amizade deveria ter...

Contudo, John por vezes pegava o amigo olhando-o com mais veemência, podia jurar que via Sherlock suspirando enquanto o encarava às vezes, além de todo o ciúme que ele sentia por suas eventuais namoradas não parecer ser apenas medo de perder o amigo. 

Acabava se perguntando se o amigo também não sentia toda aquela confusão de sentimentos no peito.

JohnlockEDOnde histórias criam vida. Descubra agora