Confissões Internas - Sherlock

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Sherlock, quando viu John adentrar a porta da sala do necrotério, já percebeu que poderia superar muito suas expectativas em relação a procura de alguém para dividir a moradia. 

Já estava arrependido daquele impulso insano de pensar que conseguiria conviver com outra pessoa. Porém, ao ver John, constatou que seria muito, mais muito fácil. 

Apreciou internamente os ofícios do homem a sua frente – um médico militar certamente teria uma bagagem de conhecimentos interessante. 

Apreciou a aparência dele – Sherlock apenas pensou que a aparência do outro combinava com a dele – eram harmoniosamente opostas. 

Apreciou a paz no semblante do outro, seus movimentos leves e precisos. 

Apreciou, sobretudo,a reação positiva de John ao conhecer suas habilidades dedutivas – então alguém conseguiria apenas dizer que era incrível o que ele conseguia fazer??? Sem duvidar, julgar anormal, subestimar? John certamente era uma boa pessoa.

Sherlock já havia ficado espantado com a afeição que tinha adquirido inicialmente por John – afinal, ele nunca havia se afeiçoado a alguém logo de início. As poucas pessoas pelas quais Sherlock conseguia ter afeto conviviam com ele há anos.

 Então ele se sentiu totalmente perplexo quando constatou que, logo nos primeiros dias de convivência com John, Sherlock se importava com a opinião dele. 

Ele não entendia o porquê, mas seu companheiro de apartamento conseguia o fato inusitado de Sherlock comedir seus atos apenas para agradá-lo. Poucas vezes ele teria feito algo parecido – com outras pessoas Sherlock era sempre espontâneo, não importa se os julgasse insuportável ou não.

Não demorou nem um dia completo para que percebesse o desejo de John por si e, mesmo que lisonjeado, não cogitou por um segundo levar aquilo a diante – sem dúvidas a alternativa correta, ele percebia na ocasião, era a distância de sentimentos que o deixariam tão vulnerável e desarmado. 

Não, Sherlock não desperdiçaria uma amizade que ele já previa ser duradoura por algo tão fútil como desejo sexual, que sem dúvidas não seria nada descomplicado para Sherlock.

Ao constatar que John tinha qualidades que ele admirava profundamente, qualidades que ele nunca teria, Sherlock passou a proteger e defender a amizade dele. 

A calma e sensatez que John exalava em suas feições e atitudes surtiam um efeito calmante em Sherlock – então o mundo não ia acabar? Com John, por mais difícil e obscura que fosse a situação, parecia que não. 

Seu senso de responsabilidade inquebrantável colocava Sherlock nos eixos e a auto-disciplina que Sherlock apenas conquistava com intensa exigência de si mesmo, ficou mais sólida com John. 

Sherlock ficou maravilhado quando averiguou que John era um bom ouvinte; ele, ao contrário de inúmeras pessoas que mais pareciam paredes, escutava o que Sherlock teria para dizer e absorvia, refletia – e isso era extasiante para Sherlock. 

John também tinha uma fidelidade admirável, comprovada em tantas vezes que necessitou do amigo e que ele sempre, irrevogavelmente, esteve lá.

Sherlock havia se masturbado algumas vezes na vida; a maioria durante a adolescência. Ele sabia que isso era incomum e observava a grande necessidade sexual de todos a sua volta, um desejo aflorado que ele não compartilhava. 

O desejo sexual funcionava de jeito diferente para Sherlock – era específico e limitado. Poucas vezes Sherlock sentia desejo por alguém, todas as vezes por homens. 

Sherlock necessitava de contato, de aproximação, conversas, convivência – basicamente afeto - para tornar a sentir tesão por alguém; o que aconteceu apenas duas vezes em sua vida e em todas, Sherlock apenas reprimiu o desejo. Era assim que funcionava para ele, era assim que seria. 

Ele pesquisou na internet e percebeu que haviam pessoas com relatos semelhantes ao dele; se sentiu menos anormal desde então. Por muito tempo, Sherlock não estimulou sua luxúria e simplesmente canalizou seus impulsos sexuais para impulsos que julgava, com toda certeza, mais importantes. 

Seguia assim, e sinceramente não entendia porque as pessoas julgavam tão absurdo não ter vida sexual ativa.

Como dito, sabia desde o primeiro dia que John o achava atraente. Porém, Sherlock passou anos muito confortável com sua escolha de não se envolver amorosamente com John. 

Sherlock conseguiu com efetividade criar um bloqueio em relação a isso e não ser afetado pelo desejo do amigo, tão claro. O divertia as eventuais entregas de John, se sentia envaidecido. 

Até que as entregas de John ficaram mais frequentes e passaram a despertar o interesse de Sherlock novamente. 

Depois de anos, Sherlock não conseguiu mais fugir de si mesmo e uma constatação dentro de sua cabeça estava o torturando – a de que ele queria e podia ter um relacionamento com alguém. 

Era uma situação nova para Sherlock, mas a verdade é que pela primeira vez alguém tinha todos os elementos necessários para que Sherlock se envolvesse – John era um homem atraente, cheio de qualidades e totalmente compatível, seu amigo, seu companheiro. 

Isso fez com que Sherlock não conseguisse mais conter seus desejos tão bem reprimidos em seu interior.

JohnlockEDOnde histórias criam vida. Descubra agora