Boy [ MikaYuu ]

Capítulo único

Aos sete anos você me fez uma pergunta:
Está tudo bem chorar?

No mesmo instante seus esverdeados olhos ficaram aquosos. Queria saber o motivo pelo qual chorava, todavia não perguntei. Queira deixá-lo a vontade e não pressiona-lo. Afinal era a primeira vez que o via chorar. Aos sete anos vi que ele havia descoberto o que era sentir dor, mesmo que tenha sido antes da hora.

Yuu-chan desmoronou. O forte e admirável menino simplesmente desabou. Lágrimas seguidas de lágrimas, soluços que chegavam a sufocar. Fiquei sem reação, não estava preparado para ajudar meu tão amado companheiro. Não estava pronto para exercer seu papel e consolar como ele sempre faz comigo.

Aos dez anos você me fez uma pergunta:
Está tudo bem querer desistir?

Yuu-chan agarrava um papel todo rabiscado e amassado. Ele sempre quis aprender a escrever, porém aprendemos apenas o básico. Por isso tomou iniciativa própria e foi tentando aprender com o que via nas ruas. Senti extrema admiração, especialmente por observá-lo determinado.

Mas um dia, sem explicar, algo ocorreu. Te vi quebrar os lápis, rasgar os papéis e pisotear as revistas. Novamente me vi encurralado como a três anos atrás, sem saber o que responder. Como iria encorajá-lo se nem eu sei se isso é possível? Te vi desistir de tentar escrever. Me senti imponente.

Aos treze anos você me fez uma pergunta:
Será que um dia seremos adotados?

Yuu-chan via as famílias felizes na TV e imaginava-se no lugar dela. Com uma mãe, pai e avós bondosos. Não sabia o que responder. Apesar da minha idade, tenho uma noção do quão cruel o mundo pode ser. Sim, tenho a garantia de que eu serei adotado. Afinal não é isso que as pessoas querem? Crianças loiras, brancas e de olhos claros?

Nesse momento senti uma dor no peito. Meu amado de olhos verdes é magnífico, porém não se encaixa no estupido padrão que impõem. Minha língua coçava para mentir, ao mesmo tempo que se enrolava para dizer a verdade. Me vi sem coragem, assim como há três anos.

Aos quinze anos você me fez uma pergunta:
Vale a pena viver?

Fui pego de surpresa. Quando estava prestes a responder, dessa vez, você continuou.

Vale a pena viver em um mundo cruel?

Onde a sociedade impõe até mesmo que tipo de roupa
que você deve vestir?

Onde crianças sofrem em orfanatos e nas ruas?

Onde matam por prazer?

Onde destroem sonhos apenas pelo fato de
não dar dinheiro para o mundo?

Onde... as pessoas escondem quem são
de verdade para não serem julgadas?

Meu maxilar fechou-se. Não sabia como responder porque Yuu-chan estava certo. Aproximei-me e abracei-o com tanta força, que fizeram seus ossos estralarem. Gestos valem mais do que palavras, e quando o vi largar aquele canivete soube que era verdade.

-.-.-.-.-.-.-

Yuu-chan é a pessoa que mais admiro no mundo. Eu o vi sorrir, cair, levantar e desabar. O vi questionar sobre o mundo ao mesmo tempo que obedece suas regras, mesmo sem querer. O vi proteger aqueles que ama mesmo que tivesse que se sacrificar.