Parte II

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Sara pousou a Waverider em um parque longe do centro de Londres. Mesmo assim, ela podia ouvir os gritos e comemorações do povo londrino pelo fim da guerra. Sua roupa de enfermeira coçava um pouco e era desconfortável, mas ela gostava do jeito que Ava simplesmente não conseguia parar de olhá-la.

Ava estava disfarçada como uma motorista militar, usando calças ao invés das tradicionais saias de prega da época, algo que ela contestou bastante enquanto trocava de roupa. Talvez especialmente hoje Ava não chamaria tanta atenção quanto em qualquer outro dia.

Os meninos vestiam uniformes militares sem nenhuma patente especificada. Zari e Amaya estavam com vestidos tradicionais, para completo desprazer daquela ("Isso é simplesmente impossível de usar em uma luta", reclamou).

O grupo andou por cerca de meia hora até chegarem ao centro de Londres. As pessoas estavam regozijando de felicidade pelo fim da guerra e pela morte de Hitler e dispostas a fazer coisas insanas por causa da bebida em excesso. Ray teve de se livrar de três mulheres que tentaram beijá-lo. Rory levou um homem ao chão só porque ele queria agradecê-lo pelos seus serviços.

Amaya e Zari também sofreram nas mãos dos militares bêbados. Um tentou passar a mão debaixo da saia de Amaya e levou um soco metálico de Nate. Em um momento de distração de Sara, alguém puxou Ava para longe dela e tentou beijá-la à força. Sara não perdeu tempo e pulou em cima do homem, levando-o para longe da mulher.

— Não faça isso de novo com nenhuma mulher que encontrar por aí — Sara murmurou no ouvido do homem enquanto mantinha seu pescoço preso em uma chave de braço.

O homem concordou em completo desespero e Sara o soltou, observando-o correr para longe, tropeçando na multidão que não percebera nada. Ela abriu um sorriso orgulhoso para si e voltou para onde seu time e Ava estavam.

— Eu estou muito atraída por você agora — disse Ava imediatamente, sem lembrar que os outros ainda assistiam a cena.

— É melhor não fazermos isso aqui — retrucou Sara, ainda sorrindo.

O time parou ao entrar nos Jardins da Rainha, paralisados com a quantidade de gente que perambulava por ali. Sara se perguntou como eles iriam encontrar um serial killer no meio de tanta gente.

— Mick e Wally, comecem pelo lado leste — ela ordenou. — Amaya e Zari, no lado oeste. Nate e Ray, sigam em frente. Eu e Ava vigiaremos as entradas do palácio de Buckingham. Lembrem-se: procuramos vendedores de algodão doce. Qualquer suspeito deve ser imediatamente preso.

Cada dupla partiu para suas posições designadas. Sara virou-se para Ava e, sem falar nada, lhe entregou um comunicador. A mulher o pegou com uma expressão de desdém.

— Eu sei o que parece, mas você está desempregada e agora você é membro do meu time — disse Sara rapidamente. — Se te perdesse nessa bagunça, você me mataria.

Ava concordou com um sorriso e colocou o comunicador no ouvido. Assim, as duas começaram a observar o palácio. As saídas estavam guardadas por oficiais da família real e, aparentemente, nada saía ou entrava do local. Bêbados tentavam subir as grades do portão, encorajados por outros, mas eram logo derrubados pelos guardas.

Capitã Lance, descobri os nomes dos assassinos. — A voz americanizada de Gideon entrou no ouvido de Sara em tom alarmado. — Os nomes são Ian Brady e Myra Hindley. Os dois são futuros serial killers dos anos 1960. Mataram cinco crianças entre 10 e 17 anos.

— Elizabeth tem dezoito e Margaret, 15 — disse Ava.

O tom de Ava era sombrio e seu rosto se empalideceu ao encarar Sara. Lidar com piratas, Vikings e outros guerreiros era uma quarta-feira qualquer, mas encarar assassinos de crianças? Isso ia além do que a Agência do Tempo pedia no currículo. Sara sentia o mesmo.

Vamos encontrá-los, time. — A voz de Amaya pelo comunicador acalmou os ânimos de Ava e Sara.

— Isso só pode ser coisa de Darhk — murmurou Sara, olhando para os lados na ínfima esperança de ver o rosto jovem da futura rainha Elizabeth. Nada. Apenas pessoas felizes comemorando o fim da guerra sem saber que o mundo como eles conheciam acabaria em pouco tempo se eles fracassassem. — Ele deve ter trazido o casal aqui. É o plano insano dele de dominar o mundo de novo.

Antes que Ava pudesse responder, algo chamou a atenção de Sara. Estavam perto da saída sul do palácio, geralmente usada para funcionários. O pessoal que ali estava mal notou duas pequenas formas saindo de cabeça baixa e com capuzes sobre suas cabeças.

Sara cutucou Ava e apontou para as formas. De longe, não era fácil decidir se eram crianças ou adultos, mas Sara tinha certeza de que eram as princesas. Ela e Ava se apressaram para segui-las, tentando passar pela multidão que se apertavam cada vez mais.

Sara se perguntou como aproximaria das princesas. Elas eram adolescentes e ela sabia mais do que ninguém como essa idade era problemática. Nada as faria voltar para a segurança do palácio de Buckingham se não estivessem totalmente a par do que acontecia ao seu redor. Ela não poderia tratar mal a futura rainha da Inglaterra, muito menos deixá-la morrer.

— Tive uma ideia — Ava falou de repente, se afastando de Sara pela multidão. Sara sequer ousou a questionar a mulher e simplesmente aceitou quando Ava disse para segui-la de longe e não causar nenhum estardalhaço.

Ava se aproximou de Elizabeth e Margaret com um sorriso afável, batendo continência para a princesa mais velha. Elas estavam de costas para Sara, que só viu Margaret virar a cabeça para perguntar silenciosamente o que estava acontecendo. Elizabeth fez um aceno displicente para a outra e continuou prestando atenção em Ava. Ainda assim, a irmã mais nova grudou nela em total pânico.

Sara se aproximou, pronta para levá-las para a Waverider, mas parou a um olhar severo de Ava. A diretora e a princesa pareciam se dar muito bem. Ao dar a volta para ficar frente a frente com as adolescentes, Sara viu Elizabeth rir de algo que Ava contara.

Milagrosamente, ninguém reconhecera as princesas, mas era uma questão de tempo. Estavam paradas no mesmo lugar por tempo demais e as pessoas da praça olhavam duas vezes para as duas ao tropeçarem nelas. Sara alertou Ava com um olhar e a mulher assentiu, apontando para ela.

— Sara Lance?! — Ela leu os lábios de Elizabeth e se assustou. O que diabos Ava estaria contando para as duas?

Ava pediu para que Sara se aproximasse.

— É ela, princesa. Nossa enfermeira-espiã que trabalhou com a Resistência Francesa, indo de Londres à Paris cerca de quarenta vezes durante a guerra.

Elizabeth fitou Sara como se ela fosse uma estátua de uma heroína de guerra — o que, pelo que Ava acabara de falar, realmente era. Sara abriu um sorriso nervoso e tentou não atrapalhar nas próprias palavras.

— Sua majestade — murmurou Sara, sem realizar a reverência. Sabia que se fizesse isso ali, todo mundo ao seu redor descobriria a verdade.

Elizabeth sabia do mesmo e acenou com a cabeça. Sara respirou aliviada.

— Agora, majestades, não quero interromper esse momento glorioso, mas a vida de vocês corre risco — disse Ava agilmente. Ela começou a empurrar as duas pela multidão. O time ainda não conseguira capturar o casal de assassinos e estavam em vista. — Como membro do exército britânico de maior patente, peço para que venham comigo para nosso, uh...

— Quartel general — simplificou Sara. Ela nem reparara que Ava falava com sotaque britânico. Aquilo a deixou estranhamente excitada. — Está a oeste daqui.

— Mas Buckingham está bem ali! — reclamou Margaret.

Elizabeth fez um sinal para que a irmã mais nova ficasse quieta. Sara sorriu e lembrou-se que Laurel fazia o mesmo com ela. Seu coração apertou de saudade da irmã.

As quatro levaram um tempo considerável para voltar à Waverider. Lutar com bêbados assediadores e tentar esconder a identidade das princesas do povo era mais complicado do que simplesmente caminhar pela massa britânica. Sara não sabia o que Ava tinha exatamente explicado para a futura rainha, mas esperava que tivesse incluído viagem no tempo.

Ao chegarem ao local onde haviam estacionado a nave, um problema maior estava em suas mãos além do futuro da realeza britânica.

A Waverider tinha sumido.

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