Parte III

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— Os comunicadores desligaram sozinhos — confirmou Sara após alguns minutos tentando ligar para cada um do seu time. Ela não deveria entrar em pânico mas o medo era maior que sua razão. Sentia que Ava também estava prestes a um ataque de nervos.

— Ainda não salvamos as princesas, então significa que os assassinos ainda estão à solta. E o futuro está chegando perto do passado.

— Como assim?

— Sem Agência do Tempo, Gideon americana, a Waverider sumindo... toda a tecnologia que Rip inventou está indo embora. — Sara nunca tinha visto Ava tão séria. — Se não impedirmos Darhk logo, também iremos sumir desta época e viver nossa versão dessa realidade assustadora no nosso presente.

Sara engoliu em seco. Olhou para as princesas, a alguns metros de distância e conversando entre si. Pareciam mais assustadas que as mulheres mais velhas e ela não poderia muito bem culpá-las. Estavam presas com duas estranhas em uma parte deserta de Londres e não tinham como voltar para sua casa.

— Olhe aqueles rostos, Ava. — Sara apontou para as meninas. — Como vamos chegar com elas no palácio de Buckingham e explicar a merda que a gente se enfiou?!

— Não vamos — respondeu Ava resoluta. — Está escurecendo. É melhor encontrarmos um lugar para dormir e lidarmos com isso pela manhã.

— Ótimo — retrucou a outra de maneira sarcástica, cruzando os braços. — Vamos sumir com o futuro da Inglaterra por uma noite! Parece uma boa ideia.

— Você está surtando.

— EU NÃO ESTOU SURTANDO!

Ava suspirou e ignorou Sara. Ela chamou Margaret e Elizabeth, levando-as na frente. Sara viu que sua batalha estava perdida e seguiu atrás da mulher. Ava tinha um jeito de atacar seus nervos mesmo depois de tantos meses de amizade e paixão. Sara odiava isso.

Ava liderou o quarteto a uma espelunca considerada um hotel e pagou ao dono uma boa quantia para permanecer em silêncio sobre sua presença ali. Sara ficou impressionada com a habilidade de Ava para subornos, mas ainda estava irritada demais para perguntar onde ela as arranjara.

Ficaram no mesmo quarto. Margaret reclamou das instalações, mas a irmã mais velha achou tudo incrível. Com sabedoria, Elizabeth disse que essa seria uma ótima experiência para seu tempo como soberana. Ava e Sara se entreolharam, sabendo que, se saíssem dessa vivas, nenhuma das irmãs lembrariam do ocorrido.

— Eu fico de vigia durante as duas primeiras horas — disse Ava depois que as princesas tinham jantado (um ensopado pobre de batatas) e dormiam na cama de casal do quarto. — Pode descansar um pouco.

— Nem pensar — retorquiu Sara indignada na mesma hora. — Se algo acontecer enquanto eu estiver dormindo nunca irei me perdoar.

— Há muito pelo qual você não se perdoa — falou Ava melancolicamente.

A frase pegou Sara de surpresa. Ela sabia que Ava tinha conhecimento de tudo que acontecera na sua vida, mas até então a mulher preferia ignorar isso e fingir que o que ouvia era novidade. Sara nunca mencionara a ilha, a liga, a ressurreição ou a morte de Laurel. Ser lembrada que sua nova ficante conhecia todos os segredos do seu passado e ainda assim acordava com ela todas as manhãs era de certa forma reconfortante.

Por isso, Sara ignorou que parte da família real estava no quarto e correu para os braços de Ava. Beijou-a como se não houvesse beijado há muito tempo — e, de certa forma, parecia que aquela manhã tranquila, onde uma Gideon britânica lhe interrompia, tinha acontecido semanas atrás.

Tentou fazer o mínimo de movimento e barulho para não acordar as princesas, mas foi em vão. Sara precisava de Ava, dos seus lábios, do seu corpo, das mãos dentro da sua roupa... Era desesperador e aconchegante ao mesmo tempo, era confuso e tão certeiro que a assustava. Era difícil imaginar que um dia havia colocado uma arma no rosto daquela mulher que parecia tão perfeita para ela.

Ava parou o beijo depois de alguns minutos. Sara estava ofegante e queria mais — precisava de mais —, porém a outra ignorou suas investidas com um olhar triste. Sara se xingou baixinho e desejou, por um momento, que Ava não fosse tão viciada em trabalho. Ao mesmo tempo, poderia ter sido isso que havia atraído ela. A incerteza de Sara combinava perfeitamente com a transparência da outra.

Sara se perguntou se poderia pedir Ava em namoro bem ali. Estava cansada de não ter um nome pra sua relação e nada era mais romântico do que ser babá de duas princesas. Não foi a situação que a parou, no entanto. O medo de estragar tudo antes mesmo de Ava dizer sim era o que a manteria acordada durante aquela noite.

— Eu não estava ofendendo quando disse para você ir dormir — disse Ava alguns minutos mais tarde, quando a cabeça de Sara pendia na curva de seu ombro e elas assistiam às princesas dormirem pacificamente. — É seu time lá fora, eu sei. Você precisa estar tranquila para quando for encontrá-los. Além disso, você fica uma gracinha quando está sonhando.

— Acho que eu só teria pesadelos se dormisse aqui — retrucou Sara sem a intenção de ser maliciosa. — Obrigada de qualquer forma. Talvez mais tarde. Você pode ir dormir. Eu sei que você também fica uma gracinha enquanto dorme.

Sara sentiu Ava abrir um sorriso e isso a deixou menos estressada. A situação não era importante, afinal ela ainda estava ao lado de alguém que confiava e gostava. Iria encontrar seu time no dia seguinte e devolveria as princesas ao seu lar. Ela sabia mais do que ninguém a dor que filhos desaparecidos causavam em seus pais.

As duas ficaram em silêncio e observaram as irmãs dormirem. As primeiras horas foram fáceis de controlar o sono e Sara conversou um pouco com Ava sobre o que o time estaria fazendo, se eles estavam tentando contatá-las ou se arranjaram um lugar para passarem a noite também.

Os olhos de Sara ficaram pesados depois de quatro horas de conversa e, por mais que resistisse, não conseguiu mantê-los abertos. Ela caiu em um sono profundo no ombro de Ava, sabendo que os braços da mulher estavam em volta de seu corpo. Elas sentavam na escrivaninha do quarto; era desconfortável, mas foi suficiente para que Sara conseguisse descansar um pouco.

O sol entrava pela janela em suas costas ao acordar. Ela piscou algumas vezes para se acostumar com a claridade e notou que Ava não a abraçava mais. A mulher estava em pé na sua frente, com um olhar totalmente aterrorizado. Ela encarava a cama de casal onde Elizabeth e Margaret dormiram durante a noite.

Mas as princesas não estavam mais lá.

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