Oportunidade

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Bernardo estava na varanda externa do Luaca, apoiado em uma grade com pouco mais de um metro, aproveitando a sombra de uma palmeira bem cuidada, apenas observando o movimento da cidade enquanto fumava o seu cigarro fino e marrom que ele mesmo havia preparado. Fechou os olhos por trás dos óculos escuros ao sentir um vento aliviar-lhe um pouco o calor, aquela cidade era muito quente durante o dia, típico do nordeste brasileiro e para piorar ele não era muito adepto a bermudas.

-Senhor Duarte – Uma voz feminina lhe chamou e ele revirou os olhos antes de virar-se para ver quem era, odiava que interrompessem seu silêncio cotidiano.

-Sim? - Respondeu desanimado olhando de relance para a mulher alta e bem vestida.

- Uma senhora na recepção deseja falar com o senhor.

-Uma senhora? –Indagou sem que ninguém lhe viesse em mente, tragou o cigarro e depois apontou-o novamente para o chão, dando duas leves batidas para soltar as cinzas. – Quem é?

-Disse se chamar Gabriela.

-Gabriela? –Olhou para esquerda vasculhando em sua mente alguém próximo a ele com este nome, mas era completamente desconhecido em sua memória. Balançou a cabeça em negatividade demonstrando que não conhecia a mesma – O que ela quer?

-Isso ela não me enformou, senhor, deseja que eu a mande embora?

-Não – Levou o cigarro à boca pela última vez antes de arremessa-lo por cima da grade. – Leve-me até ela.

O Duarte ficou muito curioso para saber quem seria esta Gabriela que o procurava, caminhou guiado pela mulher que veio avisá-lo, enquanto ela o levava até a recepção onde estava a dita mulher, Bernardo imaginava as milhares de possibilidades de quem poderia ser essa mulher o procurando, ele pediu interiormente para que não fosse nenhuma garota de programa enviada por José, coçou a região acima das sobrancelhas ao pensar nessa possibilidade, não estava interessado em conhecer ninguém naquele momento, nem mesmo uma pessoa que só iria lhe proporcionar prazer físico por algumas horas e nunca mais lhe importunaria, não estava interessado naquele momento, só queria ficar quieto se aprofundando em seus pensamentos sombrios.

Assim que chegaram ao saguão a moça que foi buscar o Duarte mostrou-lhe Gabriela a uma certa distância, ele agradeceu a recepcionista com um aceno de cabeça e caminhou em direção a Gabriela que o esperava aparentemente um pouco nervosa segurando uma bolsa de pulso vermelha com as duas mãos e os lábios entre abertos.

-Olá – Cumprimentou-a estendendo a mão, ela quase deixou cair a bolsa e o Duarte fez menção de segurar, estava visível o nervosismo da mulher, que até o momento não havia pronunciado uma palavra e nem esclarecido o por que o procurava. Ela não parecia ser uma garota de programa o que o deixou mais aliviado, era uma mulher jovem, aproximando-se dos quarenta anos, Bernardo até então não havia entendido o motivo do nervosismo.

-Me desculpe – Falou Gabriela, enfiando uma das mãos através das correias da bolsa e deslizando com a outra sobre os fios presos do seu cabelo crespo.

-Tudo bem – Disse o Duarte enfiando as mãos nos bolsos, não tentaria apertar a mão dela novamente.

Eles ficaram em silêncio, ela o olhava fixamente ainda com os lábios entre abertos e ele já ficando desconfortável com a situação sorriu rapidamente sem mostrar os dentes e olhou para os lados, antes de olhar novamente para o rosto da mulher que continuava do mesmo modo. Ele coçou a nuca balançando os fios de seu cabelo. O silêncio já estava perturbador quando ele decidiu quebra-lo:

-Então, você queria falar comigo?

-Sim é verdade. – Respondeu finalmente saindo do seu estado de inércia - Senhor Duarte?

-Sou eu mesmo.

-Eu sou a mãe de uma das jovens que – Ela hesitou e baixou os olhos, envergonhada, antes de continuar– assaltaram a filial.

Ele a olhou com mais atenção e sacudiu a cabeça para cima e para baixo devagar como que pedindo para que ela continuasse.

- Eu quero agradecer – continuou em um tom de voz baixo para que as pessoas que passavam não pudessem ouvi-la – Não foi essa a educação que dei a minha filha e acredito que muitas vezes más companhias levam a cometer más atitudes. E eu sou uma funcionária da empresa, mas gostaria de deixar bem claro que não tive nada relacionado a isso, sou uma mulher íntegra...

-Eu entendo –Interrompeu - Quem nunca, não é mesmo? De quem você é mãe? –Era tudo o que ele queria saber naquele momento, não estava mais se importando com nada relacionado ao roubo.

O que havia acontecido foi que depois do último sonho que Bernardo tivera com sua falecida noiva, ele havia acreditado em cada palavra da conversa que seu inconsciente havia criado, passou a acreditar que havia sido um sinal, uma mensagem trazida do além. Ele passou a acreditar que Aurora poderia ser Lady Laura de alguma forma, mas de que forma isso seria possível? Ele só queria se agarrar a alguma esperança e ele que sempre fora tão cético sobre vida após a morte estava lutando para encontrar uma explicação.

Ele queria se aproximar de Aurora, por que sentia que ela seria a segunda chance que a vida estava lhe dando de ser feliz com lady Laura e dessa vez a protegeria sem medir esforços e não permitiria que ninguém a tirasse dele. Tudo isso parecia loucura quando ele tentava interpretar de forma realista, mas deveria ter um motivo para que a semelhança física entre as duas fosse tão incrivelmente idêntica. Depois daquele sonho, ele ligou para a delegacia e mandou que a libertassem, depois disso não parou de pensar um só segundo em uma maneira de se aproximar da moça e se essa mulher, Gabriela, fosse a mãe dela, ele interpretaria como um novo sinal para prosseguir com o plano.

-Sou mãe de Aurora, a loirinha de franja que entrou em contato com o senhor aqui no hotel e causou aquela confusão vergonhosa levando o senhor também para a delegacia. Ela já me explicou muitas vezes sobre pressão, é claro, o que aconteceu aqui naquela noite, mas eu ainda não consegui ligar os fatos direito. Não consigo compreender algumas coisas que ela falou. – Ela apertava os olhos como se estivesse lembrando de algumas palavras da filha e o Duarte rapidamente pensou que poderia ter sido o fato dele chama-la de Lady Laura. Ele não queria que todos o considerassem louco, então tentaria ocultar o fato de que pensou que sua noiva havia voltado dos mortos.

-Sei bem. – Disse pigarreando tentando mudar o rumo do assunto.

-Senhor Duarte, me desculpe, quero garantir que isso nunca mais se repetirá e agradecer por não ter seguido adiante com o processo. Seja lá qual tenha sida o motivo do senhor não ter permitido que eles fossem presos, o motivo pelo qual o senhor retirou a queixa, eu só quero agradecê-lo por ter sido tão compreensível e estou aqui com todo o dinheiro para lhe devolver.

-Ah, pare com isso – Disse levantando as mãos quando ela dirigiu a bolsa vermelha em sua direção – Não vou sair por aí com uma bolsa feminina – Riu, tentando ser engraçado - Digamos que eu já estive no lugar deles, metido em encrencas e eu sei que aprenderam a lição. Fique com esse dinheiro para você ou faça o que quiser com ele.

-Não, senhor Duarte, esse dinheiro é seu.

-Faça de conta que foi um pagamento extra. Eu não vou aceitar esse dinheiro de volta, respeite minha decisão.

-Sim senhor – Disse enfiando novamente o pulso através das alças da bolsa. -Não tenho como lhe agradecer, Senhor Duarte.

-Não precisa. Quer dizer...-Pensou melhor e teve o que depois ele mesmo batizou de "uma grande ideia" - Que tal um jantar? Não tenho amigos nessa cidade, um jantar, eu e sua família, incluindo a Aurora, claro. –Ele tentava não demonstrar que estava dançando break por dentro – Não tenho nada para fazer aqui, nenhum plano, seria muito gratificante fazer amigos na cidade. Se você não se importar de compartilhar um jantar comigo obviamente–Ele sabia que ela não poderia recusar por questão de educação.

Gabriela estranhou a ideia, mas atenderia o pedido. Algo estava estranho, mas ela preferiu deixar de lado seus pensamentos duvidosos e apenas encarar a situação como algo legal da parte do empresário.

-Tudo bem, mas não estou habituada a tanto luxo. O jantar pode ser na minha casa?

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⏰ Última atualização: Mar 12, 2018 ⏰

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