--Natalie--
O meu despertador do telemóvel toca mas eu já estou vestida e quase pronta. Não consegui dormir nada durante a noite inteira. Estou prestes a conhecer onde vou passar a viver nos próximos anos. Sei que estou pronta, sei que já me preparo para isto desde o início do 9º ano. Mesmo assim, não consigo deixar de me sentir extremamente ansiosa.
E se não me conseguir integrar?
E se não arranjar amigos?
E se não conseguir aguentar os estudos?
E se eu estragar tudo?
Não quero estragar o meu futuro. O meu pai trabalhou imenso para me conseguir pagar um apartamento em Sidney perto da faculdade. Tenho de tirar o curso de direito e levar o assassino da minha mãe à justiça. Pela minha mãe.
-Natalie, temos de ir. - grita o meu pai do outro lado da porta de hotel.
Levanto-me, aliso o meu vestido azul que se deixa cair até abaixo dos meus joelhos e desço. O meu pai está à minha espera com Danny que o acompanha. Abraço Danny que me sorri gentilmente. Somos melhores amigos desde o assassinato da minha mãe; quando cheguei a casa e vi a minha mãe coberta no seu próprio sangue, corri o mais que consegui para pedir ajuda e foi quando um rapaz, numa bicicleta azul, parou perto de mim e disse: "Calma, vais assustar-me. Queres assustar-me?", o que ele disse não fez quase sentido nenhum. Desde esse momento que passamos a estar juntos quase sempre. Até cheguei a viver com ele durante o tempo em que o meu pai foi preso. Depois do assassinato da minha mãe, ele estava muito mal e viu uma escapadela no álcool, foi então, que uma noite, estava tão fora de si, que agrediu um homem que batia na mulher. Foi preso por ter protegido a pobre mulher.
Apenas me lembrar disto tudo já faz sentir um enorme nó na minha garganta, maior do que já se fazia sentir antes. Ignoro a dor que se estende pelo meu corpo e finjo estar completamente descansada.
Pagamos a estadia no hotel e saí-mos para o exterior. Entrámos no carro e o meu pai conduz até ao meu apartamento.
Danny pega nas minhas malas e eu ajudo-o a levá-las para dentro. Pego na chave do meu novo apartamento e abro a grande porta de madeira escura. Ao abrir sinto uma liberdade fantástica. As paredes estão brancas e ainda não tenho mobília nenhuma. Tenho muita coisa para fazer. Peço a Danny e ao meu pai para irem embora para eu poder ter tempo para fazer ainda hoje coisas.
-Não quero parecer que vos estou a chutar daqui para fora, mas eu preciso arrumar tudo e comprar muita coisa. E tenho de fazer isto tudo nas próximas duas semanas, antes de começarem as aulas. Aproveitem e visitem a cidade, amanhã vão ter de voltar a Portugal. - digo-lhes com um sorriso amarelo e fraco.
-Não faz mal. Talvez façamos isso. - diz o meu pai com um olhar triste. Acho que vejo uma lágrima no canto do seu olho, mas ele vira a cara antes de poder confirmar.
-Vemo-nos depois. - termina Danny antes de me abraçar e sair atrás do meu pai e fechando a porta atrás de si.
Eu vivo sozinha! Meu deus do céu! Finalmente. Não consigo conter um sorriso enorme nos meus lábios. Começo a fazer uma lista das coisas que preciso de fazer e comprar. Assim que acabo, saio de casa. Ainda bem que guardei o dinheiro que recebia a trabalhar na livraria perto de casa e mesadas de alguns anos. Agora tinha dinheiro suficiente para comprar tudo o que precisava.
Decidi ir primeiro ao Ikea comprar mobília, louça e mais outras coisas. Passei lá um bom tempo e comprei quase tudo que precisava. De seguida, fui à Worten comprar um televisão boa. Tive sorte que estavam com descontos muito bons e consegui arranjar uma Smart TV da Samsung. Comprei também uma máquina Nexpresso e vários outros eletrodomésticos. Voltei para casa e já eram 5 horas da tarde. Chegou a carrinha que trazia a mobília que eu tinha comprado e levaram tudo para a minha sala. Arrumei tudo nos sítios o mais que consegui e liguei os eletrodomésticos que comprei. Quando terminei de arrumar tudo já passava da meia noite. O dia havia passado muito rápido. Não tinha fome e estava exausta então decidi dormir.
Acordei no dia seguinte com o sol que batia nos meus olhos, tinha de comprar cortinas. Levantei-me e fiz a cama e fiz uma listas da comida que tinha de comprar. Tomei um banho e vesti um vestido vermelho solto. Soltei o meu cabelo preto e calcei umas sandálias castanhas. Peguei no meu telemóvel e numa carteira pequena e saí de casa.Como era nova na cidade não sabia onde era nada. Então pensei ir caminhando pelas ruas. Passado apenas 5 minutos de passeio vejo um pequeno mercado parecido com os que eu adorava visitar em Viseu. Sorri para a senhora que estava sentada numa cadeira de madeira e entrei num dos apertados corredores.
Precisava de leite que estava numa prateleira onde o meu metro e meio não conseguia chegar. Ainda assim não me dei por vencida e estiquei-me imenso. Foi então que escorrei e quando dei por mim já estava nos braços de um rapaz com o cabelo rapado e barba curta. Os seus olhos eram verdes com um leve tom acastanhado e era incrivelmente atraente.
Ele pousou-me no chão e eu alisei o meu vestido.
-Obrigada. - disse-lhe a olhar para o chão.
Assim que levantei os meus olhos vi que os seus braços estavam cheios de tinta preta. Várias tatuagens revestiam a sua pele morena e musculada. Ele usava uma t-shirt branca e umas calças pretas rasgadas.
-Sim, sim. Olha por onde andas. - respondeu com cara de poucos amigos e foi-se embora antes de eu ter oportunidade de lhe responder.
Que rapaz mal-educado, não podia simplesmente dizer "De nada". Nem devia ter agradecido. Natalie, tens imensa coisa para fazer por isso concentra-te.
Peguei em tudo o que me faltava e caminhei até à senhora para pagar. O rapaz entrou no carro com uma loira e arrancaram. Fiquei a observar o carro a desaparecer na estrada.
-Ele é bom menino, apenas não sabe lidar com sentimentos nem com pessoas. - diz a senhora.
Senti a minha cara a arder e tentei dizer algo mas a voz não saía. A senhora riu-se levemente e pegou na minha mão.
-Pareces ser uma boa miúda, por isso aviso-te, tem cuidado e paciência com ele. Por favor. - suplicou a mulher.
-Eu... Eu não o conheço. Foi a primeira vez que o vi. - consegui dizer.
Ela olhou-me com um sorriso triste na cara.
-É sempre assim que começa. - diz-me.
Não sabia o que responder entao mantive-me em silêncio e só voltei a falar para agradecer e me despedir antes de voltar para casa.
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Olha-me e vê-me.
RomantizmNatalie Dubois era uma rapariga francesa com um futuro pronto. Notas máximas e boa educação. Será que James Thompson é suficiente para mudar a sua personalidade rotineira? E será que Natalie poderá tornar James numa pessoa melhor?