LIA
Dante tinha suas razões quanto a já termos vivido demais para ainda nos prendermos a determinados ressentimentos que não nos levariam a lugar algum. Nada que fizesse recuperaria a minha família como não repararia todo o mal que o feitiço que joguei sobre ele e sua família causou. Mas algo certo em todo aquele cenário era que eu o amava e sabia que também sentia o mesmo por mim.
Vivemos em uma época que obedecermos e confiarmos que a nossa família era o melhor estava embutido em nosso espirito e nas nossas ações. Hoje enxergo o erro de não ter confiado em Dante para revelar o meu segredo e ele visivelmente se arrependia por não nos ter protegido.
Estava terminando de me olhar no espelho para ver se gostava da roupa escolhida e se ela me ajudaria no disfarce, afinal para Greta e Penélope tinha que me passar por Cecília, quando senti as minhas inseguranças palpáveis, quando estivesse em meu corpo novamente conseguiria de fato perdoa-lo?
Teria o meu corpo de volta e Cecília o dela. Por enquanto a mantinha adormecida e, portanto não sofria nenhum dano. Sabia que ocupar seu corpo tinha sido uma saída de emergência, precisava de outra solução.
De acordo com o plano Dante foi com Joaquim em busca da pedra, enquanto ficou acertado de Baltazar me acompanhar a festa.
- Queria estar ao seu lado todo o tempo, mas não encontrei uma saída, mas me apressarei para estar na vila o quanto antes. Disse decidido.
- Não se preocupe Baltazar irá comigo e no momento do meu encontro com Greta e Penélope terei que estar sozinha, então só lhe resta confiar em mim. Provoquei-o.
- Eu confio, apenas não quero que se machuque. Sorriu com doçura, mas antes que dissesse algo mais Joaquim o chamou para entrar no carro.
Estava a mais ou menos meia hora na festa que acontecia na praça principal da pequena vila em companhia de Baltazar, esperando uma das duas bruxas me mandarem um sinal sobre a hora e o ponto exato do encontro, enquanto em um dos meus bolsos estava guardado o que restou do medalhão e em uma pequena mochila mantinha os artefatos onyx preparados por Baltazar. Quando ele se afastou para cumprimentar um amigo e assim reparei que um garotinho se aproximou e seu olhar perdido me dizia que era ele o portador do recado, elas decididamente não tinham vergonha em usar uma criança a transformando em um verdadeiro zumbi.
- Livre-se do mago e nos encontre na floresta. Disse e saiu andando até umas árvores de onde iniciava o bosque e percebi que o esperado seria que o seguisse.
Tentei procurar Baltazar com o olhar para dar o sinal, mas não o encontrei e com medo de perder o garoto de vista segui atrás dele, por entre as árvores.
Após uns quinze minutos, a passos largos, por dentro da mata, chegamos a uma pequena clareira.
- Olha só quem chegou! A futura senhora do castelo! Disse Greta, como só as conhecia pelos nomes foi uma sorte Dante ter me mostrado as fotos de quem era quem.
- Trouxe o que me pediu. Fui logo dizendo, sabia que deveria falar o mínimo possível de forma que não desse espaço para que descobrissem que não era a Cecília.
Passei a mochila com os artefatos, não queria entregar o medalhão, mesmo que fossem os pedaços dele para aquelas duas. Tinha sido a minha morada por quinhentos anos, meu pensamento era de que eram intrusas o violando.
- Onde está o medalhão da feiticeira?
- Aqui. Completei o tirando do bolso e o entregando nas mãos de Greta.
Ela o olhou por um longo instante.
- Ótimo. Agora nada mais nos atrapalha. Disse olhando para a irmã.
- Como a Lia atrapalharia vocês? Perguntei curiosa.
Ela me olhou por alguns instantes e depois respondeu.
- A magia da qual descende tem força oposta a nossa. Portanto se quer o conquistar de uma vez o coração do caçador é bom que ela esteja morta. Disse encerrando o meu questionamento.
- Claro. O melhor seria concordar. – Por falar nisso, quando Dante será meu de fato? Perguntei como aqueles ares das desesperadas apaixonadas.
- Até a meia noite quando a lua mudar o quadrante, na cabeça dele só haverá você. Disse me olhando e senti que me testava, por isso respirei fundo e deixei mais evidente a essência de Cecília.
- Muito obrigada, nem sei como agradecer, amo o Dante e essa foi a única maneira que encontrei para que me enxergasse como mulher. Disse daquele jeito que toda garota apaixonada costuma ser.
- Cumpriu a sua parte querida, nós cumpriremos a nossa. Afirmou convencida da minha dramatização.
- Penélope teste as peças. Disse para a irmã, entregando o que tinha em mãos.
- São as corretas, tive todo o cuidado. Disse, tentando disfarçar.
- O caçador é ardiloso, menina. Respondeu.
Com relação ao medalhão sabia que não teria problema, minha única dúvida, eram as peças, torcia para que Baltazar não tivesse falhado.
- E então? Perguntou Greta, afinal achei melhor me manter quieta, ansiedade seria um péssimo conselheiro naquele momento.
- Estão de acordo.
- Ótimo Cecília. A partir do momento que a lua chegar ao quadrante que montamos o feitiço o caçador será todo seu. Disse.
- Novamente obrigada. Completei com um sorriso feliz, pensando internamente que tinha de chegar o quanto antes em casa e torcer para que Dante conseguisse recuperar a pedra malta, pois separando meu corpo do de Cecilia talvez fosse a única saída para que o feitiço não tivesse êxito.
O garoto voltou e sabia que era meu guia para retornar a praça onde acontecia a festa da cidade.
- Onde estava? Perguntou Dante ao lado de Joaquim e Baltazar, assim que me viram chegar.
- Fui ao encontro delas. Diga-me que conseguiu a pedra? Perguntei ansiosa.
- Recuperei-a. Por quê?
- Porque preciso sair do corpo da Cecília, acredito que seja a única coisa que impedirá que vire um completo apaixonado manipulável.
- Como assim? Perguntou confuso.
- O feitiço que o fará ser um completo apaixonado pela Cecília. Expliquei.
- Quando o feitiço acontecerá? Disse Baltazar.
- Pela posição da lua, não temos muito tempo.
- Vamos voltar para casa, então? Perguntou Dante.
- Onde há um jardim muito bonito, com água perto e seja iluminado pela lua? Questionei.
- Ao sul, tem um cenário como esse e é mais perto que chegarmos em casa. Disse Joaquim.
- Ótimo vamos. Completou Dante.
Em dez minutos estávamos no lugar. Deixamos o carro na estrada e seguimos para perto do rio.
- Dante me dê a pedra. Disse o olhando.
- Precisa de minha ajuda? Perguntou Baltazar.
- Para o que vou fazer, não obrigada.
- Você e Cecília ficarão bem? Perguntou Dante me entregando a pedra.
- Com sorte antes da lua chegar ao centro cada uma estará em seu corpo de direito. Comentei sorrindo.
Tirei os sapatos e coloquei meus pais na água, soltei os cabelos e com a pedra na palma das minhas mãos, fechei os olhos, era o momento de pedir às minhas ancestrais a luz para que todos os cânticos que entoasse fossem ouvidos.
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O Espírito do Medalhão
FantasiaUma época de perseguições a tudo que não fosse religiosamente justificado deu fim ao amor de Dante e Lia. Assassinada por perseguidores, ela usou de magia para se prender ao medalhão e destruir o que acreditava ser o seu maior vilão, o amor. Dante v...