Capítulo 8

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"O amor é como a guerra; fácil de começar, e muito difícil de terminar."

~Ninon de Lenclos

***

- Ei, macaca.

Revirei os olhos e parei de passar manteiga no meu pão enquanto prestava atenção no que meu primo queria dizer.

- Você vai se inscrever para alguma atividade extra?

- Como?

- Patinação, você só faz isso da vida.

- Ah, eu não entro em competições mais. Se caso eu me inscrevesse teria que participar de todas as que me pedissem.

- Ah, mas não tem nenhuma outra atividade que você gostaria de fazer?

- Ah. Depende, nem sei o que nós temos de matéria obrigatória ainda.

- Nós temos inglês, matemática, física, química, biologia, robótica, informação e comunicação, história, geografia, línguas estrangeiras modernas, arte, sociologia, filosofia, música, educação física, redação, cidadania e ensino religioso. No total são 18 obrigatórias.

Ele disse enquanto contava uma a uma com os dedos.

- Ah, não muda muita coisa da minha antiga grade de estudos.

- Então, porque não entra para a equipe de debate social?

- Não tenho fundamento para debater essas assuntos sociais que andam em alta.

- É o meu grupo, qualquer coisa é só falar.

- Porque não canta?- tia Lorena chegou de repente nos pegando de surpresa- Sua mãe era uma sereia quando cantava, até hoje na verdade.

- Eu não tenho esse dom, infelizmente.

Sussurrei a última palavra. Meu irmão herdou o lindo dom de cantar, o QI avançado e até mesmo a personalidade. Eu só fiquei com a aparência mas tanto meu pai quanto minha mãe são lindos então não faz muita diferença.

- Você nada, não é? Os Broow's são peixes.

- Sim, eu nado desde pequena.

- Então porque não tenta entrar para a equipe de natação? Mesmo que seja quase impossível por causa da pouca disponibilidade de vagas e alta demanda de inscritos... Mas você pode tentar.

- Tá doido Miguel, a menina nem teve tempo de pensar na ideia e você já joga os contras.

Ela deu um peteleco na testa do filho e o mesmo colocou a mão no lugar e fez uma careta de dor.

- Eu só estou tentando conquistar um prodígio para o grupo de debate social mãe.

- Prodígio? De onde você tirou que eu sei alguma coisa desse ramo?

- Não é saber é a sua aparência. Tenho certeza que os meninos vão todos os dias se você estiver lá e assim nosso grupo vai se desenvolver mais rápido.

Descarado. Eu quase achei engraçado, mas o fato dele querer se aproveitar da minha imagem me fez recuar e mesmo que fôssemos família não gosto que me aceitem nos seus círculos sociais só pela aparência.

- Eu não gostaria que você considerasse a minha aparência como o único requisito importante para ser selecionada. Posso não ser como o Lucas mas tenho um raciocínio rápido e o meu QI também é considerável.

Minha tia começou a fazer um gesto feio com as mãos sussurrando que o meu primo "se lascou". Eu ri, essa é a família mais doida do mundo.

- De que lado você está mãe?

- Lógico que do...

A conversa foi interrompida por uma visita que tocou a campainha. A Morena (apelido da Lorena) foi atender e chamou o Miguel.

- Toda sua. Se vira, não mandei se relacionar com esses embustes.

Por isso que ela é a minha tia favorita. Peguei meu pão e subi novamente para o quarto do Miguel. Ansiosa peguei o patins que ganhei a pouco e calcei. Amanhã espero não estar cheia de calos nos pés.

Enquanto andava pelo quarto me aproximei da janela e vi quem era a visita. Uma menina com os cabelos castanhos perfeitamente alinhados, maquiagem intacta, postura de princesa e roupas de marca estava com uma expressão nada amigável.

-... Louise, eu não te devo satisfação alguma da minha vida...

- Você acha que uma história como a nossa termina assim Miguel? Você acredita mesmo?- meu primo olhou para baixo e ela se irritou- olha pra mim Miguel. Eu não aguento mais correr atrás de você, nós dois sabemos que o nosso amor não foi e nunca será passageiro, eu errei? Me diz onde que eu conserto...- Ele olhou para o céu com o rosto vermelho, aposto que estava se segurando para não chorar- Me olhe nos olhos, por favor...

A menina implorou e quando ele foi obedecê-la sem querer me viu espiando na janela, antes de eu ter qualquer reação a menina seguiu o seu olhar e também me viu.

E agora?

Tirei o patins correndo enquanto aí da havia chance de escapar dali. Ouvi gritos no andar de baixo e logo depois passos apressados e cada vez mais forte.

Essa menina deve ser uma doida obsecada. Melhor eu ficar fora disso. Quando ela entrou no quarto eu estava quase entrando no banheiro para me esconder, mas devido a sua agilidade não deu tempo.

Constrangida me virei como quem estava indefesa.

- Que-Quem é vo-cê?

A menina perguntou ainda sem recuperar o fôlego é um pouco agitada.

- Katherine Broow. Prazer?

Enfatizei o Broow e ela caiu no chão aliviada. Que isso gente...

- Parentes? Que bom...

- Primos de segundo grau.

- Segundo?

Ela me encarou mais atenta esperando uma declaração de falta de interesse pelo meu primo.

- Eu não curto incesto. Agora se me permitem, estou indo embora.

- Espera Kat, não me deixa aqui sozinho.

Miguel disse me puxando pelo braço antes que eu saísse do quarto e um dos patins caiu no meu pé.

Meus olhos encheram de lágrimas e o Miguel ficou preocupado me pegando no colo imediatamente e colocando sob a cama dele.

A garota estava prestando atenção em cada detalhe e aquilo me deixou com muito medo. Confesso.

- Dói muito se eu tocar?

Ele disse apertando levemente o meu pé esquerdo. Pelo grunhido de dor ele virou para a menina e disse:

- Louise, desce lá embaixo e pede para a minha mãe chamar a ambulância fazendo favor.

- Ela vai precisar de uma ambulância mesmo, se eu fazer o que tenho em mente agora.

A menina levantou igual um javali selvagem e foi se aproximando...

Friever's (SPIN-OFF)Onde histórias criam vida. Descubra agora