Friever's (SPIN-OFF)

Capítulo 11

"A vida segue acontecendo nos detalhes, nos desvios, nas surpresas e nas alterações de rota que não são determinadas por você."

~Martha Medeiros

***

"Tudo em seu devido lugar", essa frase ficou o resto do dia na minha cabeça.

Minha mãe diz que "Para quem sabe ler um pingo é letra". Joguei meu cabelo para o lado, respirei fundo e disse:

- Eu não preciso de outras pessoas para colocar as coisas no lugar em que devem estar, faço isso muito bem sozinha. Você pode começar a me observar e aprender como é que se faz.

Saí de perto e a Camila veio em seguida. A Louise ficou irritada após ver como eu reagi a infantilidade dela, está na hora de algumas coisas mudarem nessa escola.

- Vocês já se conhecem?- A Camila perguntou após nos afastarmos bastante.

- De uma situação incoveniente que aconteceu ontem. Ela é a ex namorada obsecada do meu primo.

- Ouvi falar que ela é bem popular com as pessoas daqui, dizem que todos os meninos gostariam de namorar com ela.

- É porque eu só conheci alguns até agora, quando todos me conhecerem você vai ver a mudança de opinião.

Disse confiante e rindo.

- Você é bem segura de si, gosto de companhia assim. Boas energias, autoestima e confiança.

- Você também não deve ficar para trás.

Rimos e começamos a conversar sobre nossos gostos e algumas bobagens. Quando percebemos já estávamos atrasadas para a próxima aula. O dia seguiu muito bem, as aulas seguintes foram de ciências da natureza e por fim chegou o esperado horário de ir embora.

Camila se espreguiçou na cadeira quando a aula acabou e eu ri, ela conseguiu dormir durante todas as aulas após o intervalo.

A Raíssa me mandou uma mensagem avisando que ia pular uma aula para ir na casa do Hitler perguntar porque ele faltou e que iria me esperar no portão de entrada com intenção de irmos a casa dela.

Já estava quase saindo da sala de aula quando o Miguel parou na porta e me impediu de passar.

- Vou para a sua casa hoje.

- Não vai dar, eu vou ficar o período da tarde na casa da Raíssa de agora em diante... Por causa do que houve ontem lembra? Ainda nem tive oportunidade de falar com os meus pais sobre isso.

- Eu posso ir com você?

- Até parece, já é um favor ela me receber lá todos os dias e eu ainda vou levar um encosto.

- Encosto? Eu sou seu primo querido, como você pode me chamar disso?

- Você nem meu primo é direito. Me da licença...

Disse tentando empurrar ele mas obviamente falhei.

- Vou te acompanhar até lá então.

- Você está muito grudento.

Eu falei revirando os olhos então ele pegou a minha mão e colocou no braço dele me acompanhando até o portão sem ficar quieto nem por um segundo.

Eu espirrei uma vez e ele não disse nada mas quando espirrei novamente ele disse:

- Você deveria me falar antes que pegou uma gripe, assim eu teria comprado um remédio e uma máscara.

Ah, que fofo.

- Que consideração, obrigada.

- Consideração? Eu não posso pegar sua gripe. Sou muito importante para ficar doente.

- Idiota.

Dei um tapa nele e começamos a rir.

- Esse tempo frio está acabando comigo, espirrei a manhã toda.

- Kat?- congelei ao ouvir a voz que tanto conhecia.

Nesse momento um monte de coisas passou pela minha cabeça, eu levantei o olhar e me deparei com a melhor surpresa do mundo.

Tentei correr para abraçar ele mas o gesso não contribuiu muito, além disso o Miguel segurou minha mão e não me deixou ir.

- Me solta.

Eu pedi mas outra pessoa começou a me segurar e eu me senti dentro de um filme encenando aquele clichê que todo mundo gosta, onde a mocinha é puxada por dois garotos lindos que disputam pelo coração dela.

Mas esse não é o meu caso, de volta a minha realidade eu olhei para o meu primo e depois para o meu melhor amigo e disse:

- Vocês podem parar de show?

Eles que estavam se entreolhando me encaram irritados e disseram juntos em uníssono:

- Tá.

Tá? Agora vocês deveriam competir pela minha amizade. Revirei os olhos e respirei bem fundo.

- Como você está aqui?

- Como? Bom, eu peguei o avião ontem depois de saber que você estava em um estado de calamidade... Mas quando cheguei aqui sua mãe me disse que você quebrou um ossinho do pé. Vim aqui na sua escola porque eu não podia perder a viagem de qualquer forma.

- Dói muito para a sua informação.

- Quanto tempo cara.

O Miguel disse, me ignorando, e os dois deram aqueles toque maneiros que só o garotos fazem bonito, eles dão as mãos e puxam um ao outro tocando os ombros.

- Você vai ficar quanto tempo?

- Já comprei a minha passagem para o próximo avião, volto daqui uma hora. Vim só te ver mesmo e já estou indo para o aeroporto.

- O que? Já que você veio porque não fica mais? Não é justo... Você poderia pelo menos ficar até o final do mês.

- Até o final do mês? E como eu estudo? Minha mãe me deixou vir aqui por que era uma emergência.

- Mesmo assim, não da para ficar mais?

- Não, e a Merida nem pode sonhar que eu vim sozinho. Foi uma das condições para a minha mãe deixar eu vir.

- Quem te trouxe? Com essa idade você não pode...

- Meu pai é o que?- Ele perguntou me cortando.

Lembrei na hora que o pai dele manda em tudo na aviação mais conhecida do Brasil.

- Presidente vitalício da CJA (Clauss James Aviation).

O Miguel fez uma expressão nada boa e disse:

- Mas isso é corrupção, é burlar as leis e...

- Eu vim no jatinho particular da minha família. Nem vou voltar de avião de qualquer forma, queria apenas pregar uma peça na Kat mas você não deixa.

Ele riu e eu fiquei atônita por um instante mas logo me toquei.

- Então você não comprou a passagem e nem vai voltar hoje?

Eu dei um abraço nele de tanta felicidade e ele retribuiu de imediato dizendo:

- Senti tanta a sua falta, achou que eu ficaria só isso aqui? Eu vim para ficar.

- Como assim?

Ele não disse nada, apenas riu e começou a fazer um cafuné. Não quero largar ele nunca. Espero que tenha vindo para ficar um longo, longo tempo.

- Então, não pode contato físico na escola e você estão dentro do recinto escolar.

Nos separamos, infelizmente, e eu olhei torto para o Miguel que deu de ombros.