Capítulo 12

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"O que é um amigo? Uma única alma habitando dois corpos."

~Aristóteles

***

- Vamos para casa?

Olhei ao redor e não vi a Raíssa então disse ao Arthur:

- Eu vou ligar para uma colega minha avisando que não vou para a casa dela mais e nós podemos ir.

- Eu também?

- Se você quiser.

Dei de ombros e saí de perto para fazer a ligação.

Ligação ON:

- Raíssa?

- Já estou saindo daqui, o Hitler vai me levar de carro, chegamos aí em alguns minutos...

- Ah, eu queria avisar que hoje eu vou receber uma visita então não vou estar indo.

- Tudo bem então.

- Obrigada, até amanhã.

- Até, se cuida.

Ligação OFF.

Quando eu me aproximei os meninos estavam falando sobre veículos aéreos.

- ... O meu jatinho tem alcance de 3.100 km. Fiz cinco paradas para reabastecer antes de chegar aqui.

- Incrível, eu posso dar uma volta?

- Ele deve estar um pouco distante agora, não vai ficar aqui comigo. Em outras oportunidades, quem sabe.

- Vamos.

Interrompi o assunto chato e me apoiei nos dois.

- O que você vai fazer por enquanto? Já viu a questão da escola e tudo mais? Estou tão feliz que você está aqui.

Ainda não caiu a ficha. Ontem era isso que ele estava fazendo que dificultava falar ao celular?

- As nossas mães vão se comunicar e provavelmente minha mãe ou o meu pai vem com a Merida para assinar a minha matrícula e outros documentos burocráticos que permitem que a sua mãe cuide de outros assuntos que surgirem para minha mãe não ter que viajar de tão longe.

- A Meri vai vir? E a Fany? Como você convenceu os seus pais?

Ele ficou sem graça e não respondeu então eu persisti:

- Me conta... Vou ter que perguntar a Merida?

Paramos de caminhar então ele fez sinal para o Miguel se afastar, ele relutou mas foi assim que eu olhei brava para ele. Arthur respirou fundo e olhou nos meus olhos, me encarando por muito tempo antes de começar a falar:

- Eu fiquei doente, desde que você saiu. No começo, quando a ficha não tinha caído, eu agi normalmente, depois eu percebi que tinha ficado dois dias longe e passei a fazer coisas sem perceber como não me alimentar direito, me afastar das pessoas, parei de ir para a escola, tinha pesadelos mais que horríveis, pensamentos ainda piores e ligava várias vezes ao dia para saber como você estava. Meus pais acharam inicialmente que era exagero e pirraça, mas passado dias na mesma situação me levaram ao psicólogo e eu fui diagnosticado depressão e síndrome do pânico. Mas sabe o que é mais engraçado? Depois de uns dias longe de você me aconteceram todas essas coisas mas no primeiro segundo em que eu te vi minha vida pareceu tão estável e segura que todos os meus medos e aflições evaporaram, consegui te contar isso tudo sem falhar e é a primeira vez que consigo falar da situação para alguém. Foram as semanas mais difíceis da minha vida.

Eu o abracei com os olhos cheios d'água e não tive palavras para dizer o quanto eu sinto muito. Como ele deve ter se sentido após receber aquela mensagem? E eu achando que ele não me ligava porque estava chateado, quando na verdade estava passando por tudo isso sozinho. Porque não me avisaram da situação dele.

- Eu amo você.

Eu disse sem largar o abraço.

- Eu também te amo.

- Eu não quero que você passe por essas situações horríveis. Você precisa ser forte, muito forte porque nós temos muitas coisas boas para lembrarmos quando a saudade chega. Eu também senti tanto a sua falta, só hoje devo ter dito milhões de vezes a mesma coisa. A única razão que me manteve feliz era saber que não importa a distância eu tinha amigos que são inseparáveis e o melhor deles é você.

- Espero não precisar de lembrar das coisas boas que passei com você para matar saudades, você tem que me prometer que não vai fazer isso mais.

- Eu prometo que mesmo que me obriguem eu vou me esforçar ao máximo para ficar perto de você.

- Se você me ama mesmo deveria ao menos ter tentado voltar. Vê se pode, me abandonar de repente? Eu cresci com você me tirando a paciência.

Ele disse provavelmente rindo.

- Quem disse que eu não pensei em fugir? É quase impossível, meu pai tem doutorado e PhD nesse assunto.

Eu não vi, mas tenho certeza que ele riu.

- Passaram cola na roupa? Querem ajuda para desgrudar?

O Miguel chegou mais uma vez fazendo com que nos separassemos.

Caminhamos por mais quinze minutos e eu já escala exausta, porque não voltamos de ônibus? É a primeira vez que faço esse percurso a pé, não tinha reparado o quanto é cansativo.

- Você pode andar tanto assim usando isso?

Arthur perguntou apontando para o meu gesso.

- Claro que não.

Miguel respondeu por mim.

- Porque não disse antes?

Arthur ficou bravo de repente e abaixou no mesmo instante fazendo sinal para que eu subisse em suas costas.

Estávamos andando por um tempo então ele parou.

- O que foi?- Perguntei.

- Nada.

Ele respondeu e continuou andando.
Quando chegamos em casa ele pediu meu estojo e a primeira coisa que fez foi rabiscar o que o Miguel havia escrito e colocar:

"Amo o meu melhor amigo Arthur mais que qualquer outra pessoa no mundo"

Eu revirei os olhos e quando o Miguel, que logo que chegamos foi pegar um copo d'água na cozinha, voltou  percebeu o que ele tinha feito disse:

- Ridículo isso.

E pegou uma caneta escrevendo em letras absurdamente grandes:

"Tenho um amor sem igual pelo meu lindíssimo amigo Miguel❤️"

Arthur competitivo como sempre não deixou barato e escreveu algo insuperável:

"Arthur & Katherine Friever's"

Eu sorri e ele também, o Miguel fez pouco caso e ficou resmungando enquanto eu não conseguia parar de encarar o Arthur e então percebi que os meus sentimentos por ele estavam diferentes.

Friever's (SPIN-OFF)Onde histórias criam vida. Descubra agora