Capítulo 9

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"Quem põe ponto final numa paixão com o ódio, ou ainda ama, ou não consegue deixar de sofrer."

~Ovídio

***


- Louise, é por isso que a gente não está mais junto.

- Por isso?

Ela perguntou apontando para mim com os olhos marejados mas ao mesmo tempo em chamas. Foi a primeira vez que eu vi fogo e água fazerem uma combinação perfeita, se era medo que eu deveria sentir, parabéns.

- Não. É porque você não sabe confiar no seu namorado e ainda por cima age como uma namorada obsecada e maluca. Isso é uma emergência, ela pode ter fraturado algum osso e você está agindo igual uma doida varrida por causa desse ciúme fora do comum que você alimenta com suas paranóias. Se não for ajudar, não atrapalha.

Ele disse me suspendendo novamente e levando para o andar de baixo enquanto gritava pela tia Lorena. Não sabia que ele tinha um relacionamento assim, parece que ele está se esforça muito para não estar com ela. Mesmo que seja duro com as palavras ele quer apenas que ela confie nele.

Na posição em que estava o meu pé balançava e doía muito enquantol me carregava pela casa.

- Está doendo tanto assim?

Ele disse me colocando no sofá e secando as lágrimas que eu nem havia percebido que tinha derramado.

- Vocês namoram?

- Namorávamos, eu vou te contar melhor em outra oportunidade. Espera um pouco que minha mãe deve estar de fone de ouvido, já volto.

Assim que ele saiu a menina desceu cabisbaixa e veio falar comigo.

- Me desculpe.

Ela sussurrou e saiu rapidamente antes que eu pudesse dizer qualquer coisa.

- Sua mãe vai me matar...

A tia chegou colocando a mão na cabeça.

Rapidamente chegamos ao hospital e com cerca de trinta minutos fomos atendidos. Achei muito ágil, uma vez fiquei no hospital o dia inteiro, fui embora depois que a minha cabeça parou de doer e acabei nem sendo consultada, apenas desisti de continuar esperando.

O médico disse que acabei trincando um dos ossos do metatarso. O que era ligado ao meu dedinho médio do pé, vou ter que ficar com um gesso por um mês aproximadamente.

Além disso, é para eu não fazer esforços excessivos porque pode trazer danos e blá-blá-blá.

O que me deixa mal mesmo, é o fato de ficar um mês sem usar minhas asas (patins).

Meu primo teve a cara-de-pau de pegar a caneta do médico para autografar meu gesso e ainda colocou "Amo muito o Miguel ❤️".

- Muito adulto.

- Quantos anos você tem mesmo? Ah, treze.

- Mais maduras que certas pessoas.

Ele encenou estar ofendido e me ajudou a levantar para irmos embora. A tia Lorena sumiu desde quando eu fui colocar o gesso.

- Sabe quem me liga desde que você veio pra cá?

- Quem?

Perguntei realmente curiosa. Será que são meus pais querendo saber se eu apronto escondida? Eu sou uma santa.

- O Arthur.

Eu fiquei bastante surpresa com isso, e feliz também. Muito feliz.

- Então quer dizer que ele não me liga e nem parece preocupado mas te liga para saber de mim?

- No mínimo uma dúzia de vezes por dia.

Ele disse demonstrando tédio.

- Então, da próxima vez, diga a ele que estou vivendo muito bem aqui. Cercada de amigos nessa país maravilhoso, que tudo aqui é um sonho.

- Tudo bem...

- Melhor... Diz o contrário, fala que estou doente, fui atropelada após fugir da escola porque estava sofrendo bullying e agora só da para ver os meus olhos e a minha boca. Além disso estou com depressão e grávida.

Ele riu tanto que precisou sentar em um banco até se acalmar, mas depois começou a rir novamente me contagiando e ficamos nessa crise de riso por mais de cinco minutos.

- Tem certeza?

- Não sei, vai que você tem uma crise dessas no meio da ligação e acaba com meu plano perfeito.

Ele riu novamente e disse:

- Você é a melhor... A melhor...

Estou muito feliz por ter alguém pra conversar aqui também. A gente sempre teve uma boa relação mas agora estamos ficando ainda mais próximos, gosto disso.

A tia Lorena chegou com três caixinhas de suco. Ela estregou uma para mim e outra para o filho, quando percebi que era de maçã quase gritei de alegria.

- Obrigada!!

- Vamos indo, já está tarde, agora precisamos encarar a onça.

Disse se referindo a minha mãe, e ela estava certa. Assim que abrimos a porta da minha casa contemplamos uma mulher com o rosto vermelho a expressão de quem pretende matar alguém e o pé batendo freneticamente no chão demonstrando nitidamente que ela está furiosa.

- Eu falei pra você não se machucar! Quantos anos você tem? Dois? Eu preciso de contratar uma babá pra cuidar de você? Cadê o seu exame de raio-x? Eu quero ver. Quem te atendeu? Foi o Abner? Sabia que dependendo de como a situação se desenrolar você pode acabar ficando sem andar de patins para sempre?...

Ela continuou falando alguma coisa mas eu congelei após essa frase é a minha bochecha foi ficando um pouco úmida, pela milésima vez hoje.

- Tia, desculpa interromper mas acho melhor falarmos disso depois.

O Miguel se pronunciou e a minha mãe notou meu estado. Ela apenas assentiu e sentou no sofá preocupa.

Eu sei que minha mãe reage assim até com um arranhão que eu arrumo. Por isso evito ao máximo me machucar e quando acontece escondo sempre que posso.

Miguel me ajudou a subir as escadas e também a preparar as coisas para eu tomar banho. Ele até amarrou uma sacola plástica para ajudar a proteger o gesso da água.

Estava tomando banho tranquilamente quando a energia caiu, o chuveiro elétrico parou de funcionar e eu na tentativa de achar a toalha no meio daquela escuridão escorreguei e fez um barulho enorme. Ouvi a porta abrindo e o meu nome sendo chamado...

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