Capítulo 14

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"Nada é permanente, exceto a mudança."

~Heráclito

***

Sem dó peguei todo a força que consegui juntar para dar um tapa na cara dela mas a professora interveio quando minha mão estava a pouquíssimos centímetros do rosto dela.

- Meninas, se vão brigar marquem um horário fora da escola e me convidem. Por enquanto joguem e finjam que nada aconteceu... Ah, é pênalti para o time A.

Olhei furiosa para a Louise que estava acanhada e tremendo de medo mas depois que a professora segurou minha mão ela me lançou um olhar cínico e deu um sorrisinho de lado.

- Eu vou bater o pênalti.

Declarei e fui para a posição. Respirei fundo e me concentrei, naquele momento o gol era a cara da Louise. Mirei da melhor forma e chutei com toda a minha força descontando minha raiva ao máximo mas logo em seguida desmoronei de tanta dor.

As pessoas estavam se aproximando e falando uma atrás da outra, muitos preocupados outros apenas curiosos mas não prestei muita atenção. As lágrimas saíram de forma incontrolada e a dor que eu estava sentindo era muito forte.

Os meninos vieram ver o que estava havendo e a professora pediu para que ninguém tocasse em mim, se afastassem e chamassem um enfermeiro.

Quando Arthur se aproximou e deu conta do que estava acontecendo ele correu até a mim imediatamente e seus olhos estavam cheios de preocupação.

Ele segurou minha mão e não disse nada. O enfermeiro chegou e pediu para que ele desse espaço mas ele não se moveu então o enfermeiro continuou o procedimento. Ele tirou meu tênis e eu gritei muito, foi horrível.

- Alguém avise o responsável que estaremos encaminhando ela para o hospital.

Ele disse e em seguida me colocou algo no meu pé, acho que é o que chamam de talha. Meu pé estava maior que a para de um elefante.

- Vou te dar um analgésico, você tem alguma alergia?

- Não.

Arthur respondeu por mim e eu apenas fechei os olhos me segurando para não gritar. Da última vez que machuquei o pé não doeu tanto.

Depois de muito agonizar finalmente me encaminharam ao hospital. O médico disse que isso ocorreu porque eu burlei o repouso e acabou piorando a situação e agora eu estou com fraturas cominutivas ou algo do tipo, só sei que exame foi rápido. Contudo, a parte que realmente me deixou abalada foi quando ele disse: "Há no máximo 1% de chance de que o seu pé volte a funcionar como antes, quando retirarmos o gesso novamente farei outro diagnóstico e te encaminharei para a fisioterapia de acordo com o estado que a fratura se encontrar. Ademais, você precisa encontrar outro esporte que não faça tantos esforços com o pé."

Eu não consegui fazer nada, simplesmente apertei as mãos, isso não é culpa de ninguém se não minha.

O Miguel foi liberado da escola por ser meu parente. Já estávamos quase saindo quando minha mãe apareceu correndo, ela estava com o uniforme cirúrgico e cheio de sangue.

- Katherine? O que houve? Porque? De novo?

Ela começou a me encher de perguntas e eu só a abracei chorando. Sem me importar com os olhares ao nosso redor.

- Mãe... Ele disse que...

Eu não consegui falar, só chorei por um tempo enquanto minha mãe fazia cafuné no meu cabelo.

- Tia, eu acompanho ela até em casa. O médico disse que ela precisa repousar direito dessa vez.

Minha mãe segurou minhas bochechas e disse enquanto secava minhas lágrimas:

- Vou ligar para o seu pai e pedir para que ele vá para casa, tá bom?

Eu afirmei e ela me deu um abraço e um beijo na testa antes de sair.

Haviam alguns taxistas esperando por clientes em frente ao hospital então entramos no táxi da vez e fomos seguimos viagem.

- Miguel?

- An?

Ele me encarou preocupado.

- Obrigada.

Ele sorriu e me puxou para um abraço quente e confortável. Em poucos instantes chegamos em casa e ele me carregou nas costas até a porta de casa, para minha surpresa o Arthur estava nos esperando.

- Kat? Vem eu te carrego... Está doendo?

- Não, quero dormir.

- Eu vou te levar, seu pai está preparado algo pra gente comer.

- Ele já chegou?

- Sim... E está um pouco, talvez muito... Bravo.

- Vamos.

Miguel falou.

- Eu levo ela.

Arthur declarou.

- Eu trouxe até aqui, então pode deixar.

Ele entrou comigo e me colocou no sofá. Meu pai surgiu com uma colher na mão e uma expressão nada amigável.

- Katherine Alencar, o que você aprontou?

- Eu só chutei a bola pai, culpa do médico que mandou tirar o gesso antes da hora.

- Você sabe o significado da palavra repouso? Vai ficar de castigo durante todos os dias em que estiver de atestado. Sem celular, sem internet no computador, sem receber visitas e mesmo que o Arthur esteja morando conosco, sem manter contato.

- Você é muito chato pai, eu tenho culpa de ter quebrado o pé? Isso é ridículo.

- O que você disse?

Estremeci, meu pai nunca me bateu mas quando ele fica bravo é assustador.

- Sim, eu preciso de um tempo para repensar meus atos.

Engoli em seco e ele pediu para o Miguel ir para casa descansar logo após me disse para fazer o mesmo e falou para o Arthur me ajudar a subir as escadas.

- Seu pai é assustador.

Arthur sussurrou enquanto subimos as escadas e eu sussurrei de volta:

- Eu sei, imagina quando eu for apresentar o meu namorado pra ele?

- Se fosse eu ele não se importaria, sou praticamente da família.

Eu ri e disse:

- É, mas isso nunca aconteceria. Certo?

Ele me olhou e lembrou:

- Nunca se sabe. Certo?

- Bom, mas entre a gente só tem amizade. Uma grande amizade, certo?

Perguntei desconcertada. Nunca conversamos sobre isso, é estranho.

- É. Digamos que por hora seja assim.

- Por hora?

- Sim. Como eu disse: "nunca se sabe".

Ele abriu a porta do meu quarto e esperou que eu entrasse. Depois me olhou e questionou sorrindo:

- As coisas mudam muito, os sentimentos não são uma excessão. Então, começar a pensar nessa possibilidade não é tão absurdo, certo?

Arthur fechou a porta e depois dessa conversa estranha eu decidi que preciso tomar um banho e ir dormir.

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