A fazenda não tinha mudado nada desde a morte de Nathan que já se passara sete anos, o local havia sido abandonado pelo restante dos amigos, pensava Thomas que já havia chegado no local a algumas horas. Tudo estava intacto, o capataz havia cuidado de tudo perfeitamente assim como o grupo ordenou, porém aquele ar de amizade de infância havia sido enterrado junto a Nathan, agora só restava o desdém e a desconfiança. Thomas não conseguia ver um motivo suficiente para que alguém do grupo pudesse ter cometido tal ato, todos se conheciam desde criança, eram como irmãos. Mergulhado em profundos pensamentos, Thomas nem ao menos percebeu que John acabara de chegar. Ao entrar no salão da casa grande, John logo viu que Thomas já havia chegado, porém antes de proferir algo, John ficou imóvel observando e sentindo a energia pesada do local. Thomas não pode deixar de notar que o velho amigo que agora era padre estava um pouco tenso ali dentro, mas a desconfiança foi menor que a vontade de abraça-lo e assim o fez levantando daquele sofá e abraçando o seu amigo. John retribuiu o abraço estranhamente com carinho. Talvez estar naquele local novamente fosse demais pra ele, Thomas notava isso como o semblante de sorriso forçado em sua face. –Meu velho amigo. –Mencionou John soltando suas malas no chão. –Já faz sete anos desde a última vez que nos vimos. Soube que agora você é padre. –Thomas se dirigia a ele com certa felicidade em vê-lo e de fato apesar da desconfiança a amizade deles era de muitos anos. O clima ficou estranho, já não existia aquele mesmo diálogo de antes.
-Vejo que cheguei na hora certa senhores. –Disse Lucio com um meio sorriso ao entrar no local. Este por sua vez, diferente do outro chegava de uma forma mais cômica. Lucio tinha 40 anos e era um cara bem sucedido dono de um banco, este do grupo, era o único que tinha esposa e filhos. –Sr Lucio, que bom que aceitou meu convite, como está sua família? –Tentava Thomas puxar conversa com seu velho amigo. –Estão bem Sr Thomas... Vamos deixar essas trivialidades de lado e vamos nos tratar como antes. –John ainda estava de pé ali, este apenas observava com uma certa angústia proveniente do lugar. Talvez a alegria dos outros lhe incomodasse. O barulho da carroça a frente da casa grande era notável, como previsto Cassandra chegava nessa carroça, todos os três lhe esperavam no salão para lhe cumprimentar. Acima de toda essa desconfiança estava à educação para com uma dama que Sra Cassandra era. O capataz levava suas coisas para o quarto enquanto todos estavam um ao lado do outro admirando a garota que sempre foi muito bela. –A viagem foi longa, estou exausta, deixemos as apresentações para a mesa de jantar. –A garota se dirigiu a seu antigo quarto sem nenhuma expressão. Voltar à fazenda não parecia ter surtido nenhum efeito físico aparente para a garota, retrucou Thomas que se dirigiu ao seu antigo quarto assim como os outros.
A mesa estava farta, as velas assim como a luz da lua pela janela iluminavam o local, os quatro amigos estavam divididos entre as cadeiras espalhadas ao redor da mesa retangular. Todos comiam calados e sabiam que essa viagem a fazenda não era simplesmente para se reverem novamente, havia algo mais e todos se remoíam por dentro com tamanha curiosidade. Thomas percebia seus olhares direcionados a ele como se fossem lhe comer. –Qual é o real motivo desse convite Sr Thomas? –Retrucou Cassandra quebrando aquele maldito silencio. –Por que fazer uma pergunta que você já sabe a resposta Sra Cassandra? –Cassandra instantaneamente parou de comer soltando os talheres na mesa ao lado do prato. De fato ela assim como os outros sabia a que Thomas se referia, porém deu de ombros e tentou manter sua postura. –Não entendo a que se refere Sr Thomas. –Lucio e John comiam calados, talvez tentando fugir do assunto pensou Thomas. –Ora, não seja hipócrita, claro que você sabe ao que estou me referindo, ou melhor, a quem estou me referindo. Todos vocês sabem, mas simplesmente ignoram e fingem não saber. –Thomas desabafou algumas palavras que estavam presas em sua garganta desde o início do jantar. –Thomas, o que você pretende com isso? –Indagou John exaltado. –Sr Thomas, algumas coisas devem permanecer mortas, outras esquecidas. –Proferiu Lucio com certa calma em relação aos demais que já estavam exaltados. –Se eu soubesse que o motivo dessa reunião era esse, eu nem ao menos me daria o trabalho de vir aqui. –Disse John exaltado e nervoso. –Amanhã mesmo voltarei para a cidade. –Falava Cassandra logo após John. –Eu não entendo o motivo pelo qual ficaram assim, todos sabem que entre nós existe um assassino, assim como o jeito de vocês e o que eu vi essa noite só comprova que ele realmente está aqui nesta mesa. –Disse Thomas em elevado tom de voz para com seus amigos. –Pelo amor de Deus, calhe a boca Thomas. –Disse padre John com certa elevação na voz como se esse assunto lhe tocasse profundamente. Um silencio perturbador invadiu a sala de jantar, essa noite já tinha dado tudo o que tinha que dar.
Cada um se direcionou a seu devido quarto com exceção de Thomas que foi ao antigo quarto de Nathan. As autoridades haviam lacrado o quarto após o assassinato, como não encontraram motivos ou suspeitos aparente, simplesmente arquivaram o caso e logo foi esquecido, mas tudo isso precisava e tinha uma explicação. Thomas precisava voltar no tempo mentalmente para a noite do assassinato, especificamente quando encontrou o corpo. Ao se aproximar da mesinha, Thomas pegou umas folhas velhas e uma caneta e foi anotando todos os detalhes que lembrava. Se a porta estava encostada, com certeza o assassino entrou por dentro. Não Havia sinais de agressões pelo quarto. A Janela estava aberta. O que dava a entender era que o assassino entrou pela porta do quarto e saiu pela janela, talvez tivesse tido alguma conversa com Nathan e depois ao Nathan se virar pra sair do quarto o assassino tenha lhe esfaqueado sem ele perceber pelas costas, como comprovado pelas marcas nas costas, por isso o corpo foi achado caído em direção à porta. No momento, aos olhos de Thomas que anotava tudo, todos pareciam ser suspeitos. As anotações foram guardadas e Thomas se direcionou a seu quarto para descansar, pois o dia tinha sido longo e os dias seguintes seriam muito mais.
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Mais um capítulo aí gente, espero que goste, digam o que acham, quem acham que é o assassino e votem.
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Faces De Vidro
Gizem / Gerilim"Thomas, Lucio, John, Cassandra e Nathan são grandes amigos desde crianças, quase como irmãos. Cada um seguiu sua vida, mas nunca se afastaram, sempre se encontravam em uma fazenda uma vez por semana, especificamente aos domingos, porém tudo isso mu...