John?

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          Antes que pudesse abrir a porta de seu quarto, misteriosamente a porta do quarto de John se abria até que ele pode ver quem era e o que tinha em uma das mãos. Espontaneamente sua expressão muda para raiva, ele nem ao menos deu espaço para Thomas sair do quarto, ele estava com milhões de palavras na garganta para disparar em Thomas como uma metralhadora. Thomas se preparava para escutar, mas por questões religiosas, padre John tentou manter a calma mesmo visivelmente transparecendo o contrário.

-Thomas, isso já é demais, você está passando dos limites com essa obsessão. Eu sou um servo de Deus. –Disse padre John exaltado tentando manter sua calma.

-Padre John, não é uma obsessão, é um fato. Mas o que um servo de Deus como você tem a esconder? –Indagou Thomas enfrentando o padre.

-Todos temos segredos Sr Thomas, até mesmo um sacerdote como eu. Eu cometi meus pecados, meus erros, tenho minha cruz, mas devo uma explicação apenas ao senhor. –Falava este tentando se esquivar.

-De fato, mas o que tem nessa carta, mesmo sem saber o que se trata, tenho certeza que é do meu interesse. –Disse John mostrando a carta insinuando que abriria.

-Sr Thomas, não julgueis para que vós não sejas julgados, disse o senhor, quem não cometeu nenhum pecado, atire a primeira pedra. Entenda Sr John, essa carta deveria ter sido queimada há sete anos.

-Eu só quero justiça padre, não me esconda nada. Eu sei que você tratava Nathan diferente de todos, com mais carinho, mais atenção. Talvez tenha virado padre por remorso. –Disse Thomas tentando impor pressão.

-O que está insinuando Thomas? –Indagou o padre.

-Não estou insinuando nada padre.

-Eu mais que todos queria que Nathan estivesse vivo hoje. –Disse o padre se sentando na cama. Leia a carta. –Assim que terminou de falar, Thomas então abre o envelope para ler a carta. Padre John começava a chorar como se aquilo fosse uma estacada em seu coração.

"Querido Nathan, sabe, eu sempre lhe ajudei em tudo, sempre lhe encobri, fiz tudo o que pude, não sei se os outros já notaram que eu te trato diferente deles, mas a verdade é que sim, eu sempre lhe tratei diferente dos demais por que lhe amo. Você também me trata diferente dos outros, eu vejo isso, talvez o que eu sinta seja recíproco, eu não sei. Mas se for recíproco, saiba que eu estou disposto a fugir do seminário por você, enfrentaria minha mãe ou qualquer um, porém entenderia seu receio em saber disso, estamos em 1860 e o amor entre dois homens não é algo que se diga e que se vê por aí, caso alguém saiba, seremos mortos, eu tenho dinheiro em um banco na cidade, vamos fugir. Eu lhe amo como se ama uma mulher, sei que isso é errado, mas não controlamos os sentimentos, crescendo com você eu fui me apaixonando aos poucos e isso está me consumindo, eu tinha que lhe falar. Responda-me ou me procure.

                                                                                                                                                                          John Lauren"

               Após terminar a leitura da carta, Thomas se virou e viu que John chorava, mas ele tinha indagações e precisava supri-las com respostas para que pudesse entender tudo aquilo, a homossexualidade naquela época não era bem vista e em alguns casos podia levar a morte. Isso não seria problema para Thomas, pois este era amigo de John desde criança, ele não contaria isso a ninguém em nome de sua longa amizade.

-John, mas Nathan chegou a receber essa carta? –Perguntou Thomas ao se aproximar e se sentar ao lado do outro na cama.

-Não, essa carta foi um momento de fraqueza em que eu estava bêbado, assim que fiquei sóbrio guardei a carta. –Respondia o padre em prantos de lágrimas. –Que Deus me perdoe pelos meus pecados. –Thomas ainda tinha certas dúvidas em relação a isso, certas coisas não batiam.

-Mas você sabia que Nathan se relacionava apenas com mulheres, ele me levava pra sair pro bar e eu lhe via dando em cima das mulheres, outras vezes saindo com elas. E essa data condiz com o momento do namoro de Nathan com a filha de Lucio. –Thomas já tinha uma pequena tese na cabeça do que poderia ter acontecido em decorrência dos sentimentos de John por Nathan e iria aproveitar a oportunidade para fazer pressão.

-O que está insinuando Sr Thomas? –Falava John limpando as lágrimas. Thomas sabia que a carta havia sido entregue, pois um dia depois da data lida na carta, Thomas tinha visto um envelope com a mesma data em cima da cama de Nathan, mas ele ainda não tinha lido. Talvez ele tenha se arrependido de ter escrito ela por causa do namoro de Nathan com a filha de Lucio que estava na fazenda nesse dia. –Não sei, mas todos sabiam que do relacionamento de Nathan com a filha de Lucio e ele estava feliz com isso, pois ela era linda e rica, cujo Lucio pai dela tinha um banco de grande valor comercial. Nathan tinha exatamente o que queria, amor, dinheiro e luxúria, coisa que você nunca poderia dar a ele, pois ele não te amava como você queria, você também não tinha dinheiro suficiente pra suprir a ambição dele e também não despertava nenhum tipo de desejo nele. –Thomas expôs alguns argumentos tentando tirar alguma coisa dele, talvez uma confissão, mas John continuava a chorar, aquilo parecia lhe doer muito, o que era bem estranho sendo que sete anos haviam se passado, talvez doesse muito por remorso de ter matado Nathan.

-Sr Thomas. –Disse John exaltado expondo sua angústia e sua raiva. –Eu amava ele, eu seria o último a lhe a querer ele morto.

-Eu já não penso bem assim, talvez por nunca poder dar o que ele queria você tenha ficado com raiva e ciúmes, pois nunca teria ele e então ao ver ele feliz com a filha de Lucio, em um momento de raiva você tenha lhe matado, com o peso dessa morte, você terminou o seminário e conseguiu ser padre assim mesmo como uma forma de punição pra si mesmo, por isso tem tanto medo e remorso do passado. Lembro que naquele dia da morte dele,você chegou e começou a chorar como se tivesse morrido alguém da sua família,talvez chorou daquele jeito com a intenção de despistar sua culpa. –Thomas jogava tudo sem pena de John, aquilo era preciso para tirar alguma coisa dele.John continuava chorando ali sentado, ele só queria ficar sozinho. –Thomas, eu juro por Deus, não fui eu. –Disse o mesmo tirando um rosário do bolso como uma forma de juramento de que estava falando a verdade, porém tudo indicava o contrário. –Eu irei ficar com essa carta como prova de sua culpa, ou de sua inocência dependendo de encontrar outro culpado. –Lucio e Cassandra talvez tivessem bem mais motivos para matar que eu, você não acha estranho Cassandra ter mudado completamente com ele nos últimos meses antes de sua morte e Lucio que nunca aprovou o namoro de sua filha com Nathan? –Falava John tentando provar sua inocência, mas o que Thomas via era que ele estava apenas tentando desviar sua suposta culpa para os outros. Antes que Thomas pudesse falar mais alguma coisa, John lhe empurra a força para fora do quarto. Thomas voltou para seu quarto e guardou a carta.  

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O que acham do John ?

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