Um dia depois

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O beijo estava tomado de desejo, Luiza não sabia ao certo como aquilo poderia estar acontecendo, mas ali estava ela, completamente entregue nos braços de Marcelo. Suas línguas dançavam de forma lenta e rápida ao mesmo tempo, as mãos de Marcelo passeavam nas costas da moça e as dela lhe bagunçavam o cabelo. Quando o ar se fez necessário, Marcelo se afastou de Luiza abrindo os olhos, os olhares se encontraram e mesmo com pouca luz a loira constatou o medo que tanto ela temia.

Os olhos do homem a sua frente continham um misto de dor e desejo, esses dois sentimentos juntos não eram bons. Entretanto a dor que ele parecia sentir sufocava qualquer desejo que ele pudesse ter naquele momento.

—Me desculpe, não deveríamos ter ido tão longe... a culpa foi minha! –a voz de Luiza se apressou saindo baixa e um pouco hesitante, porém ela continuava olhando em seus olhos.

—Não, a culpa foi minha, fui eu quem veio até aqui e te beijou. Eu sinto muito Luiza, isso não deveria ter acontecido. –Marcelo falava de forma suave, ele parecia estar realmente arrependido, sua mão direita afagou o rosto de Luiza docemente como se ele quisesse confortá-la e se despedir. _Eu ainda não estou pronto para isso e não quero te fazer sofrer, mas eu não sei ao certo o que está acontecendo...

—Não se preocupe. Eu prometo que isso não irá se repetir, você é apenas o meu patrão e continuará sendo assim. –falou visivelmente magoada com aquela situação, mas, no fundo, ela sabia que ele estava sendo sincero.

—Me desculpe. –disse apenas, afastando-se de uma vez da moça caminhando a passos largos para o seu quarto.

Luiza entrou no quarto de Joaquim e fechou a porta. Ela caminhou até o berço do pequeno e se pôs a observá-lo. As lágrimas desceram sem sua permissão, tudo o que ela queria era ser mais forte e ter desviado o rosto, ou ter dito algo que o convencesse a voltar para o escritório, mas como fazer aquilo se tudo dentro dela chamava por ele?

—Se não fosse por você, eu iria embora agora mesmo! –disse com um leve sorriso olhando para cada detalhe do rosto de Joaquim.

Aquela seria mais uma noite em claro para os dois adultos daquela casa. Marcelo não sabia como perdera o controle de maneira tão inapropriada. Olhando para a foto do seu criado mudo, ele socou o travesseiro que estava próximo a ele e passou as mãos exasperado por seus cabelos. Ele tentou analisar o que havia ocorrido a instantes, mas não conseguiu. O homem pegou o porta-retratos nas mãos e acariciou o rosto de Verônica.

—Eu ainda amo você, como sempre amei e como sempre irei amar. Mas eu não sei o que está acontecendo, de fato, ela é tão gentil, doce, amiga... Mas, mesmo sem te ter aqui, sinto que jamais ninguém conseguirá entrar no seu lugar. Perdão! –as palavras saíram entre algumas lágrimas, Marcelo era um homem forte, mas quando se tratava de Verônica e da sua família ele não tinha vergonha de chorar, simplesmente se deixava sentir.

Sem saber como seria na manhã seguinte, Marcelo e Luiza adormeceram após horas acordados. Marcelo com um sentimento de culpa que o consumia e Luiza com um ressentimento imenso dentro do peito.

Por fim o dia amanheceu, Luiza acordou antes de todos e arrumada adequadamente desceu para a cozinha afim de preparar alguma coisa para o café da manhã. Marcelo desceu uma hora depois com Joaquim nos braços, ele já estava arrumado para ir trabalhar, Luiza o olhou de relance e tudo nele parecia atraente e lindo. Ela não queria, mas acabou por se desconsertar por alguns segundos que pareciam horas, os olhares se encontraram e permaneceram vidrados um no outro, se não fosse pelo choro manhoso de Joaquim, tudo poderia ficar ainda pior do que já estava.

A moça se aproximou e pegou o menino nos braços, rapidamente baixou o olhar e nada disse. Seu coração batia descompensadamente quando deu a mamadeira para o pequeno balançando-o um pouco. Marcelo não comeu nada, apenas deu um beijo na cabeça do filho e falou com Luiza pela primeira vez naquela manhã.

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