Minha razão de viver

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Era uma tarde ensolarada, estava sentada na varanda da nossa casa (minha e do Marcelo), observando o Joaquim correr de um lado para o outro com outras crianças da mesma idade. O jardim estava devidamente decorado em tons de azul, vermelho e branco. Meu menino havia escolhido como tema de sua festa de cinco anos o "capitão américa". Joaquim crescera forte e feliz como devia ser, já não chorava mais por sua mãe, pois sabia que ela morava num lugar muito melhor que nós. Com a nossa convivência ao longo dos anos e após meu casamento com seu pai, o doce e sapeca Joaquim passou a me chamar de mamãe Lú. Eu o amei desde o primeiro momento em que o vi como se fosse, de fato, meu filho. Mas quem não amaria aquela coisinha gordinha sorridente? Contudo, devo confessar que no momento em que ele me chamou de "Mamãe Lú", por volta dos seus dois anos e meio de idade, meu coração bateu descompensadamente e eu não soube o que fazer a não ser quase o esmagar em um abraço emocionado e apertado. Marcelo também não pôde conter as lágrimas e juntou-se ao abraço.

Marcelo, o grande amor da minha vida. Posso afirmar com toda a certeza do mundo que não lembro muito de quem eu era antes dele entrar como um furacão iluminador em minha vida. Não sei o que seria de mim sem ele para me ajudar em cada passo que dei e tenho dado. Estou, no momento, pensando em como será o meu terceiro romance. "Despertar", foi, de longe, um sucesso internacional, e isso foi extremamente inusitado para uma escritora recém lançada no mercado, porém devo muito ao meu editor e padrinho.

De repente, minha mente vai ficando escura, a imagem de uma barriga proeminente vai desaparecendo juntamente com a imagem de Joaquim brincando no jardim. Mas o que está acontecendo comigo? Minha respiração começa a ficar entrecortada e sôfrega. Sinto minha cabeça latejar fortemente. Gotas de suor escorrem por minha testa, sinto que meu corpo está muito mais frio do que o normal, calafrios percorrem-me desde a ponta dos pés até o couro cabeludo, fazendo-me arrepiar.

Abro os olhos. Não há nada além de um pretume denso e apertado. Tento me movimentar, mas nada acontece. Não há espaço. Começo a me debater dentro do que eu acho ser uma mala de algum automóvel, pois tenho certeza que estou indo em direção a algum lugar, pois o carro vibra abaixo de mim e percebo que o mesmo está em alta velocidade. Mas o que está acontecendo comigo? A pergunta não sai da minha mente, até que lembro do episódio anterior que ocorrera minutos antes de ser colocada como um entulho aqui dentro.

Thiago. Sim, havia sido ele quem fizera isso comigo. Com dificuldades, levo minha mão esquerda até a cabeça e sinto na ponta dos meus dedos um liquido viscoso. Eu estava sangrando. "Thiago! Thiago! Pelo o amor de Deus, me tire daqui. " Meus gritos estavam mais próximos de sussurros quase inaudíveis do que propriamente um grito desesperado de socorro.

Reuni todas as forças que me restavam, e letárgica comecei a me debater dentro da mala, tentando fazer o máximo de barulho possível.

_Thiago, por favor, me tire daqui! Pare esse carro! Socorro, eu não aguento mais! -Luiza estava completamente desesperada. Suas mãos batiam esmurrando o capô do carro, na tentativa de que o homem ao volante a ouvisse e finalmente a libertasse daquela tortura.

Longos minutos se passaram até Luiza sentir o carro diminuir a velocidade e por fim estacionar. Logo, ela percebeu passos se aproximarem de onde estava, e então começou a esmurrar bravamente novamente.

_Por favor, me tira daqui! Thiago, eu estou morrendo! Me ajuda! -era tudo o que ela conseguia pensar. Tudo dentro de si indicava que ela estava indo embora, porém a jovem não queria partir sem se despedir das pessoas que amava.

_Oi, docinho. Acalme-se, já chegamos. Essa p%&8 desse carro está sem gasolina. O imbecil do meu ajudante não o abasteceu como eu mandei. Mas ele terá o seu pagamento. Idiota! -falou ao abrir a mala do automóvel.

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