2º capítulo: Como tudo começou.

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Não vou entrar em muitos detalhes, afinal sei que já leram em milhões de lugares, assim como viram em várias entrevistas, eu contando como foi quando fiz o teste com a Cait. Nos demos bem logo de cara, não sei, tenho essa mania de confiar muito nas pessoas, e não que ela parecesse uma pessoa que não poderia confiar, mas na situação que estávamos, confiança era a base de tudo. E quando ela interpretou Claire naquele dia, sabia que a série seria um sucesso, assim como a nossa parceria.

Não vou negar que quando a vi pela primeira vez, não notei logo de cara seu corpo com curvas na medida certa, olhos azuis expressivos e boca maravilhosa, afinal sou homem e prestamos atenção em mulheres bonitas. Mas ter alguma coisa com ela não passou pela minha cabeça, estava tão focado na série e seu sucesso que só queria que tudo desse certo. Já estava com uma idade que não poderia esperar muito mais por um grande papel. Aquela era minha chance e não deixaria ninguém ou nada estragar.

Esse pensamento estava fixo em minha cabeça até a primeira cena romântica que gravamos juntos. Já havia feitos cenas assim antes, claro, mas quando beijei Cait, senti uma coisa que não sentia há muito tempo e por mais que vocês achem, "ah, ele se apaixonou por ela nessa hora!". Não, não foi isso que aconteceu, o que eu senti foi medo. Medo? Vocês devem estar se perguntando, medo do que Sam? Bom, pra explicar isso, vou ter que voltar um pouco no tempo.

Quando era um ator iniciante, fazia muitas peças de teatro para tentar sobreviver nesse meio e claro, ser descoberto um dia por um grande diretor. Em uma das primeiras peças que fiz, iria contracenar com uma linda atriz. Ela tinha uma beleza comum para essa parte do país, cabelos claros, olhos azuis, mas mesmo parecendo comum, tinha algo que despertava em mim algo inexplicável. Para a minha felicidade, iriamos interpretar um casal. Lendo o roteiro, já fiquei empolgado com nossas cenas mais intimas. Aquela era minha chance de impressioná-la.

Ensaiamos várias vezes, e cada vez que a beijava sentia um arrepio por todo o meu corpo. Pela sua resposta e olhar a cada vez que separávamos, sabia que ela sentia o mesmo. Esperei nossa grande estreia passar para criar coragem e chama-la para sair. Às vezes depois dos ensaios íamos a algum bar, mas sempre com todo o elenco. Dessa vez queria ela só pra mim.

Esperei um dia depois de a peça acabar, enquanto ainda estávamos sobre o efeito da adrenalina da resposta do publico para chama-la. Lembro até hoje da nossa conversa:

"- Você estava perfeita hoje Sarah, como sempre!

- Ah Sam, e você como sempre tão fofo! Não precisa fazer isso, sei que errei umas falas no meio da peça e sei que mais uma vez você me salvou! Aquele beijo veio na hora certa, ninguém percebeu que esqueci minha fala!

Mal sabia ela que havia a beijado por não me conter quando ela me olhou com aquele jeito desesperado, estava tão linda.

- Companheiros são pra isso! Falando nisso, estava pensando, já estamos no final da nossa temporada, o que acha de sairmos pra comemorar o sucesso da peça?

- Claro! Vou ver com o pessoal se eles topam! – e foi saindo do camarim. Num movimento brusco a puxei pelo braço e ela parou com o rosto colado no meu. Respirei fundo e falei:

- Não, quero ir só com você. Nós dois... – parei no meio da frase e a olhei profundamente.

Ela me olhou séria por um minuto e logo abriu um sorriso. Me animei, esperando sua resposta, mas o largo sorriso se tornou uma gargalhada e comecei a me sentir um idiota. Fechei a cara e me afastei dela. Virei de costas e fiquei encarando a parede do nosso camarim.

- Sam, desculpa, não queria rir de você, mas você me pegou de surpresa! – ela se aproximou e me tocou no braço. Com muita força de vontade, virei e a encarei em silêncio.

- Sam, você sabe que amo passar tempo com você, nos damos tão bem, temos tanto assunto em comum, mas... – a interrompi.

- Mas você não quer nada comigo! – falei fechando a cara mais uma vez, mas não consegui ficar quieto. – Não foi isso que pareceu quando te beijava, sua resposta, sei que não era só por causa da sua personagem, via seu olhar pra mim entre cenas! – nessa altura já estava quase gritando, sei lá por qual razão estava ficando muito nervoso.

- Acho que preciso explicar pra você algumas regras do teatro e interpretação, sei que faz pouco tempo que você está nesse meio, pelo menos profissionalmente. – a olhei de uma maneira que não sabia explicar, o que era esse discurso? Mas ela me ignorou e continuou a falar. – Quando dois atores contracenam juntos, em cenas românticas e os beijos e caricias parecem tão reais que é como se estivessem juntos em vida real, é porque não é real, entende?

Não, não entendia essa lógica absurda e totalmente errada. Como assim? Se sinto atração verdadeira pela pessoa, então não é verdade? Só atuação?

- Sam, sei que está confuso, mas nós nos damos tão bem em cena, porque não temos atração e envolvimento nenhum na vida real, se tivéssemos, não conseguiríamos transmitir tudo isso na interpretação, ficaríamos constrangidos, tentando esconder o que realmente sentimos.

- Isso não tem lógica alguma, era mais fácil ter falado que não estava interessada em sair comigo e pronto! – passei por ela como um tiro, sem deixa-la falar mais nada e sai daquele camarim, aquele lugar estava me sufocando."

E foi isso que aconteceu com a minha primeira e vamos dizer, ultima paixão que tive por uma companheira de trabalho e cena. Sei que vocês podem estar pensando que essa explicação que Sarah me deu por não querer sair comigo não tem pé nem cabeça. É, por muito tempo pensei o mesmo, mas conforme fui atuando em mais peças e conhecendo mais mulheres, entendi que tudo fazia sentido. Atuei com outras mulheres e não sentia nada por elas, nem atração, nem paixão, amor e nossas cenas eram ótimas, porque não tinha medo de fazer nada, ou aquele medo de deixar transparecer para os outros os seus verdadeiros sentimentos.

Parece loucura, mas é assim que funciona. E por isso que falei que quando beijei Cat em uma cena, senti um arrepio por todo meu corpo, o mesmo arrepio que sentia com a Sarah, e logo veio tudo, o desejo incontrolável, a alegria e o medo. O medo de deixar transparecer que havia sentido algo mais. Medo de ser rejeitado mais uma vez. Não, isso não podia se repetir. Não agora.

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