Minha mãe sempre me falou sobre cuidar da saúde mental, sobre o quão importante era sempre estar o mais sã possível.
Eu sempre levei isso pra outro conceito; tentar me manter sã quando eu tomava um porre muito louco e preparava minha saúde mental quando eu estava prestes a fazer algo que eu poderia me arrepender no dia seguinte.
Mas hoje, me vendo e buscando me reconhecendo depois de um período que eu não havia percebido o tempo passar, entendo mais o que ela queria me falar.
Após passar por um relacionamento desgastante, tanto para mim quando para ele, eu percebi o quão afetada mentalmente estava. Não havia um com maior parcela de culpa, ele não era o maior culpado e muito menos eu, ambas as partes tinham a mesma porcentagem de culpa.
Era tantas brigas que acabavam sendo mascaradas com os momentos bons, era um looping enorme de erros e pequenas parcelas de acertos e nós dois não percebemos isso, porque estávamos preocupados demais com o passado, ainda vivendo nele.
Hoje vejo que não havia me entregado por completo naquela relação, por conta do passado conturbado dos meus pais e chegado à conclusão que eu não teria uma pessoa especial tão cedo, só depois dos quarenta, igual minha mãe.
Já Özil tinha problema de enfrentar, ou até mesmo esquecer meu passado, que tudo bem, era um pouco estranho, mas logo ele que já havia pegado a mãe de amigo de time e até mesmo mulher comprometida.
Cheguei à conclusão que nenhum de nós conseguiríamos ser totalmente honestos um com o outro, não naquele momento.
— Meu avião pra Ibiza sai daqui três horas e você não foi até minha casa pra se despedir de mim — Sidenstrick disse entrando em minha sala.
— Deus me livre de me deslocar até do outro lado da cidade só pra te dar tchau — murmurei ainda sem olhar pra ele.
— Só porque você é chefe desse departamento todinho, não quer dizer que pode ser grossa comigo — o mais velho ralhou, me fazendo rir.
— Eu vou mandar os seguranças te tirarem daqui — ameacei levantando o olhar pela primeira vez.
— Ingrata! Eu ainda posso te demitir...
— Você não faria isso com a pessoa que mais ama nessa empresa — me levantei, contornando a mesa e parando frente a frente com Robert. — Ontem fui até sua casa, mas só encontrei Rosalie lá.
— É, tive que sair pra comprar alguns shorts — sorriu orgulhoso.
— Ah, qual é! Aposto que foi pegar alguns shorts da Puma — eu disse rindo.
— Fui mesmo, mas isso fica como um segredo nosso, Evie Allen, a mais nova chefe de Marketing da Puma — ele estendeu uma plaquinha, em seguida colocando em cima da mesa. — Eu estou muito orgulhoso de você.
— Sei disso — disse levantando os ombros. — Eu preciso te agradecer por ter me ajudado desde quando cheguei aqui, sempre esteve disposto a me ensinar, uma grande parcela do que sou hoje é graças a você.
— Você teve consciência de saber aprender e ouvir tudo que falei, méritos seu! — me deu seu típico abraço de urso. — Fique orgulhosa da mulher e profissional que você se tornou, sempre busque aprender e passar o que já sabe pra frente. Você ainda vai longe!
Após da Copa do Mundo e do projeto que havíamos apresentado, com a minha liderança, eu ganhei a melhor oportunidade da minha vida: assumir a parte de marketing da Puma em Londres, ficando no lugar de Sidenstrick.
— Obrigada, de coração — sorri, respirando fundo pra amenizar a vontade de chorar.
— Que coração? — o mais velho rebateu, me fazendo rir.
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The Worst
Short StoryEvie Allen sempre foi uma mulher independente, que nunca precisou de ninguém para conquistar tudo aquilo que sempre quis. Aos vinte e quatro anos possui uma carreira com excelências, trabalha em uma grande empresa do mundo, domina quatro idiomas, um...