04.

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Quando a campainha tocou pela quinta vez, eu perdi a paciência e me levantei pra ver quem estava interrompendo meu trabalho, já que hoje tirei o dia pra resolver pequenas coisas da Puma em casa mesmo. 

- O que você ta fazendo aqui? - Eu disse o encarando de cima á baixo.

-  Não posso vir ver minha filha? Qual é Ev, depois de todos esses anos eu pensei que nossa relação havia se normalizado. - Meu pai falou, dando um passo pra entrar na casa.

-  Você sempre se engana quando o assunto sou eu. - Dei um passo pro lado, dando ele espaço para entrar completamente.

- Porque você simplesmente me ignora, e só vai na minha casa com o intuito de ver seus irmãos e mesmo assim faz de tudo pra não se aproximar de mim. - Disse enquanto respirava fundo. - Vamos tentar ter uma conversa honesta, eu preciso disso.

- Até hoje você não conseguiu medir tudo que você fez com a minha mãe? - Ri, balançando a cabeça de um lado pro outro. - É inacreditável... você deu uma puta sorte de ter casado com uma mulher igual a Becca, espero que você dê valor a família que construiu ao lado dela.

- Minha cabeça estava toda fodida naquela época, Ev! - Disse gritando, fazendo com que eu recuasse dois passos para trás.

- Então pra compensar decidiu foder a minha cabeça e a vida da minha mãe? - Apoiei minhas mãos na mesa, e virei o rosto tentando não encará-lo. - Você traiu ela dentro da nossa casa, enquanto eu estava em casa, no quarto ao lado. Com a melhor amiga dela, minha madrinha... E eu me lembro das inúmeras vezes que vi vocês dois juntos, e eu não sabia o que fazer, porque até então eu te admirava tanto, o Almirante era meu exemplo pra toda a vida.

- Eu não sabia... - Disse franzindo a testa.

Então pela primeira vez em toda a minha vida, meu pai havia perdido a pose tão conhecida por quem o rodeava.

- Não sabia que eu via? - Ri, sem vontade nenhuma. - Eu via e ouvia tudo, mas eu não sabia se era o certo a se fazer, porque você sempre fez tudo corretamente, era amado por todos, herói de muitos... quem seria eu pra questionar algo?

- Filha, eu... nunca foi a minha intenção, eu vou falar isso pro resto da minha vida. Eu e sua mãe éramos diferentes, novos, mas eu deveria ter sido honesto e deixado ela ir, não ter jogado tão sujo.

- Você fez todos acreditarem que mamãe era a mulher que tinha a vida perfeita, um homem maravilhoso e importante pro país, para simplesmente traí-la e quando ela descobriu pediu sigilo e nos chutou da sua casa. - Ri, batendo palmas. - "Pode ficar com a Evie, leve ela, todo mês terá dinheiro na sua conta para vocês viverem tranquilamente. Mas por favor, Joanne, não conta pra ninguém sobre isso. Eu tenho um trabalho a zelar" - falei, tentando imitar seu timbre de voz.

- Eu não queria que tivesse sido assim, filha. - Disse se levantando, virando pra mim.

- Mas foi! - Gritei. - E eu lembro até do tom da sua voz dizendo isso, toda essa merda me perturbou durante anos, e eu não confiava em ninguém pra desabafar e tirar o peso das minhas costas.

- Você deveria ter falado tudo isso comigo, eu juro que tentaria arrumar as coisas. Nós poderíamos juntos dar um jeito nisso... eu estava em uma péssima fase.

- Não pode arrumar o que já está completamente fodido, arruinado. - Passei as mãos em meu rosto, tentando parar de tremer. - Minha mãe fez de tudo pra não precisar de você e nós nunca usamos um centavo de todo aquele dinheiro que você mandava todo mês. Ela lutou, trabalhou e conquistou a vida dela, independente de você e me ajudou a chegar onde cheguei.

- Ela me falava que você estava fazendo cursos, faculdade... - Falou confuso.

- E eu fiz tudo isso e mais um pouco, mas nada disso veio de você. Eu não te culpo pelos medos e inseguranças que tenho em minha vida, porque a culpada fui eu de ter remoído tanto uma história que pra você, o grande responsável disso, não passou de uma má fase na vida.

The WorstOnde histórias criam vida. Descubra agora