Hoje eu enterrei minha esposa! Acabei de chegar do cemitério. Percebem então que não foi um bom dia para mim, não é mesmo? Mas a verdade é bem pior, tudo é muito pior, porquê... Eu a matei. Sem nunca lhe fazer mal algum: EU A MATEI. Parece confuso não é mesmo? Vou tentar explicar!
Moro em São Paulo (capital) e, como de costume, ao aproximar da páscoa Anne iniciou seus pedidos por chocolates. Todo ano ela queria um Ovo de Páscoa diferente, escolhia a dedo e eu sempre, sempre atendia seus pedidos. Como ela era doce...Ela...
Esse ano não fora diferente e uma semana antes das comemorações lá estava ela, suavemente pedindo em meus ouvidos seu novo desejo.
Ela resolvera inovar, saíra dos pedidos comuns e agora queria um Ovo recheado com morango. É um produto bem conhecido, você que está lendo agora deve saber: Duas camadas de chocolate ao leite com recheio cremoso de morango entre elas.
Uma febre! Todos queriam a novidade e, com Ann... não foi diferente.
Eu trabalho muito, sempre trabalhei...No momento tenho dois empregos e ganho pouco como quase todos brasileiros, pelo menos aqueles que trabalham de verdade. Não tinha tempo. Sim, eu lembrava de comprar. Todos os dias, mas quase não tinha tempo e quando tinha o cansaço me obrigava a voltar para casa.
Depois eu compro...Ahh, Depois eu comp...
(Essas eram minhas frases)
Enfim chegou a quinta-feira antes do feriado. Após o trabalho saí às pressas para comprar o bendito Ovo de Páscoa. Eu adorava agradá-la e esse ano não seria diferente. Os mercados, as lojas e as docerias da cidade estavam lotadas. Não havia mais."Esse acabou", "Vendeu igual água", "Não temos mais". Era isso que eu ouvia em todos os lugares.
Restavam as barracas...Sabe aquelas barracas de São Paulo onde se vendem chocolates em barra? Em toda esquina têm várias e, na páscoa eles também vendem Ovos de Páscoa. Era minha última chance. Andei muito sem obter resultado algum, até que em uma barraca próxima ao mercado municipal onde uma velha muito suja que parecia ser cigana ou rip, não sei bem, vendia alguns ovos que restavam e entre eles havia o tão precioso pedido de Anne. Agarrei o produto com agilidade e paguei o dobro do preço real para tê-lo. Era para Ann...
A velha fedia a mendigo e seu olhar era estranho, duramente seco. Olhava para mim como se estivesse olhando para nada, algo que não existe, ou não deveria existir. Não dei muita bola para isso na hora, porquê aliás, educação em São Paulo não se encontra em toda esquina. O importante era que... eu havia conseguido. Ela estaria feliz...
Cheguei em casa, escondi o Ovo de Páscoa, como de costume, pois só o entregaria no domingo de páscoa. Eu deixaria, como sempre, ao lado dela, para que fosse a primeira coisa que visse ao despertar. E assim o fiz no domingo. Logo em seguida preparei um café e deitei no sofá para assistir alguma coisa na televisão.
Algum tempo depois pude ouvir o barulho do papel laminado e corri para o quarto para ver o sorriso que me fazia viver... Foi a última vez que o vi...Eu ainda lembro.
Como de costume Anne separou os bombons do Ovo para comer depois e disse para mim mostrando um bombom um pouco diferente que estava embrulhado num alumínio esverdeado "Esse deve ser especial, hein?", pois era realmente diferente sendo mais comprido e de pouco diâmetro. Eu sinceramente achei ser um diferencial e fiquei feliz junto com Anne.
Ela sempre começava pela ponta, ela...sempre fazia isso. Juntava as duas metades, após retirar os bombons e mordia as duas pontas juntas. E ela fez...Então seu grito ecoou pelo quarto. O sangue escorria de sua boca. Eram agulhas, diversas agulhas estavam cravadas em sua gengiva, na língua e entre os dentes. Eram agulhas quebradas ao meio e o ovo estava repleto delas. algumas entraram por completo na carne restando apenas somente uma pequena ponta visível.
Corremos para o hospital para retirar da boca de Anne algumas agulhas que enfiaram-se por completo. A policia foi avisada, mas não encontraram a barraca onde eu havia comprado o presente de Anne.
Ao chegarmos em casa tratamos de jogar aquela atrocidade fora, uma maldita brincadeira de mal gosto foi o que fizeram. Maldita mulher, maldito momento em que fui comprar aquele ovo de chocolate.
Esse não é o fim. Sobrara algo sobre a cama que Anne havia separado e não fora para o lixo. Era o "bombom especial". A curiosidade tomou conta de nós e resolvemos abrir aquele envolucro tão curioso. Sabíamos que não seria algo bom, mas a curiosidade era irresistível. E o que vimos superou tudo o que imaginávamos.
Ao abrir o laminado verde que encobria bombom deparamos com a cabeça de um grande rato negro, já umedecido pela decomposição, entre os seus olhos atravessava uma agulha de lado a lado perfurando os dois simultaneamente. Era uma visão absurdamente repugnante. Ao lado havia um pequeno pedaço de papel onde estava escrito.
VOCÊ TEM UM ANO - FELIZ PÁSCOA :)
Hoje faz um ano e dois dias que Anne mordeu o maldito chocolate. Ela sofreu como eu nunca achei que veria alguém sofrer. Seus cabelos caíram, emagreceu tanto que suas costelas destacavam-se na roupa, sua pele...Sua pele...Deus, sua pele envelheceu. Os médicos alegaram um caso raro de câncer. Eu aceitei, mas sei que não foi isso, sei que eu a matei. Eu dei-lhe um Ovo de Páscoa amaldiçoado. Não sei exatamente o que era aquilo, nem posso definir de onde veio e o porquê de existir. Mas isso matou a minha delicada Ann...
Escrevo para alertar, isso aconteceu comigo, e não quero que aconteça com você, portanto.
É melhor você não abrir seu ovo esse ano.
VOCÊ ESTÁ LENDO
100 Contos de Terror
HorrorApresento-vos 100 Contos de Terror/Lendas. As mais assustadoras e macabras histórias já escritas. Elas podem ser fictícias ou reais. Alguns contos serão de minha autoria, outros não, as que não forem deixarei os créditos no próprio capitulo (se...