Bárbara
Depois de dar o maior fora nele - que foi uma das coisas mais difíceis que já fiz - ele foi embora. Respirei fundo e entrei em casa, encontrei Josi e Gis. Montando o pinheirinho de natal e meus pés criaram raízes no chão.
Senti meus olhos marejarem e minha mente foi invadida com lembranças de um natal dezoito anos antes, em minha antiga casa no Rio grande do Sul, Gis. e mamãe montavam alegremente a grande árvore de natal enquanto Josi e eu brincávamos no chão da sala. Podíamos ouvir de onde estávamos o som das risadas de Jonas Pai da Josi e Rodrigo meu pai, enquanto faziam churrasco e tomavam chimarrão na varanda. Aquele foi o último natal com todos reunidos, no ano seguinte exatamente no dia dois de junho, mamãe me deixou na casa da Josi e disse que logo voltaria, mas ela nunca mais voltou.
Deixando apenas uma carta para papai dizendo que iria embora e que não deveríamos procura-la, naquela época Josi e Gisele foram meus portos seguros, já que papai estava desolado, ele era perdidamente apaixonado por minha mãe. Dois anos após a partida de minha mãe, o pai de Josi veio a falecer, foi câncer no pulmão; o que deixou aquela família ainda mais unida uma na outra, o lado bom nisso foi que Gisele acabou parando de fumar.
Quando completei dezesseis anos Josi e Gisele que se foram para longe de mim, morar na tal Ilha da magia, aos vinte meu pai se foi, infarto me deixando completamente sozinha. Bem, não exatamente já que agora aqui estou eu parada igual um dois de paus com o cabelo revirado do vento que peguei na vinda para cá, dispensei um gato, estava de ressaca e morrendo de saudades do meu pai. E lembrar-se daquele natal há 18 anos não estava sendo nada bom para mim já sensível, cai de joelhos e comecei a chorar. Ambas vieram correndo na minha direção.
— Biiiiii o que houve? O Edu te fez alguma coisa? Me conta que eu vou dar uns tabefes naquela cara dele. — Perguntou Josi furiosa, aquilo quase me fez rir.
— Não, não ele não fez nada é só... — Não consegui proferir as palavras, a cicatriz que eu tinha no peito desde os seis anos de idade começou a sangrar novamente era sempre assim nessa época do ano.
— EU MATO O EDUARDO! Ele só deve ter aprontado alguma e...
— Cala a boca guria e vai buscar uma água com açúcar pra ela. — Gisele fuzilou a Josi com o olhar, Josi correu para a cozinha e Gis. me puxou pela mão e me fez sentar no sofá. — Vem cá minha menina, é por causa do natal, não é? — Gisele como sempre me conhecia como ninguém.
— Sim eu me lembrei dela e senti saudades do papai. — As lágrimas não cessavam Gis. pediu que eu deitasse a cabeça no seu colo e ficou me fazendo cafuné.
— Vai ficar tudo bem minha menina, também me lembro dela todo o natal, afinal como você e a Josi, eu e ela também éramos amigas de infância.
— Porque ela não me amava Gis? Por que ela nos deixou?
— Shhh, ela amava vocês. Tenho certeza que deve ter um bom motivo pra ela ter ido embora.
— Não creio nisso. — Falei secando as lágrimas e me sentando. — Quando ela resolveu ir embora fez uma escolha, escolheu ser livre, tem mulheres que não nasceram para ser mãe.
— Não fala assim Bárb ela amava vocês eu via isso no olhar dela, nos gestos e atitudes. — Ela me encarou carinhosamente.
— Então porque ela foi embora? Porque nos deixou? Isso não faz o menor sentido Gis. Acho que tu não a conhecia tanto quanto pensa.
— Queria poder responder essas suas perguntas Bárb. Como eu queria. — Disse pensativa.
— Está aqui a água Bi. — Chegou a Josi toda estabanada.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Tentação - Edição 2 - DEGUSTAÇÃO
RomanceBárbara era uma mulher reservada, com medo de se entregar ao amor, já que sempre que se entregava a esse sentimento, acabava magoada e triste. O que Bárbara não esperava ao ir passar o verão na casa da sua amiga é que conheceria um homem determinado...