01 - Brasa e Carvão

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O que você pensa sobre amor à primeira vista?

Eu não pensava nisso. Até porque uma garota como eu não tinha a mínima necessidade de pensar em algo assim, em amor. Afinal, o que raios é amor?

Bem, tudo se dissolveu no momento em coloquei meus olhos em Rocky.

Richard Kim , conhecido como Rocky, era o cara mais bonito que eu já havia visto. E como se isso não bastasse, ele tinha todo aquele charme, aquelas tatuagens que cobriam boa parte do seu corpo, tatuagens que contavam sua história.

Não é de se estranhar que eu me sentisse atraída por ele, mas atração e paixão são coisas de fato diferentes.

A minha história de amor na juventude foi bem conturbada, até porque uma jovem delinquente que vivia bebendo e cometendo altas loucuras na companhia dos amigos não podia ser mais conturbada e clichê.

Mas lá estava eu, Abigail Winchester, estudante de artes. Uma garota que escolheu um curso relativamente fácil, que combinava com seu estilo e com seu passatempo de desenhar.

Mas o grande problema em toda esta história não é Rocky em si, ou minha personalidade, o problema nesta história toda é como o amor é um tremendo de um desgraçado de merda.

Mas para conhecer Rocky, mesmo que apenas uma parcela dele, é necessário enfrentar e tentar conhecer o amor, porque Rocky e o amor andavam de mãos dadas, mesmo que não parecesse.

O amor à primeira vista não é o tipo de coisa que se espera que aconteça com você, ou talvez seja. No meu caso o amor não era necessário, eu não ligava para o fato de ter ou não um namorado, talvez por andar apenas com caras e não com garotas que falavam disso o tempo todo.

Os caras eram sempre mais legais aos meus olhos, Quentin e Owei eram os caras mais legais de toda a universidade, e logo me tornei amiga deles, fazendo parte de suas aventuras malucas e buscas por um motivo de viver.

Os caras com quem eu andava gostavam de filosofia, rap, cigarros e de uma boa dose de vodka. Claro que gostavam de peitos e de garotas, mas desde que estivessem pensando em coisas fora do convencional, tivessem seus maços de cigarros para o dia e sua dose de vodka à noite, nada além de comida e água era necessário, e banheiro, Owei ia ao banheiro o tempo todo.

Então eles não eram um bando de babacas que iam para festas apenas procurar algumas garotas para beijar ou passar as noites. Claro que de vez em quando eles tinham algumas garotas para isso, mas eles iam para festas exclusivamente para ferrar com os organizadores da mesma.

"O fim das mentes pequenas começa aqui!", dizia Quentin.

Eles estavam sempre tentando fazer as pessoas usarem o cérebro, uma coisa que eu concordava, então quando, do nada, os dois vieram me perguntar sobre a guerra do Vietnã e minhas teorias sobre a mesma, eu decidi que eles seriam meus companheiros.

Eles me explicaram que sua missão na Terra tinha que ser "A Nova Missão de Sócrates" (esse era o nome que Owei deu) que consiste em falar com as pessoas e criar diálogos que façam com que questionem as próprias opiniões, e claro, nunca admitir ser um gênio.

"Cara, eu sou um gênio." Owei disse uma vez, o que fez com que Quentin lhe desse um tapa bem dado.
"VERGONHA PARA SÓCRATES!" Quentin berrou. E tudo isso nas primeiras duas horas desde que havíamos nos conhecido.

O estilo de vida dos caras era bem legal, e ouvir rap no velho Mustang de Quentin enquanto dirigia pela estrada em direção ao Chip's (o melhor restaurante do mundo) fazia parte da rotina.

Então em um dia comum na universidade, estávamos Quentin, Owei e eu sentados dentro do carro de Quentin, com o rádio ligado e o rap tocando, enquanto nossas cabeças balançavam para frente e para trás ao ritmo da música, as feições de aprovação.

Quentin estava com o cigarro aceso, mas apenas de vez em quando tragava, Owei estava tão focado na música que sequer pegara um cigarro, enquanto eu fumava meu segundo cigarro do dia. Ele estava aceso, pendendo de meus lábios.

Eu estava sentindo a música, quando alguém bateu na lataria do carro, fazendo tanto eu quanto os caras darem um pulo.

"Mas que porra Rocky!" Quentin exclamou com o susto. Coloquei a cabeça para fora do carro, querendo ver quem estava rindo do lado de fora. Claramente era alguém que Quentin conhecia, mas Quentin conhecia o campus todo.

Olhei para aquele ser humano que ria, pretendia chamá-lo de babaca ou qualquer coisa do tipo, o xingamento já estava na ponta da minha língua. Mas no exato momento em que ele olhou em minha direção, ainda sorrindo, todos os xingamentos sumiram de minha cabeça, assim como qualquer pensamento coerente.

Até aquele exato momento eu não acreditava em amor à primeira vista, mas assim que meus olhos bateram em Rocky, eu percebi que nunca estive tão equivocada. O amor à primeira vista existia, e ele usava uma camisa branca, jeans surrados, brincos, e era tatuado. Rocky, como era conhecido no campus (e provavelmente por onde passasse) era apenas um nome para mim, apenas alguém que todos conheciam, até aquele exato momento.

O garoto que tinha traços claramente asiáticos era a personificação do amor. Para mim o significado de amor passou de nada para Rocky.

Ele olhou diretamente para o cigarro que pendia de meus lábios, e voltou a olhar para Quentin. Em questão de segundos, talvez menos, eu tinha me apaixonado.

Rocky se virou para Quentin, ignorando completamente minha existência.

"Tem cigarros?" Perguntou. Quentin resmungou e tirou o maço de cigarros do bolso da frente do jeans, então tirou um cigarro do maço e estendeu para Rocky, que agradeceu.

Os olhos de Quentin então pousaram em mim, sua expressão era um misto de surpresa e dúvida, o que me fez desviar o rosto. Rocky pediu um isqueiro para Quentin, que pegou o vermelhão (era esse o nome do isqueiro) de Owei, que reclamou.

Rocky agradeceu e acendeu seu cigarro, devolvendo o vermelhão para Quentin e tragando o mesmo. Ele então caminhou até a janela esquerda do banco do passageiro, a janela em que eu estava bem ao lado. Ele me encarou com olhos críticos, e voltou a olhar para Quentin.

"Quem é ela?" Rocky perguntou.

Quentin coçou a nuca antes de responder: "Abby." Rocky ergueu as sobrancelhas, então sorriu para mim.

"Bem, boa sorte com esses filhos da puta malucos" Quentin o encarou com reprovação, enquanto ele ria. "Eu apenas queria um cigarro, então já vou indo. Boa sorte, Abby."

E foi naquele dia em que eu descobri que Rocky havia mudado todo o meu conceito de amor, e isso ficou bem claro quando Quentin e Owei me encaram assim que Rocky se afastou, mas meus olhos ainda estavam nele.

O jeito de andar despojado, o jeans surrado, a camisa branca, o conjunto de brincos, pulseiras e o colar, as tatuagens diversas que provavelmente contavam sua história. Tudo aquilo era mais que apaixonante, porque Rocky parecia ser quente como uma brasa, quente, mas aconchegante e ao mesmo tempo, perigoso. Uma brasa é capaz de colocar fogo em um prédio se não for contida.

E bem, eu descobriria que ele era a brasa, e eu, o carvão.

Rocky (Série Bad Guys)Onde histórias criam vida. Descubra agora