O expediente no Chip's acabou por volta das sete da noite, e quando fizemos hambúrgueres e batatas para todos os estudantes que trabalharam conosco, a placa na porta estava virada, indicando que o estabelecimento estava de fechado, mas vinte jovens rindo, comendo e bebendo dentro do local indicava o contrário.
Minha roupa estava toda engordurada, assim como a minha pele, meus cabelos estavam um emaranhado presos em um rabo de cavalo, Quentin estava com o braço ao redor dos meus ombros, rindo do discurso de Brandon Jackson, um magricela de óculos fundo de garrafa que era uma comédia.
Estavam todos rindo, e muitos não entendiam porque tinham trabalhado o dia todo no Chip's, e eu era uma dessas pessoas.
"Certo galera." Rocky falou alto, indo para o meio do estabelecimento, e chamando a atenção de todos, abraçado com Stella. "Muitos de vocês devem estar se perguntando o motivo de terem trabalhado aqui hoje, bem, eu agradeço a colaboração de todos."
Uma salva de palmas e assobios interromperam Rocky, que não parava de sorrir. Ele segurava a cintura de Stella, que mantinha seu corpo junto ao dele, me segurei para não revirar os olhos e dar uma ânsia de vômito.
"O dono do restaurante estava pensando em fechar as portas." Rocky falou, fazendo todos começarem a cochichar. "O velho Chip está cansado, mas hoje provamos para ele que esse restaurante precisa continuar de pé. Ele me ligou e bem, o Chip's continua vivo, graças a vocês. Então comemorem, a noite é nossa!"
Palmas, gritos e assobios ecoaram pelo local, Quentin até mesmo me deu um beijo no rosto. Estavam todos felizes, estava tudo ótimo. Mas cena de Rocky beijando Stella fez algo dentro de mim se quebrar. Eu pude ouvir o som de algo se partindo.
"Acho que vou indo nessa." Falei para Quentin.
"Mas já?" Ele perguntou, surpreso.
"É. Eu vou ver Tommy de manhã." Dei de ombros.
"Beleza então. Quer uma carona?" Ofereceu.
"Não, ainda está cedo, vou andar um pouco."
"Se cuida, Abby."
Ele piscou para mim e se afastou.
Caminhei até a porta do Chip's, pronta para sair de lá, mas Helen me alcançou antes, sorrindo.
"Eu só queria agradecer por mais cedo." Agradeceu, sorrindo.
"Ah, não foi nada. Relaxe Helen, eu apenas não acho legal uma garota como você ficar presa nessa. Sabe, ele tem namorada, acho que você precisa seguir em frente." Falei.
"É. Obrigada Abby, de verdade. A gente se vê."
Ela então se afastou, acenando. Abri a porta do Chip's, sentindo o ar da noite bater em meu rosto. Caminhei até o outro lado da rua, pegando meu celular e discando o número de minha mãe.
"Alô?"
"Ah, oi mãe. Sou eu, Abby." Falei.
"Ah, Abby. Querida, como vai?" Ela perguntou.
"Bem. Olha... Tem como me buscar no Chip's? Estava pensando em passar um tempo com o Tommy?"
"Agora?"
"É, se não for uma hora ruim."
"Seu irmão está na casa de um amigo."
"Ah, tudo bem então. Amanhã eu vou levá-lo ao parque, como estava combinado."
"Tudo bem querida. Se cuide."
"Certo, mãe."
Ela encerrou a ligação, e eu olhei para o céu coberto por nuvens. Eu era uma filha e uma irmã terrível, da pior possível. Estava tentando me redimir, mas minha família estava bem melhor sem mim.
Olhei para a minha tatuagem em meu pulso. Eu sou.
"Eu sou uma pessoa de merda." Falei em voz alta.
Aquela tatuagem sempre me fazia lembrar de quem eu era, então eu sempre completava a frase, por esse motivo eu tinha a feito. Eu precisava estar sempre lembrando a mim mesma de quem eu era.
"Todos nós somos pessoas de merda." Rocky falou, ficando ao meu lado, tragando um cigarro.
"Está aqui há quanto tempo?" Perguntei.
"Há tempo o suficiente para ouvir você falando com a sua mãe." Ele respondeu.
"Ok." Falei.
"Problemas familiares?" Ele perguntou.
"Eu não preciso dizer." Respondi.
Olhei para o Chip's do outro lado da rua, com todas aquelas pessoas rindo, comendo e bebendo.
"Tudo bem, seja durona, se é isso o que você quer." Falou.
"Pare de me encher o saco." Esbravejei.
Ele riu.
"Não vai me afastar se for uma vadia, Abby."
Revirei os olhos.
"Não estou tentando te afastar ou te aproximar, eu apenas conheço você." Falei.
"Não quer ter um amigo?"
"Você quer?"
"Mas é claro. Eu estou aqui, conversando com você, fizemos tatuagens iguais e você ainda duvida?"
Fiquei quieta. Eu não queria ser amiga de Rocky. Eu não queria me aproximar dele, porque tinha sentimentos por ele, e odiava sentir aquela coisa patética chamada paixão. Eu não queria me aproximar de Rocky, eu não queria sentir mais do que já sentia.
"Certo." Falou, afastando o cigarro dos lábios. "O problema é seu, porque eu sou chato e insistente para um caralho."
Segurei um sorriso e peguei o cigarro da mão dele, dando uma tragada e soltando a fumaça pela boca. De início eu sequer percebi que tinha acabado de tocar meus lábios onde os lábios de Rocky estavam segundos antes. Estava morno, como os lábios dele.
"Certo, acabei de perder meu cigarro." Falou, rindo. "Bem, isso que dá ser amigo de uma fumante compulsiva."
"Como diria Alasca Young, uma das personagens mais memoráveis de John Green: 'Vocês fumam para saborear, eu fumo para morrer'."
"Então você quer morrer?"
"Eu não quero mais viver, mas eu tenho um medo irracional de morrer." Contei.
"Acho que esse seu pensamento está na cabeça de muita gente..." Falou, colocando as mãos nos bolsos do jeans.
"É." Concordei. "Mas eu acho que você tem que voltar para a festa e para a sua namorada. Ela pode não ser ciumenta, mas com certeza não vai gostar disso."
"Stella e eu não estamos muito bem." Falou, olhando para os próprios pés.
"Vocês pareciam extremamente apaixonados há uns minutos atrás." Falei.
"Bem, eu tento fingir que não tem nada de errado, mas tem. E eu preciso descobrir o que é." Ele disse, determinado.
Então balançou a cabeça negativamente, dando um sorriso de lado.
"Não importa. Eu não quero entrar agora."
Rocky estava tentando se abrir comigo e se esconder comigo, e eu não sabia se aquilo era algo bom ou ruim.
"Quer dar um volta?" Perguntei.
Ele assentiu com um gesto de cabeça.
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Rocky (Série Bad Guys)
DragostePorque conhecer Rocky completamente era tão impossível quanto conhecer o oceano por completo.