Rocky esperava que eu entrasse no carro, para ser sincera, eu também esperava. Mas eu fiquei parada, olhando para a porta e para mim. E se eu entrasse no carro e ficasse daquele jeito para sempre? E se eu entrasse no carro e jamais deixasse de ser a Abby patética que estava sendo?
Dei um passo para trás, recuando.
Eu estava com medo de me odiar mais do que já me odiava, assim como estava com medo de odiar Rocky por me fazer escolher o lado errado. Dei mais alguns passos para trás, mas parei assim que senti algo entrar no meu pé.
Um grito agudo ecoou pela rua, e só quando senti o líquido viscoso e quente debaixo de meu pé percebi que tinha sido meu. Eu tinha pisado em algo pontiagudo, e tinha cortado o pé. Provavelmente um caco de vidro, que provavelmente estava alojado no meu calcanhar.
Assustado com meu grito, Rocky desceu do carro, indo até onde eu estava.
Fiquei apoiada na minha perna esquerda, mesmo sendo destra, já que meu pé machucado era o direito. Eu estava cada vez mais odiando aquela noite. Ergui minha perna, mas não estava com um equilíbrio muito bem, comecei a cambalear para o lado, e por sorte Rocky segurou meu braço, me fazendo manter o equilíbrio.
"O que houve?" Ele perguntou, preocupado.
"Merda!" Xinguei. "Acho que pisei em um caco de vidro."
"Agora você vai ter que entrar no carro." Ele disse, me ajudando a andar até o carro.
Revirei os olhos e me apoiei no carro enquanto ele abria a porta, ele se ofereceu para me me ajudar a entrar, mas eu afastei sua mão, entrando sozinha e jogando minha sandália no chão. Fechei a porta e cruzei os braços, sentindo meu pé doer como o inferno e o sangue escorrer pelo ferimento.
Bufando, ele contornou o carro e entrou no mesmo, fechando a porta e dando partida.
Eu estava brava com ele, brava por existir, por fazer com que eu me sentisse daquele jeito, brava por me obrigar a entrar no carro quando eu estava pronta para sair correndo e escolher a mim mesma.
Claro que ao escolher a mim mesma eu estava sendo covarde, covarde porque eu tinha medo de me ferrar no final do caminho, covarde porque eu tinha medo de seguir o caminho do amor, o caminho de Rocky.
Fiquei olhando para frente, sem dizer uma palavra. Ele sequer ligou o rádio, e o silêncio se seguiu até eu perceber que ele não estava pegando a rota que levava até o meu apartamento.
"Me deixe em casa." Falei.
"Uhum." Ele concordou, sarcástico.
"Porra Rocky, eu estou falando sério."
"Grande merda, Abby."
Fiquei quieta. Eu não queria ir para onde quer que ele estivesse me levando, naquele momento eu apenas queria ficar longe dele.
"Pare de agir como uma garotinha." Ele resmungou.
"Olha quem fala, seu garoto mimado!" Gritei. "Terminou com a namorada? Ótimo! Agora cresça e encare a vida, Rocky. A porra do amor só nos fode, Stella não ia ficar com você para sempre! Agora pare de agir como um babaca escroto filho da puta e encare a realidade!"
Notei que tinha exagerado quando o vi travar o maxilar. Aquele era um assunto delicado, e eu sabia disso melhor do que ninguém. Me arrependi de ter dito o que disse, mas apenas estava sufocada, eu precisava colocar para fora.
Ele não disse nada, apenas continuou dirigindo. A tensão entre nós era quase palpável, e eu temi pela nossa amizade, temi por tudo o que tínhamos construído.
Abaixei a cabeça, cobrindo o rosto com as mãos, não conseguindo segurar duas malditas lágrimas. Eu tentaria me manter forte até o final, tentaria disfarçar o furacão dentro de mim até o final, mas às vezes parecia impossível.
"Apenas... apenas me leve para casa." Pedi, com a voz chorosa.
Eu odiava ser fraca, odiava.
"Não." Ele respondeu. "Porra Abby, como vou te deixar sozinha desse jeito, hm?"
"Eu apenas quero ficar sozinha!" Pedi, sentindo o tom da minha voz aumentar. "É só um maldito corte no pé, caralho! Eu posso fazer um curativo nessa merda."
"Não me interessa. Você não pode ficar sozinha, não hoje."
"E a sua presença irá melhorar muita coisa, não é mesmo?" Eu estava sendo sarcástica e extremamente irritante.
Ele virou o volante bruscamente, jogando o carro para o acostamento, me assustando. Ele parou o carro e bateu no volante, estava tão irritado quanto eu, tinha um furacão dentro de si, assim como tinha um furacão dentro de mim.
"Mas que droga!" Ele gritou. "Não está vendo que estou tentando não ser um babaca inútil?! Não está vendo que estou tentando?!"
Ele passou as mãos pelo rosto, irritado, frustrado, magoado consigo mesmo.
"Não está vendo que estou tentando ajudar a minha melhor amiga?! Mas que porra Abby, caralho! Por que você tem que ser tão difícil?! Por que você tem que dificultar tanto a porra das coisas?!"
"Eu não pedi para tentar me ajudar! Caralho, se é tão fodidamente incômodo para você, me deixe em casa e finja que eu não existo a partir de hoje!" Gritei.
As lágrimas escorriam por meus olhos, minha raiva refletia na expressão assustada de Rocky. Tínhamos passado dos limites, eu mais do que ele.
Ele saiu do carro, e eu comecei a chorar.
Chorei amargamente, como não chorava desde a adolescência, ou talvez, antes. Chorei e chorei, querendo tanto desaparecer. A dor em meu peito era três vezes pior que a dor em meu pé, e eu apenas queria voltar no tempo e impedir aquele furacão de emoções que se agitava e me destruía por dentro.
Rocky voltou para o carro alguns minutos depois, cheirava a cigarro e sabia que tinha fumado. Ele deu partida e dirigiu até a sua casa. Me ajudou a sair do carro sem trocar uma única palavra comigo.
Ele abriu a porta da casa pequena e me ajudou a sentar no sofá da sala. Tirou a jaqueta, jogando-a em um canto qualquer, trancou a porta e sumiu no interior da casa.
Voltou um tempo depois com uma bolsa em mãos e uma bacia de água. Colocou a bacia no chão e aos poucos abaixou meu pé, até ele encostar na água. Mordi o lábio inferior para não gritar por conta da ardência.
Ele então passou um algodão embebido em álcool no ferimento, me fazendo urrar de dor. E depois, com cuidado e utilizando uma pinça, removeu o caco de vidro. Doeu como o inferno, e o jato de álcool e antisséptico que vieram depois também. Ele então colocou algodão na ferida e começou a enrolar uma faixa ao redor do meu pé.
Ele então se certificou de que o algodão ficaria parado e colou com fita as pontas bem apertadas da faixa.
"Valeu." Agradeci, baixinho.
"Eu sei que tenho sido um babaca, mas você pegou pesado hoje." Falou.
"Eu sei. Eu fui uma vadia. Me desculpe." Eu disse, olhando para qualquer outra direção que não fosse sua direção.
"É, você foi. Mas eu também vacilei, então, me desculpe também."
"Nós dois fomos uns filhos da puta."
Ele deu uma risada fraca.
"É, nós fomos."
Rocky então se afastou, e eu apenas queria que ele voltasse.
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Rocky (Série Bad Guys)
RomancePorque conhecer Rocky completamente era tão impossível quanto conhecer o oceano por completo.