O lápis corria pela folha, traçando linhas fortes e decididas, linhas que mostravam minha frustração e raiva.
Mordi a ponta do mesmo, afastando-o da folha, enquanto observava as linhas escuras marcando firmemente os traços da Índia tatuada no braço de Rocky.
Suspirei pesadamente, procurando pela minha desorganizada mesa meu maço de cigarros.
Procurei no meio de todos aqueles papéis que tinha arrancado do caderno e amassado. Todos esboços de Rocky, tentativas falhas de desenhar a imagem que tinha em mente.
Acabei achando o maço de cigarros mais próximo do que imaginava, bem ao lado do caderno. Fiquei frustrada por não ter achado o maço bem na minha cara, e o joguei no chão.
Berrei e pisei no maço de cigarros, gritando com ele e o xingando, perdendo totalmente a sanidade. Eu estava gritando com um objeto inanimado, que não tinha vida, estava gritando com ele como se fosse o maldito amor, como se fosse Rocky.
Gritei e xinguei aquele maço de cigarros tudo que queria dizer a Rocky, porque ele estava ferrando toda a minha vida.
Eu me pegava pensando nele com frequência, ficava distraída com facilidade, olhava para minha tatuagem e dava um idiota sorriso. Eu estava sendo patética, tinha me tornado o que mais temia me tornar, o que eu jurei não ser por não precisar ser: uma garota totalmente, absolutamente e completamente apaixonada.
Alicia bateu na porta do meu quarto, perguntando se estava tudo bem. Olhei para mim mesma no espelho, tendo a plena certeza de que não estava bem.
Eu odiava sentimentos conflitantes, eu odiava tudo aquilo que estava sentindo.
Olhei para o maço de cigarros no chão, eu precisava de outro.
Então, às duas da manhã, eu peguei alguns dólares, enfiei no fundo do bolso do meu jeans, coloquei um casaco de moletom e saí do quarto, vendo uma Alicia confusa.
Eu precisava de cigarros, e o melhor lugar para comprar cigarros às duas da manhã era a velha loja do Benson.
Benson era um velho solitário que mantinha sua loja aberta vinte quatro horas por dia. Durante a tarde, Duncan, um adolescente cheio de acne trabalhava na loja, de vez em quando Kelly, a única filha de Benson, ajudava o pai.
Mas Benson atendia a noite toda, os olhos sempre focados na pequena televisão suspensa, assistindo a programação da madrugada.
Por vezes me flagrei com pena dele ou tentando imaginar como foi sua juventude.
Então quando desci as escadas e pisei fora do apartamento, andei os poucos metros necessários para chegar até a loja do velho.
Conforme andava pela calçada, coloquei o capuz, andando em linha reta, pisando no meio fio, lembrando de quando eu era pequena e adorava me equilibrar ali conforme andava pela rua.
Entrei na loja de Benson, atraindo brevemente o olhar do senhor. Olhei ao redor e vi um homem usando uma jaqueta de couro preta no final da mesma, estava olhando algumas revistas.
Dei de ombros e caminhei até o caixa, pedindo para Benson um maço de cigarros Marlboro Lights (N/A: referências). Benson me entregou o maço e eu peguei as notas do meu bolso, pagando uns bons cinco dólares por ele.
Saí do estabelecimento dando um "tchau" para Benson e logo tratei de pegar um cigarro, logo em seguida praguejando por ter deixado o isqueiro em casa.
Eu poderia muito bem voltar para casa, mas: a) Alicia odiava o cheiro do cigarro b) ela odiava me ver fumando em casa c) eu não queria ir para casa tão cedo e ver os esboços dos desenhos que fizera de Rocky.
Sentei no meio fio, chateada e querendo fumar. Olhei para a rua morta, ciente de que não deveria estar sozinha na rua àquela hora, de que deveria estar dormindo para estar descansada no dia seguinte.
Suspirei pesadamente e joguei o capuz para trás, passando as mãos pelos cabelos, irritada comigo mesma.
A que estado eu tinha chegado?
"Aqui." Alguém falou, balançando um objeto acima de minha cabeça.
Olhei para cima, vendo o homem do casaco de couro segurando um isqueiro. Ele tinha uma das mãos enfiadas no fundo do bolso da calça preta, era estiloso e pude ver uma tatuagem em seu pescoço.
Ergui as sobrancelhas, aceitando o isqueiro e rapidamente acendendo meu cigarro. Devolvi o isqueiro para ele e traguei o cigarro com certo desespero.
Dei uma tragada tão profunda, que achei que queimaria tudo de uma vez. Mas não aconteceu.
Assim que a nicotina entrou em contato com o meu organismo, me senti mais calma, soprando a fumaça pela boca para cima, vendo-a subir pelo céu estrelado.
Fechei os olhos, tentando ficar relaxada. Então o cara sentou ao meu lado, olhando para o céu.
"Você não fuma?" Perguntei.
"Sim." Ele respondeu. "Mas estou tentando parar. Fumo apenas alguns cigarros por dia, tenho a minha cota."
"Ah." Foi tudo o que eu disse.
"O que uma garota como você faz a essa hora na rua?" Ele perguntou, ainda olhando para o céu.
"Eu precisava de cigarros." Respondi de forma seca, dando de ombros.
"Mas é claro que precisava. Mas analisando você, parece ser universitária, não deveria estar dormindo a uma hora dessas?" Perguntou, erguendo as sobrancelhas.
Só então notei seus traços. Ele até que me lembrava Rocky, mas naquele momento, tudo me lembrava Rocky.
Dei outra tragada no cigarro, percebendo então que o cara me encarava.
"O que foi?" Perguntei, grossa.
"Desculpe. Estava apenas te observando, tentando entender toda essa carranca." Falou divertido.
Dei um leve sorriso. Eu estava puta com a vida, não com ele.
"Tá. Foi mal, eu sou um pouco mal-humorada." Expliquei.
"É, isso é bem visível."
"De qualquer forma, estou indo." Falei, ficando de pé e batendo o pó que estava no meu jeans. "Valeu pelo isqueiro."
"Ah, disponha." Ele respondeu, dando de ombros.
Comecei a andar pela calçada pronta para voltar para o meu prédio. Pensei que se Alicia reclamasse por eu fumar no apartamento eu mandaria ela ir para a merda, mas parei no meio do caminho ao ouvir o cara me chamar.
"Ei, quer beber alguma coisa?" Ele perguntou, me alcançando.
"Bem, eu tenho algumas coisas no meu apartamento..." Falei, tragando o cigarro.
"No seu apartamento? Está convidando um cara estranho para ir até o seu apartamento às duas da manhã?" Ele brincou, rindo.
"Estou." Respondi, dando de ombros. "Mas você decide se vem ou não."
Sem olhar para trás, comecei a andar em direção ao meu prédio.
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Rocky (Série Bad Guys)
Любовные романыPorque conhecer Rocky completamente era tão impossível quanto conhecer o oceano por completo.